"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Mitologia grega

Hermes e Atena, artista desconhecido. Afresco.

Os gregos atribuíam aos deuses, e aos heróis, costumes semelhantes aos dos homens: parentescos, casamentos, lutas, alianças, aventuras. Os relatos desses mitos (fábulas) constituem a mitologia. [...]

* Mito sobre a origem e criação do mundo. (Redação atribuída a Hesíodo, séc. VII a.C.). No começo tudo se achava em estado de caos. Da união do Caos com Gea (a Terra) nasceram Urano (o céu) e Ponto (o mar). De Gea e Urano nasceram poderosos Titãs (gigantes) e os Cíclopes. Temendo que os filhos lhe tirassem o poder, Urano encerrou-os num profundo abismo, sob a terra; mas um deles, Cronos (o tempo), libertou-os, destronou o pai e se tornou o dono do mundo. Cronos, por sua vez, foi destronado pelo seu filho Zeus. Este lutou contra os Titãs, venceu-os e se converteu no indiscutível soberano do universo, ao qual dá harmonia e paz.

Olympus, Luigi Sabatelli

* Mito sobre a origem dos homens. O primeiro homem - Epimeteu - foi feito de argila, pelo titã Prometeu. Para dar-lhe vida, Prometeu teve a audácia de roubar o fogo do céu. Zeus enfureceu-se e castigou Prometeu, acorrentando-o a uma rocha, onde todos os dias uma águia (ou um abutre) lhe roía o fígado.


Zeus castigou os homens por intermédio de Pandora (forjada por Hefestos), à qual entregou uma caixa misteriosa, que nunca deveria ser aberta. Pandora, muito curiosa, abriu a caixa: dela voaram, imediatamente, todos os males, desgraças e sofrimentos que perseguem os homens. No fundo da caixa, porém, ficou a esperança.


* Mito das quatro épocas. No começo, quando reinava Cronos, todos os homens eram felizes: Idade de Ouro. Mais tarde, surge a inveja entre os homens e começam as desavenças: Idade de Prata. Depois, os homens aprendem a forjar armas de cobre e se aniquilam em guerras cruéis: é a Idade do Cobre. Chega, finalmente, a última época: os homens se enganam, roubam, assassinam-se uns a outros; não há no mundo, nem verdade, nem justiça - é a Idade do Ferro.


* Mito de Heraclés (Hércules). A Grécia inteira o reconhece como herói nacional. Seu nome é símbolo da força física. Executou doze façanhas principais, os Doze Trabalhos de Hércules:


1) Matou o leão de Neméia.
2) Matou a hidra de Lerna.
3) Capturou vivo o javali de Erimanto.
4) Matou a flechadas os pássaros do lago Estinfale.
5) Alcançou a corça dos pés de bronze (1 ano de perseguição);
6) Limpou as estrebarias de Augias, fazendo passar por elas o rio Alfeu.
7) Domou o touro furioso de Creta.
8) Matou Diomedes, rei da Trácia.
9) Venceu as Amazonas.
10) Matou o gigante Gerionte.
11) Roubou as maçãs de ouro, do jardim das Hespérides.
12) Livrou Teseu dos infernos, acorrentando o cão Cérbero.

Hércules mata a hidra de Lerna. Ânfora ática, século VI a.C.

Além destes trabalhos, Hércules realizou muitas outras proezas. Eis algumas dessas façanhas: afogou nos braços o gigante Anteu; libertou Prometeu; matou o bandido Caco; separou os montes Calpe e Abila (colunas de Hércules).

Hércules com uma coroa de louros e segurando um arco. Cerâmica, 460-450 a.C.

O amor perdeu este bom cavalheiro errante que percorrera o mundo como defensor do direito e da justiça. Sua mulher Dejanira, com a esperança de reconquistar-lhe o amor, envia-lhe a túnica do centauro Nesso, manchada de sangue envenenado. Hércules veste a túnica e sente dores tão atrozes que, não podendo suportá-las, ergue uma pira sobre o monte Etna e se atira sobre as suas chamas - onde morre.


