"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

Mulher, substantivo feminino

Para Carmem, minha mãe, com carinho e amor filiais


Do latim “muliere”, é um ser do sexo feminino. Nas comunidades primitivas, a mulher era encarregada da coleta de frutos e raízes. Deusa-mãe. Matriarcado. Vulva. Com o advento da agricultura, a principal atividade da mulher passou a ser de fiar e tecer.

O domínio do homem – pênis/patriarcado -  surgiu com o advento do Estado arcaico. Os homens aprenderam a subjugar outros povos através da prática de submeter suas próprias mulheres, culminando com a instituição/prostituição da escravidão. O manto/véu distinguia “mulheres respeitáveis” e “não respeitáveis” (putas, concubinas, amantes).

Nos primórdios, as mulheres tiveram um papel fundamental na esfera religiosa: poder de dar vida – eram sacerdotisas, videntes, curandeiras... Com o estabelecimento das teocracias – III milênio a.C. -, as deusas foram relegadas. O advento do monoteísmo – primeiro hebraico, depois cristão e islâmico – afastaria estas deusas da fertilidade. Na Bíblia (Gênesis), a capacidade de criar é de um deus masculino, que associa a sexualidade feminina às ideias de pecado. Pecado de Eva.

No mundo greco-romano, a mulher era submissa. Na Grécia (Atenas, em particular), as mulheres não eram cidadãs. Em Roma, o pai podia matar as meninas.

O cristianismo recebeu como legado do judaísmo a hostilidade para com as mulheres. Apenas os agnósticos e heréticos valorizavam as mulheres (libertando-as do papel “imundo” que lhes era atribuído na relação sexual. Daí a sociedade medieval cristã retirar das mulheres as funções religiosas. Sobravam os papéis de esposa e/ou virgem por um lado e de puta e/ou feiticeira, por outro. Consolidava-se, assim, a diferença entre damas/freiras e camponesas/putas. Freiras, para as ricas; putas, para as pobres. Leituras masculinas.

No século XIX, as “damas/senhoras” eram as pálidas e delicadas, inúteis para o trabalho na indústria. Senhoras? Destinadas a embelezar a vida de seus maridos e parir filhos. De preferência varões. Nem as mulheres do povo ficaram libertas das mudanças do século. Deviam trabalhar no campo, nas fábricas, ou como domésticas. Recebiam menos. Bem menos.

Todavia, a vida das mulheres das camadas populares era muito menos regulada pelas convenções de uma sociedade aristocrática – decadente – e burguesa  (em ascensão, mas não menos hipócrita e conservadora).

E chega o século XX. Rádio, cinema, automóveis, arranha-céus... Fox-trot, jazz, rock... Minissaia, pílula anticoncepcional, jeans e camiseta… “Sufraggettes”, direito ao voto… feminismo, feminismos! Um novo mundo de ideias e lutas. Rosa Luxemburgo, Simone de Beuavoir, Rosa Parks...


E, aqui, estamos nós: século XXI - era da vagina!  Mulheres são mães, esposas, putas, amantes, sacerdotisas, bruxas, curandeiras, garis, advogadas, médicas, professoras, engenheiras, astronautas, poetisas... Que rompa-se o hímen da opressão! A luta continua!


MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 19-20.

Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História e Sociedade •●ϟ

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