"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O legado da Mesopotâmia

Estandarte de Ur, um grande painel de cerca de 2500 a.C., feito em materiais variados, como marfim, mármore e conchas. Podemos ver um desfile militar, com soldados e carros de combate.

[...] De uma ou de outra das quatro nações mesopotâmicas (sumérios, amoritas, assírios, caldeus), deriva um apreciável número de elementos culturais modernos:

O ano de 12 meses e a semana de 7 dias, os 12 números dos nossos relógios, correspondentes à divisão caldéia do dia em 12 horas duplas; a crença em horóscopos; a superstição de fazer o plantio de acordo com as fases da lua; os 12 signos do zodíaco; o círculo de 360 graus; o processo da multiplicação.

Os povos da Mesopotâmia exerceram influência mais significativa em várias nações da antiguidade. Os hititas, que ajudaram os cassitas na destruição dos babilônios, adotaram as tabuinhas de argila, a escrita cuneiforme, a narrativa épica Gilgamesh (história dos notáveis feitos de um aventureiro sobrenatural, semelhante ao Hércules grego) e muito da religião do povo que conquistaram.

A religião mesopotâmica influenciou os fenícios, como se verifica pela adoração de Astartéia (Ishtar) e de Tamuz. Os persas foram profundamente influenciados pela cultura babilônica e assíria. Com exceção da religião, os persas foram continuadores da civilização mesopotâmica, da qual tomaram a escrita cuneiforme, as artes e a organização militar. Assim, por exemplo, os palácios persas estavam construídos, como os da Mesopotâmia, sobre enormes plataformas de 10 a 15 metros de altura. A ornamentação inspirou-se nos assírios: frisos de pedra com relevos, ou frisos de tijolos esmaltados e coloridos, em cuja execução os persas superaram seus mestres de Nínive.

Os cananeus herdaram, dos sumérios ou dos amoritas, grande parte do seu direito e também muitas das suas crenças religiosas.

Também os hebreus são, em certos aspectos, herdeiros da cultura mesopotâmica. Provavelmente, um dos seus patriarcas, Abraão (por volta de 1900 a.C.), viveu algum tempo em Ur, cidade do Eufrates, na Baixa Mesopotâmia. Muitos traços mesopotâmicos foram também adquiridos, indiretamente, através do contato com cananeus e fenícios. Foi assim, possivelmente, que os hebreus adotaram as lendas da Criação e do Dilúvio, e um sistema de Direito - derivados da civilização mesopotâmica.

Maior influência foi exercida durante o período do Cativeiro, de 587 a 539 a.C. Durante esses anos, os judeus foram introduzidos, pela primeira vez, direta e intimamente, na vida de uma nação rica e poderosa. A despeito do ódio aos seus opressores, os hebreus adotaram, talvez inconscientemente, muitos dos seus costumes. O calendário judaico, por exemplo, é de origem babilônica. Além disso [...] muita coisa do simbolismo, pessimismo e demonologia dos caldeus passou para a religião de Judá, corrompendo-a grandemente.

As crenças e instituições mesopotâmicas também exerceram sua influência, embora indiretamente, sobre os gregos e romanos. A filosofia estóica, com suas doutrinas do determinismo e do pessimismo, deve ser, em parte, reflexo dessa influência, pois que seu criador, Zenão, era semita, provavelmente um fenício.

Melhor exemplo de uma origem mesopotâmica será encontrado, talvez, em práticas romanas como a adivinhação, a adoração dos planetas como deuses, e o uso do arco e da abóboda. Muitos desses elementos foram introduzidos, entre os romanos, pelos etruscos, povo de origem asiática ocidental. Outros foram trazidos pelos próprios romanos, em consequência das suas campanhas militares na Ásia Menor.

Finalmente, há a considerar a influência mesopotâmica (como integrante do fator oriental), exercida indiretamente, através da Grécia - sobretudo no período helenístico.

BECKER, Idel. Pequena História da Civilização Ocidental. São Paulo: Nacional, 1974. p. 60-62.

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