* Mito de Teseu. Teseu, filho do rei Egeu (Atenas), foi o herói nacional da Ática. Suas proezas são muito semelhantes às de Hércules. Libertou a Grécia de muitos bandidos e assaltantes. Procusto era o mais cruel deles. Procusto convidava os viajantes e oferecia sua cama para descansarem. Se a cama era curta demais, Procusto cortava os pés do hóspede; se a cama era muito comprida, esticava-os. Era o chamado "leito de Procusto". Teseu matou Procusto atirando-o sobre o próprio leito e aplicando-lhe a "técnica" que o bandido usava para com suas pobres vítimas. A cama era mais curta, e Procusto teve os pés decepados.


Mas a maior façanha de Teseu foi a de libertar seu país (Atenas) do jugo de Creta. Atenas pagava a Minos, rei de Creta, um tributo anual de sete donzelas e sete rapazes, para serem devorados pelo Minotauro, monstro com corpo de homem e cabeça de touro. Mais difícil do que matar o Minotauro, era achar, depois, a saída do labirinto. Mas a filha do rei Minos, Ariadne, enamorou-se de Teseu e lhe deu um novelo de linha, que lhe impedia perder-se nos corredores do labirinto.


Representação de Teseu lutando contra o Minotauro. Cerâmica grega.


Teseu foi, porém, um herói fatal. Seu pai, Egeu, lhe tinha feito prometer, antes da partida, que se voltasse vitorioso içaria velas brancas em sua nave. Embriagado pela vitória, Teseu esqueceu a promessa e navegou com as velas pretas. Egeu, que o esperava na praia, pensou que Teseu tivesse morrido e, decepcionado, suicidou-se atirando-se ao mar. Desde então, em sua memória - diz a lenda - o mar chama-se Egeu.


* Mito de Perseu. Perseu foi o herói da Argólide. Matou a Medusa, a mais terrível das Gorgonas, monstro cuja cabeleira era formada de serpentes e cujo olhar petrificava aqueles em que se fixavam. Perseu cortou-lhe a cabeça e levou-a consigo, nas expedições, a fim de transformar em pedra seus inimigos.

Perseu é seguido por uma Gorgona. Século VI a.C.

* Mito de Édipo. Édipo, filho de Laio, foi o herói de Tebas. O oráculo tinha previsto que Édipo mataria o pai e seria esposo da própria mãe. Laio (rei de Tebas) manda, então, que o abandonem, logo depois de nascer, no cume do monte Citeron.


Salvo por uns pastores, Édipo é educado pelo rei de Corinto. Temendo o oráculo, já feito homem, abandona Corinto. Mas não consegue fugir ao terrível destino. Pelo caminho, mata Laio, sem conhecê-lo. Perto de Tebas, vence à Esfinge, que lhe propusera o conhecido enigma. Como prêmio, os tebanos lhe dão por esposa a viúva de Laio, Jocasta. Pouco depois, tremenda peste irrompe no país. Revelada a verdade - que Édipo é filho de Jocasta - esta se suicida. Édipo arranca-se os olhos e parte, amparado pela sua filha Antígone (símbolo da fidelidade filial).


* Mito de Jasão e os Argonautas. Jasão é o herói da Tessália. Cinquenta heróis gregos, no navio Argos [daí: "Argonautas"], lançam-se à conquista do Velocino de ouro, que se acha na longínqua Cólquida (Cáucaso). Jasão é o chefe da expedição. Depois de muitas aventuras chegam à Cólquida, onde são ajudados pela maga Medéia (filha do rei), enamorada de Jasão. Medéia acompanha-o na viagem de volta. Abandonada, porém, por causa de outra mulher, Medéia mata seus próprios filhos e a rival, e vai para a Ática, onde casa com Egeu, rei de Atenas, pai de Teseu.


BECKER, Idel. Pequena História da Civilização Ocidental. São Paulo: Nacional, 1974. p. 105-107.

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