"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sangue latino

Zapatistas, José Clemente Orozco

Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos

E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

João Ricardo / Paulinho Mendonça

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Festas na Roma antiga

Uma bacanal, Sebastiano Ricci

Corridas de cavalo, jogos com gladiadores, autoflagelo de sacerdotes nus, caçadas de animais exóticos, concurso de instrumentos musicais. Na Roma Antiga, o calendário de festividades públicas (feriae) era imenso e tinha ciclos bastante variados nas formas de comemoração, misturando agrados tanto aos deuses quanto aos homens.

Mas as festas estavam longe de significar apenas diversão. Todos os imperadores romanos sabiam da importância de difundir uma imagem positiva de si e do governo para garantir sua manutenção no cargo. As cerimônias tornaram-se um importante instrumento de poder e uma forma sofisticada de comunicação com objetivos políticos, mesmo para os parâmetros de hoje: ajudavam a formar a opinião pública, persuadiam através de imagens, símbolos e mitos, legitimavam o mando e auxiliavam no controle social.

Em 15 de fevereiro começava o festival dos Lupercalia. Os Lupercos eram uma confraria de sacerdotes que em sua procissão ficavam nus e davam a volta no monte Palatino, flagelando-se com correias feitas com a pele de uma cabra que tinham acabado de imolar. Mulheres acompanhavam à margem a passagem dos sacerdotes, esperando receber parte do sangue aspergido por eles, o que lhes garantiria fertilidade.


Lupercália, Andrea Camassei

Em abril havia as festas de início do ano agrário, nos quais se pedia o apoio das divindades para uma boa colheita. Os Parilia, os Cerialia e os Vinalia comemoravam o florescimento das parreiras e a produção vinícola com procissões alegres que cultuavam a divindade Ceres, vinculada à agricultura. Em junho, era a vez dos Vestalia e dos Matralia, celebrações em honra à deusa Vesta. Junto com suas sacerdotisas – as Virgens Vestais – ela era protetora do fogo comum da cidade, uma pira mantida acesa 24 horas, relembrando as fogueiras em torno das quais os primeiros cidadãos se reuniam, e das matronas romanas, como eram chamadas as mães casadas.

Batalha naval entre romanos, Ulpiano Checa

Volcanalia eram festas para louvar o deus Vulcano, que olhava pelos pescadores e artesãos. Aconteciam em 23 de agosto, quando se lançavam pequenos peixes e outros animais ao fogo – oferendas que representavam vidas humanas a serem conservadas a partir da honraria.

De 17 a 24 de dezembro os romanos dedicavam-se à Saturnalia. O deus Saturno teria ensinado os homens a cultivar a terra e por isso era sempre representado carregando uma pequena foice, um auxílio à poda da vinha. Os dias de festa finalizavam o ano agrário e religioso, e tinham um caráter mais licencioso: subvertiam-se as hierarquias sociais, com os escravos mandando em seus senhores e estes servindo a mesa dos banquetes. Era uma forma de garantir a ordem pela inversão dos valores: uma vez por ano os escravos se sentiam importantes diante dos seus senhores ao serem por eles servidos.

A essas festividades republicanas (509-27 a.C.), mantidas no Império, os príncipes juntaram outras cerimônias dignas de nota. Quando visitavam as províncias conquistadas, eram acompanhados de uma grande festa: chamava-se Adventus e era uma procissão de boas-vindas que servia para realçar a dignidade e a autoridade da pessoa que entrava no espaço urbano. As cidades se preparavam para a chegada do soberano enfeitando-se com flores, tochas e incensos.

Havia também festas comunitárias, ou seja, realizadas com financiamento da própria comunidade cívica e não com dinheiro vindo do Aerarium Saturni, como as cavalgadas (19 de março e 19 de outubro), a corrida de sacos dos Robigalia (25 de abril), as corridas a pé ou com mula dos Consualia (21 de agosto e 15 de dezembro), o concurso de pesca com vara dos Ludi Pescatorii (8 de junho), as corridas de cavalos do Equus October (15 de outubro).

