"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: o moderno e o arcaico

Caipira picando fumo, Almeida Júnior

[...]

A ciência, que nessa segunda metade do século XIX conheceu notáveis avanços, orientava e dava legitimidade às ações do Estado para organizar a vida urbana.

Isso criou o mito de que as cidades podiam ser administradas unicamente com critérios técnicos. Acreditava-se em uma racionalidade que estaria acima das desigualdades e dos conflitos sociais. A boa condução política da vida urbana seria uma questão de competência e de eficiência. Dessa noção nasceu a ideia de que na sociedade existiam "classes perigosas", ou seja, classes que ameaçavam a ordem e a saúde públicas. Assim, uma questão social era reduzida a um problema administrativo e policial, a ser resolvido pela competência das autoridades públicas.

A pobreza, nessa visão, estava ligada à ociosidade, à preguiça. Pobreza e preguiça relacionavam-se com a criminalidade, a promiscuidade, a falta de higiene e a imoralidade. Por tudo isso, ao lado de medidas sanitárias, prescrevia-se o combate aos vadios.

O violeiro, Almeida Júnior

Em um importante debate parlamentar na Câmara dos Deputados do Império, logo após a abolição da escravatura, em 1888, discutia-se um projeto para combater a ociosidade. Os deputados estavam preocupados com as consequências da abolição na organização do trabalho.

Inspirada em autores franceses que trataram das "classes perigosas", a comissão parlamentar que examinou o projeto de lei contra a ociosidade concluiu:

As classes perigosas e viciosas, diz um criminalista notável, sempre foram e hão de ser sempre a mais abundante causa de todas as sortes de malfeitores: são elas que se designam mais propriamente sob o título de classes perigosas; pois quando mesmo o vício não é acompanhado pelo crime, só o fato de aliar-se à pobreza no mesmo indivíduo constitui um justo motivo de terror para a sociedade. O perigo social cresce e torna-se mais a mais ameaçador, à medida que o pobre deteriora a sua condição pelo vício e, o que é pior, pela ociosidade.

Os estudos sobre o mundo urbano se intensificam com o objetivo de tomar medidas ligadas à saúde pública.

Nesse novo ponto de vista, a morte deixava de ser um mal inevitável, que devia ser aceito com resignação cristã. Tornou-se um mal com causas que a ciência era capaz de evitar e combater.

Foi assim que nasceram os projetos públicos de cuidados com a vida e a saúde da população urbana. Era preciso prevenir, estabelecer uma medicina do ambiente que permitisse evitar as doenças, principalmente as epidemias. O Estado assumiu para si o encargo de cuidar da saúde da população.

A nova ordem implantada pelo capitalismo exigia uma vida social mais disciplinada e previsível. A racionalidade calcada nos conhecimentos científicos passou a orientar as ações do poder público.

Uma população civilizada, ordeira e saudável interessava tanto ao desenvolvimento econômico, como ao poder do Estado. O controle do Estado sobre a vida social aumentou enormemente.

Essa modernização, que na própria Europa encontrou obstáculos, foi marcada por grandes contradições no Brasil.

Um bom exemplo dessas contradições são as avaliações acerca da conveniência ou não da roda dos enjeitados.

Na Europa as políticas de assistência aos pobres provocaram intensos debates, principalmente nas décadas de 20 e 30 do século XIX.

Do ponto de vista da racionalidade e da moralidade burguesa, defendia-se a ideia de que a assistência aos pobres estimulava a irresponsabilidade, a indisciplina e a imoralidade. Assim, argumentava-se que o acolhimento das crianças contribuía para o aumento do abandono, e não para a sua redução. Encobrindo-se o crime, acolhendo os frutos de amores ilícitos, contribuía-se para a depravação dos costumes.

No Brasil os pronunciamentos médicos foram no sentido de defender a Casa dos Expostos com argumentos religiosos. Os médicos argumentavam que sem essa instituição as maiores vítimas seriam crianças inocentes.

