"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

Medievo

Para Madô Maurer, apaixonada pela Idade Média!

Temps plaim d'orreur qui tout fait faussement.
Age menteur, plain d'orgueil et d'envie.
Eustache Deschamps


If you believe in the light, it's because of obscurity. 
If you believe in happiness it's because of unhappiness. 
If you believe in God, then you have to believe in the Devil. 
Father X, Exorcist, Church of Notre Dame, Paris


Brincadeira medieval


 «╬♥ ♥╬«

I
No Castelo
[Cavalaria e cortesia]

Damas e cavaleiros
luxuosamente trajados
[de verde, azul, vermelho]
distraem-se em banquetes suntuosos
[nos salões iluminados por tochas]

Criados
servem variados
pratos
[carnes de caça]
 e enchem copos de vinho.
Regam as mesas reais!

Menestréis e saltimbancos,
anões e bobos da corte
divertem a nobreza.
Por um prato de comida!

Nos jardins do castelo:
damas
são cortejadas.
Dançam com seus príncipes (des) encantados!

Menestréis e saltimbancos
celebram:
 façanhas heroicas
o amor romântico.
Aventuras cavalheirescas!

Turbulentos cavaleiros
com suas ricas vestimentas de malha
cavalos vestidos
reúnem-se em torneios.
Ao toque dos clarins e ao rufar de tambores,
enfrentam-se em violentas justas!

Cavaleiros
acompanhados de cães
falcões adestrados
pajens
caçam
aves
raposas
javalis
[e dragões imaginários...]
Destroem campos cultivados por miseráveis servos!


«╬♥ ♥╬«

II
Na guerra
[Bellum]

Reis e cavaleiros cruzados
[amaldiçoados]
armados de espadas e escudos
[em nome de Deus]
rumam para o Oriente
[para libertar a Terra Santa dos “infiéis” muçulmanos]
rumam para o Ocidente
[para reprimir os hereges]
Podres poderes!
Bestas do Apocalipse!

«╬♥ ♥╬«

III
No mosteiro
[Ora et Labora]

Monges copistas
[trajados de preto, marrom, branco]
à luz de velas
traduzem
compilam
ilustram
manuscritos.
Preservam conhecimentos antigos!

Regados a vinho
bebiam aos mortos:
"Viva el muerto!"

Buscam
a imortalidade.
[Pedra filosofal]
Entre o sagrado e o profano!

«╬♥ ♥╬«

IV
Na Igreja

Inquisidores
[encapuzados, crucifixo na mão]
- em nome de Deus -
perseguem
prendem
torturam
queimam
[bruxas, sodomitas, hereges, pagãos, judeus]
- santas fogueiras -
Almas purificadas!
Almas massacradas!
Bodes expiatórios!

«╬♥ ♥╬«

V
Na aldeia

Pobres servos
famintos
moradores de míseras cabanas
passam a vida cultivando
criando
orando
pagando
 dízimos
taxas
corveias
banalidades
pedágios
- para a nobreza, para o clero -
em busca de uma recompensa no além
[longe do fogo dos infernos]
Pobres diabos!

«╬♥ ♥╬«

VI
No burgo

[Longe dos olhares condenatórios da Igreja 
e da ganância dos senhores feudais]
ricos burgueses
fazem o comércio
das especiarias
das sedas
dos damascos
dos produtos de luxo
com o Oriente
[buscando lucros]
 Sem medo da usura ou do fogo dos infernos!

«╬♥ ♥╬«

VII
No submundo

Judeus, sodomitas
mendigos, prostitutas
aleijados, leprosos
pestilentos
escondem-se nos submundos
dos burgos
[longe dos olhares condenatórios]
Pobres criaturas!
Bodes expiatórios!

«╬♥ ♥╬«

VIII
Na taverna

Cavaleiros
jogam dados
cartas
cantam
dançam
bebem vinho
[desfrutam dos prazeres carnais]
Alegria furtiva!

«╬♥ ♥╬«

IX
Na cidade
["Festa dos loucos / Festa do asno"]


Nas ruas
citadinos
travestidos
compartilham
alegria
riso
prazeres
comida
embriaguez
obscenidades
nudez
[inversão]
"O ar da cidade torna o homem livre"

«╬♥ ♥╬«


MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p.79-83.

Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História e Sociedade •●ϟ

© 2015 by Orides Maurer Jr.

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