Durante o Principado (27 a.C. – 285 d.C.), os romanos também presenciaram mais de 300 triunfos, procissões festivas nas quais se reconheciam publicamente a contribuição do exército e de seus generais para a segurança e a prosperidade do Estado. O evento tornou-se mais comum na República, com a expansão territorial, e combinava elementos militares, políticos e religiosos, ligados a Júpiter e Marte. Os triunfos eram pagos pelo tesouro público e permitidos pelo Senado. A procissão acontecia em sequência. Primeiro, os principais lugares-tenentes carregando fasces – o símbolo do imperium. Em seguida, vinha o general vitorioso – o triumphator – no alto de uma carruagem especial, enfeitada e conduzida por quatro cavalos. Ele aparecia coroado de louros ou ouro, e vestia um manto púrpura que remetia à vitória. Ao lado, um escravo lhe lembrava ao ouvido sua condição de homem, e que toda glória era passageira e devida ao favor de Júpiter. Atrás dele, seguiam membros da família a cavalo, em carros ou a pé.

Passava-se então a apresentar ao público os despojos de guerra: homens, mulheres e crianças aprisionados, estandartes dos inimigos, peças de ouro e pedras preciosas conquistadas pelos romanos, animais diferentes trazidos para serem abatidos no anfiteatro ou guardados no zoológico, entre outras pilhagens. Na sequência, os soldados vencedores recebiam a permissão de entrar no pomerium, o território sagrado da cidade. Armados, eles passavam debaixo de um arco do triunfo para se limpar do sangue da guerra. Por fim, entravam sacerdotes conduzindo animais que iriam ser sacrificados no templo de Júpiter Capitolino. O cortejo percorria as principais avenidas de Roma, passando pelo Campus Martius, pelos palácios do Palatino, pelos fóruns e terminando no Capitólio. A cidade parava para vê-lo passar.

Ave Caesar Morituri te Salutant, Jean-Léon-Gérôme

Os Jogos (Ludi) Gladiatoriais eram realizados nos anfiteatros, cujo exemplar mais famoso é o Coliseu, construído após secarem o lago do Palácio do Imperador Nero (54 a 68 d.C.). Nessas partidas, que aconteciam durante todo o ano, havia corridas de cavalos, encenações teatrais, concursos de instrumentos musicais, dança, mímicas, pantomimas e recitação nos teatros e odeons. Os famosos combates entre gladiadores – ou munera – eram realizados, desde 308 a.C., em funerais particulares dos ricos, em honra a um parente falecido. Mumus significa dívida, tributo, obrigação. A partir de 264 a.C., eles passaram a ser públicos, mas só ganharam o carimbo oficial como eventos anuais em 105 a.C. Durante a República, vários magistrados ofereceram jogos à população, esperando seu apoio nas contendas políticas e militares que marcaram as guerras civis.

As venationes se diferenciavam dos munera ao apresentarem, no lugar dos gladiadores, lutas entre animais ou verdadeiras caçadas que colocavam homens e bichos frente a frente nos anfiteatros. Com a conquista de novas províncias, espécies cada vez mais exóticas eram levadas para a arena – servindo para relembrar ao público a força e a extensão dos domínios romanos. Eram elefantes, rinocerontes, leões, girafas, hienas ou animais menores, como cães e gatos.

Ana Teresa M. Gonçalves. Se quer festa vá a Roma. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 10 / Nº 110 / Novembro 2014. p. 58-61.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Uma manhã no coração da África