A eliminação da Casa da Roda favoreceria crimes considerados ainda piores do que o de abandonar crianças: o infanticídio e o aborto. A caridade e a solidariedade cristãs, e mesmo a própria Providência divina, eram invocadas em defesa da roda. Ela seria sinal de civilização, de caridade cristã e uma forma de preservação da família e da sociedade. Impediria o escândalo de uma mãe com um filho natural, visto como a maior prova da sua fraqueza.

A mulher, considerada um ser frágil e passivo, seria uma vítima da sedução, precisando de proteção e de uma oportunidade para se redimir e levar uma vida digna. Mais culpados do que a frágil mulher seriam o celibatário e o libertino, os quais contribuiriam para a decadência dos costumes.

Dessa forma a racionalidade das normas recomendadas à mulher como esposa e mãe se perdia quando os médicos se referiam à Casa dos Expostos. Com isso eles manifestavam a dualidade entre a modernização e o compromisso com o passado.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 256-59.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: a roda dos emjeitados

Recado difícil, Almeida Júnior

Expostos e enjeitados eram termos que se referiam às crianças abandonadas. Era um problema que afligia principalmente as mulheres, levadas pelas circunstâncias a abandonarem filhos recém-nascidos, tanto legítimos como ilegítimos.

Embora [...] a miséria não fosse o único motivo do abandono de crianças, o fenômeno atingia principalmente as camadas sociais populares.

Ao longo do século XVIII, houve um significativo aumento da população urbana no Brasil. Isso agravou o problema do abandono de crianças.

No campo, o abandono quase não acontecia. Se uma família ou mãe solteira, por qualquer razão, não se dispusesse a criar o filho, ele era acolhido por outra família. Por isso eram comuns os chamados "filhos de criação", que podiam ou não ser colocados em pé de igualdade com os filhos legítimos.

Os trabalhadores do campo pobres e que não possuíam escravos dependiam da mão-de-obra dos filhos. As crianças ajudavam os pais nas tarefas diárias: preparação de alimentos, trabalho na roça, transporte de água, alimentação e demais cuidados com os animais domésticos, lavagem de roupa, costura etc. Para os pequenos proprietários rurais, abandonar um recém-nascido era se privar, a curto prazo, de uma ajuda no trabalho.

Assim, o problema do abandono de crianças era urbano, manifestando-se principalmente nas cidades portuárias.

Nas cidades o trabalho infantil tinha pouco valor. O trabalho artesanal urbano exigia especialização profissional, e as atividades portuárias, força física.

[...] no meio rural dos pobres, que viviam de uma economia de subsistência, baseada na pequena lavoura, não havia a situação de miséria absoluta que levava ao abandono dos filhos, como ocorria nas cidades.

Tanto no século XVIII, com o Brasil ainda na condição de colônia, como na época imperial, depois da independência política, a cidade era um espaço de grandes desequilíbrios sociais. A falta de um mercado de trabalho para os pobres livres, agravada ainda pela depreciação do trabalho manual em uma sociedade escravista, tornava precária a vida das pessoas pertencentes às camadas populares. A cidade atraía os pobres do campo, mas não oferecia a eles condições estáveis de existência.

Por essa razão, a partir do século XVIII, o abandono de crianças se tornou endêmico. Elas eram deixadas nas calçadas, praias, terrenos baldios, portas de igrejas e residências.

O crescente abandono e a mortandade de crianças abalava a consciência católica. Causava indignação o número de inocentes que morriam sem ser batizados. Segundo a tradição religiosa, sem batismo eles não iam para o reino dos céus. Nessa tradição, a morte era uma fatalidade que se devia aceitar com resignação, mas não sem o sacramento do batismo.

As elites religiosas e civis se mobilizaram para resolver o problema. A criação da Casa dos Expostos, ou Casa da Roda, foi uma das soluções encontradas. Essa instituição surgiu no século XVIII.