A lição de dança (Menino negro dançando), Thomas Eakins

Durante mil anos tu, negro, sofreste como um animal,
tuas cinzas foram espalhadas ao vento do deserto.
Teus tiranos construíram os templos mágicos e brilhantes,
onde preservam tua alma, onde preservam teu sofrimento:
o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.
Tu tinhas direito de morrer, também podias chorar.
Em teu totem esculpiram fome e cativeiros sem fim.
E no abrigo dos bosques aceitavas uma morte
horrivelmente cruel, oculta, desafiadora como galhos
de espinheiros e copas de árvores.
Cingindo teu corpo e tua dolente alma,
então puseram uma grande víbora traiçoeira em teu peito.
Em teu colo colocaram o jugo da aguardente.
Trocaram tua vida agradável pelo brilho das pérolas baratas,
tuas maravilhosas e incomensuráveis riquezas.
Da tua choça o tantã soava na escuridão da noite,
levando tristes lamentos para as fontes de rios poderosos
sobre jovens violadas, rios de sangue e lágrimas,
sobre barcos que zarpavam para o país, onde o homenzinho
se agita como num formigueiro, e onde o dólar é rei,
na terra condenada, que chamam de mãe-pátria.
Ali teu filho e tua esposa foram esmagados, dia e noite,
por um terrível moinho desapiedado, destroçando-os 
com terrível dor.
Eras um homem como outros. Pregaram para que cresses,
que o bom deus branco reconciliaria por fim todos os homens.
Pelo fogo sofreste, e cantaste os cantos plangentes
do mendigo sem lugar, que canta nas portas das casas.
E quando a loucura te possuiu e teu sangue ferveu na noite,
dançaste, gemeste,
como a fúria de uma tormenta nas palavras de uma
melodia humana.
De mil anos de padecimentos, surgiu a força de ti,
na voz metálica do jazz, um grito de libertação desconhecido,
que ressoou no continente como uma marulhada gigante.
O mundo inteiro, surpreendido, despertou aterrorizado
com o ritmo violento do sangue, o ritmo violento do jazz.
O branco empalideceu ante este novo canto,
que carrega tochas purpúreas na escuridão da noite.
Chegou a alvorada irmão, a alvorada! Olha nossos rostos.
Uma nova manhã desponta na nossa velha África.
Só nossa será a terra, a água, os rios poderosos,
que o pobre negro entregou durante mil anos.
E as resplandescentes luzes do sol brilharão de novo para nós, 
secarão as lágrimas em teus olhos e as cusparadas de tua cara.
Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados,
os tempos malvados e cruéis irão para não voltar mais.
Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra.
Um Congo livre e bravo, o florescer negro, a semente negra!

Patrice Lumumba

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Cultura republicana II

Mãe e filha, Alfredo Volpi

Ao longo da década de 30, a cultura caracterizou-se pela incorporação das questões levantadas pelo movimento modernista. Buscando entender o processo constitutivo da sociedade brasileira, vieram à luz nesse período três estudos fundamentais: Casa-grande e senzala (Gilberto Freyre), Raízes do Brasil (Ségio Buarque de Holanda) e Evolução política do Brasil (Caio Prado Jr.). Participam desse esforço de compreensão e atualização a proliferação de romances regionalistas e a criação da Universidade de São Paulo. Nas artes plásticas, o submundo do trabalho e da vida urbana e rural foi mantido à tona pelos "primeiros modernos" e pelas gerações posteriores.


Figura de cangaceira, José Antônio da Silva

A partir de então, a busca pela modernidade começou a tingir-se dos matizes ideológicos que sacudiam o mundo após a Revolução Socialista na Rússia e a ascensão de Hitler na Alemanha. A ditadura de Vargas e a explosão da Segunda Guerra Mundial levaram os intelectuais e artistas brasileiros a assumirem abertamente posições à direita e à esquerda. Muitos foram cooptados pelo Estado Novo, passando a ocupar postos-chaves na administração pública. Outros organizaram-se na luta contra o regime autoritário. Vale destacar aqui o I Congresso Brasileiro de Escritores, dirigido por Aníbal Machado e Sérgio Milliet.


Os garis, Carlos Prado

A década de 50, impulsionada pela democratização e pelo desenvolvimento, revestiu-se de uma atmosfera otimista. Ainda que os contrastes da sociedade brasileira marcassem as representações culturais, a renovação musical produzida pela bossa-nova e a renovação poética do Concretismo traduziam a expectativa do crescimento e da superação dos problemas da nação. O cinema, após a fracassada tentativa da Companhia Vera Cruz, buscava caminhos alternativos aos moldes "hollywoodianos". Com poucos recursos mais muitas ideias de vanguarda, começava a estabelecer-se o Cinema Novo, trazendo para as telas os impasses da realidade social do país. Ao final da década, a construção de Brasília, projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, consolidava uma linguagem arquitetônica moderna ao sul do Equador.


Ônibus rural, Newton Rezende

No engajado ambiente dos anos 60, a cultura brasileira conhece um de seus momentos mais profícuos. Jovens intelectuais de esquerda procuravam linguagens artísticas, na música e na dramaturgia, para divulgar seus sonhos libertários e suas utopias socialistas. Tempos dos festivais e do Centro Popular de Cultura. As artes assumiam ainda mais um discurso ideológico, procuravam denunciar a pobreza, o imperialismo, a sociedade de consumo. Entre a herança cultural e social do país e as conquistas tecnológicas do mundo moderno, entre a modernização tão almejada e os problemas da modernidade, o Tropicalismo (de Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros) conseguia expressar a ambiguidade da sociedade brasileira. Retomando as questões modernistas, fazia-se antropofagia.

CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. p. 68.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Cultura republicana I

A preocupação dos intelectuais brasileiros com a formulação de uma identidade nacional foi a característica das primeiras décadas do período republicano. Suas visões acompanharam, de certo modo, as próprias mudanças sociais do país. Ao final do século XIX, a perspectiva romantizada dos costumes e da natureza cedeu lugar a uma noção mais realista e naturalista, que buscava maior objetividade.


Bananal, Lasar Segall

Se a perspectiva anterior estivera diretamente ligada à ação política, nesse período grande parte da produção intelectual aproximava-se mais das regras do pensamento científico. As bases da cultura republicana fortaleceram-se com Os sertões de Euclides da Cunha, ambientado no Nordeste, com as crônicas de Lima Barreto e João do Rio e com os romances de Aluízio de Azevedo, que tratavam da vida urbana do Rio de Janeiro e de São Paulo.


Tropical, Anita Malfatti

No início do século XX, São Paulo emergia como metrópole, vivenciando uma rápida industrialização, financiada pelo capital acumulado com as atividades cafeeiras. A modernização industrial, e com ela a valorização da técnica e da mecanização das atividades produtivas, convivia com elementos arcaicos ainda presentes em seu cotidiano. Os ares de metrópole fundiam-se com os vestígios de província.


A família, Tarsila do Amaral

Nas artes, as permanências simbolistas, românticas e parnasianas pareciam representar características estéticas e sociais mais inertes e repetitivas. Nesse contexto, buscando, antes de tudo, a inovação artística e social, ocorreu uma das maiores expressões culturais do Brasil, a Semana de Arte Moderna.


Samba, Di Cavalcanti

No início de 1922, reuniram-se em São Paulo intelectuais e artistas que procurariam elaborar obras e atitudes de acordo com os saberes mais "adiantados" desenvolvidos no resto do mundo, ao mesmo tempo que ansiavam por interferir criticamente no país, modernizando-o. Entre os maiores representantes do Modernismo destacam-se os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira e Ronald de Carvalho; os pintores Di Cavalcanti, Lasar Segall, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; e o compositor Heitor Villa-Lobos.


Despejados, Cândido Portinari

Ao longo dos anos 20 o movimento se estendeu para outras regiões do país, sendo divulgado, principalmente, por revistas e periódicos de pouca duração, porém de grande importância.

CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. p. 48.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Marco Polo (1254-1324)

Caravana da viagem de Marco Polo às Índias, 1375. Abraham Cresques

Nascido em uma família de comerciantes de Veneza, Marco Polo uniu-se ao seu pai e ao seu tio em uma viagem à China em 1271. Pelos seus relatos, o imperador Kublai Khan o apontou como um enviado e, em seguida, como governador de Yahngzhou, antes de o italiano voltar para casa em 1292. Soldado de Veneza em uma guerra contra os genoveses, Marco Polo foi capturado e preso e escreveu As Viagens de Marco Polo enquanto estava na prisão. O livro foi lido por muitas pessoas e invadiu a consciência provinciana de muitos estudiosos europeus. Muitos contemporâneos de Marco Polo achavam que ao livro continha mentiras e muitos estudiosos que surgiram mais tarde também duvidam da veracidade dos relatos. Eles acham que ele inventou seu currículo chinês, mas as descrições do Oriente contidas em seu livro ainda são um marco intercultural.

Os Polo retornando ao Kublai Khan com presentes do Papa Gregório X, 1375. Artista desconhecido

O conhecimento de Marco Polo sobre o Oriente e suas riquezas conquistou seguidores, pois ele escrevia sobre suas experiências. Cada vez mais pessoas ficavam fascinadas com seus relatos e seu livro [...] passou a ser uma leitura obrigatória no século XIV. Ele alimentou a fome pela seda, pela cerâmica e por outras mercadorias exóticas e guiou a expedição para encontrar uma rota marítima a fim de transportá-las. Como diz o historiador Daniel J. Boorstin em seu livro Os Descobridores, "Sem Marco Polo... teria havido Cristóvão Colombo?" 