Abandono de criança na roda dos expostos.
Ilustração do século XIX

Uma Carta Régia de 1693 determinava que as crianças abandonadas fossem criadas às custas dos cofres públicos. Mas essa determinação permaneceu letra morta até 1738, quando se fundou - não com dinheiro público, mas particular - um estabelecimento no Rio de Janeiro, ligado à Santa Casa de Misericórdia. O modelo acabou sendo copiado em outras cidades brasileiras.

A Casa dos Expostos era dotada de um equipamento composto por uma roda colocada na parede na posição horizontal. Metade da roda ficava do lado de fora do prédio e a outra metade do lado de dentro. Desse modo, era possível colocar a criança do lado de fora e, girando a roda, passá-la para o lado de dentro. Esse sistema permitia manter o anonimato, escondendo a identidade da pessoa que abandonava o recém-nascido. A roda dos enjeitados, ou roda dos expostos, funcionava dia e noite.

A Casa dos Expostos caracterizava bem o tipo de cuidado que as elites tinham com as populações pobres. Era um cuidado orientado pelo espírito da caridade e da solidariedade cristãs.

Era esse espírito, e também muito provavelmente o remorso cristão, que levava as pessoas a fazerem doações, muitas através de testamentos. Isso permitia que as Casas dos Enjeitados funcionassem, visto que o dinheiro destinado pelo Estado para essa finalidade era pouco e irregular.

A existência dessas casas de recolhimento de crianças tranquilizava as consciências cristãs, mas não garantia a sobrevivência delas. A mortandade das crianças nessas casas era altíssima.

Outra solução tentada para resolver o problema da criança abandonada foi o incentivo do Estado às famílias criadeiras. A família recebia uma ajuda do Estado para criar a criança abandonada. O valor pago sempre foi muito baixo, mal dando para a compra de um pouco de farinha de mandioca e de carne-seca.

Puxão de orelha, Almeida Júnior

Além de receber a ajuda do Estado, a família que tomava a seu encargo a criação de uma criança abandonada dava provas de caridade cristã. A mortandade dessas crianças entregues às famílias criadoras também era muito alta.

As Casas dos Enjeitados não eram uma solução apenas para as camadas populares que tinham dificuldades em criar os filhos. Elas serviam também para encobrir desvios morais e preservar as famílias das elites. Era um lugar para filhos ilegítimos. Livrando-se do filho indesejado, a mulher, solteira ou casada, se livrava também da condenação moral aos amores proibidos.

Consciente ou inconscientemente, as autoridades reconheciam que a roda dos enjeitados contribuía para a conservação da moralidade das elites. Tanto que essas autoridades não se preocupavam em esclarecer a origem da criança. Portanto, a roda também tinha por finalidade evitar situações embaraçosas para as "boas famílias". Salvavam-se a criança e a moral dessas famílias.

Em relação às camadas pobres e miseráveis da população, a roda significava a solução de um problema público. No que se refere à elite, era a solução para problemas privados.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 253-6.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: a frágil família popular

[...]

O primeiro aspecto a salientar nas organizações familiares populares era o seu caráter instável. A tal ponto que se chegou a duvidar de que essas camadas populares constituíssem verdadeiras famílias.

O número de filhos bastardos, o concubinato, a bigamia, os filhos abandonados, os lares desfeitos, a dificuldade de obter o mínimo necessário para a subsistência, a miséria extrema que levava à mendicância eram evidências da extrema fragilidade das famílias populares.

Negra pobre dando a mão ao filho que leva uma cana na mão, Joaquim Cândido Guillobel

As famílias de escravos, pela própria natureza do regime escravista, eram as mais instáveis e existiam em pouco número. A situação precária em que viviam os negros forros também dificultava a constituição de famílias.

Negro pobre carregando cesto às costas, Joaquim Cândido Guillobel

Assim sendo, a família da gente livre e pobre estruturou-se independentemente dos laços matrimoniais. Tanto na sociedade relativamente urbanizada de Minas Gerais, no auge da economia mineira, como em São Paulo ou no Rio de Janeiro do período imperial, a proporção de casas cujos chefes eram mulheres era muito grande.