HAUGEN, Peter. História do Mundo para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. p. 328-9 e 367.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

1692, Salem Village

Bruxaria na Vila de Salem, Artista desconhecido

AS BRUXAS DE SALEM

- Cristo sabe quantos demônios há aqui? - ruge o reverendo Samuel Parris, pastor da vila de Salem, e fala de Judas, o demônio sentado à mesa do Senhor, que se vendeu por trinta dinheiros, 3,15 em libras inglesas, irrisório preço de uma escrava.

Na guerra dos cordeiros contra os dragões, clama o pastor, não há neutralidade possível nem refúgio seguro. Os demônios meteram-se em sua própria casa: uma filha e uma sobrinha do reverendo Parris foram as primeiras atormentadas pelo exército de diabos que tomou de assalto esta puritana vila. As meninas acariciaram uma bola de cristal, querendo ver a sorte, e viram a morte. Desde que isso aconteceu, são muitas as jovenzinhas de Salem que sentem o inferno no corpo: a maligna febre as queima por dentro e se revolvem e se retorcem, rodam pelo chão espumando e uivando blasfêmias e obscenidades que o Diabo lhes dita.

O médico, William Griggs, diagnostica o malefício. Oferecem a um cão um bolo de farinha de centeio misturada com urina das possuídas, mas o cão come, mexe o rabo, agradecido, e vai embora para dormir em paz. O Diabo prefere a moradia humana.

Entre convulsão e convulsão, as vítimas acusam.

Exame de uma bruxa, Thompkins H. Matteson

São mulheres, e mulheres pobres, as primeiras condenadas à forca. Duas brancas e uma negra: Sarah Osborne, uma velha prostrada que há anos chamou aos gritos seu servente irlandês, que dormia no estábulo, e abriu-lhe um lugarzinho na cama; Sarah Good, uma mendiga turbulenta, que fuma cachimbo e responde resmungando às esmolas; e Tituba, escrava negra das Antilhas, apaixonada por um demônio todo peludo e de nariz comprido. A filha de Sarah Good, jovem bruxa de quatro anos de idade, está presa no cárcere de Boston, com grilhões nos pés.

A bruxa nº 1, Joseph E. Baker

Mas não cessam os gemidos de agonia das jovenzinhas de Salem e se multiplicam as acusações e condenações. A caçada de bruxas sobe da suburbana Salem Village ao centro de Salem Town, da vila ao porto, dos malditos aos poderosos: nem a esposa do governador se salva do dedo que aponta culpados. Balançam na força prósperos granjeiros e mercadores, donos de barcos que comerciam com Londres, privilegiados membros da Igreja que desfrutavam direito à comunhão.

Anuncia-se uma chuva de enxofre sobre Salem Town, o segundo porto de Massachusetts, onde o Diabo, trabalhador como nunca, anda prometendo aos puritanos cidades de ouro e sapatos franceses.

GALEANO, Eduardo. Memória do fogo: Os nascimentos. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 262.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

História da moda: o mundo moderno

Mexicanos,  Albert Kretschmer

Mouros e turcos, Albert Kretschmer

Costumes eclesiásticos, Albert Kretschmer

Holandeses, Albert Kretschmer

Ingleses e escoceses, Albert Kretschmer

Franceses e alemães, Albert Kretschmer

Franceses, Albert Kretschmer

Alemães, Albert Kretschmer

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

História da moda: mundo medieval e renascentista

Cristãos romanos,  Albert Kretschmer

Anglo-saxões,  Albert Kretschmer

Bizantinos,  Albert Kretschmer

Francos,  Albert Kretschmer

Normandos,  Albert Kretschmer

Espanhóis e mouros,  Albert Kretschmer

Italianos,  Albert Kretschmer

Espanhóis,  Albert Kretschmer


Germanos,  Albert Kretschmer

Franceses,  Albert Kretschmer

Ingleses,  Albert Kretschmer

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

História da moda: o mundo antigo

Egípcios, Albert Kretschmer

Assírios,  Albert Kretschmer

Persas,  Albert Kretschmer

Leste da Europa,  Albert Kretschmer

Gregos,  Albert Kretschmer

Gregos,  Albert Kretschmer

Ásia Menor,  Albert Kretschmer

Etruscos,  Albert Kretschmer

Romanos,  Albert Kretschmer

Romanos,  Albert Kretschmer

Britânicos, gauleses e germânicos, Albert Kretschmer