Interior de uma casa do baixo povo, Joaquim Cândido Guillobel

A historiadora Laura de Mello e Souza estudou essa camada social na sociedade do ouro, mostrando toda a precariedade em que vivia. Eram homens, mulheres e crianças que viviam nos limites da sobrevivência. Nesse meio os filhos bastardos eram maioria absoluta. A maior parte das uniões era legalmente ilícita e contrária à moral católica oficial.

Os lares chefiados por mulheres sem marido ou companheiro representavam quase a metade dos existentes em Vila Rica na segunda metade do século XVIII.

A taxa de prostituição era alta, e a miséria das mulheres era tanta que as que tinham roupas decentes para se apresentar em público despertavam desconfiança dos fiscais por esse "luxo".

A numerosa camada social situada entre a elite e os escravos tinha como característica fundamental a pobreza e a instabilidade. Tanto que a referida historiadora encontrou na expressão desclassificados do ouro a melhor maneira de defini-los. Nesse meio era quase impossível a constituição de famílias estáveis, qualquer que fosse o modelo delas ou sua forma de organização. Na verdade estamos diante de uma "desorganização familiar", determinada pela extrema precariedade das condições de existência material.

Família pobre em casa, Jean-Baptiste Debret. A imagem mostra uma moradia popular. Uma velha viúva e sua filha viviam na pobreza, mas possuíam uma escrava, cujo trabalho de carregadora de água garantia o sustento das três. Na volta de sua jornada, a escrava traz um cacho de bananas. Falta nesse grupo a figura do pai, marido ou companheiro. Eram numerosos os lares chefiados por mulheres nos meios populares.

Outra historiadora, Maria Odila Leite da Silva Dias, levantou dados que demonstraram que cerca de um terço dos lares paulistanos na segunda metade do século XIX também eram chefiados por mulheres. Famílias que também, na sua maioria, viviam na pobreza.

Mulher negra, Almeida Júnior

Para o Rio de Janeiro, além de dados levantados pela pesquisa acadêmica, temos o registro da literatura. O Cortiço, de Aluísio Azevedo, por exemplo, retrata a instabilidade das famílias populares e a precariedade do seu modo de vida. A obra revela ainda a violência que envolvia a vida cotidiana dos membros das camadas sociais populares e marcava as relações familiares.

PEDRO, Antônio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 252-3.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: o modelo burguês de família

O último baile, Aurélio de Figueiredo

A concepção burguesa de família se implantou no Brasil no decorrer do século XIX. Foi durante esse período que a sociedade brasileira assimilou, de alguma maneira, as ideias liberais europeias e os progressos tecnológicos da Revolução Industrial. Esse modelo burguês de família obrigou, pela primeira vez no país, a uma clara delimitação no meio urbano entre o espaço privado e o espaço público. Essa família burguesa tinha como uma das suas características a intimidade.

Enquanto a família patriarcal é numerosa, estendida, a família burguesa se caracteriza por um triângulo básico: a esposa, o marido e os filhos.

Cena de família de Adolfo Augusto Pinto, Almeida Júnior

Aqui o modelo burguês de família encontrou uma realidade completamente diferente da europeia, na qual nasceu. No Brasil do período imperial, predominava o mundo rural, o escravismo e o latifúndio exportador. Não havia aqui uma aristocracia com hábitos mais modernos, nem uma classe burguesa, nem uma urbanização acentuada.

[...]

Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil e a posterior emancipação política, houve um incremento da vida urbana e uma assimilação de hábitos europeus pelas nossas classes dominantes. O comportamento das elites portuguesas que acompanharam a família real influenciou uma mudança de hábitos dessas classes. As famílias importantes do meio rural passaram a ter sua casa na cidade, particularmente no Rio de Janeiro. Iam para o Rio para que os filhos pudessem estudar, para tratar de negócios, participar da vida social urbana e se aproximar do centro do poder.

Esse comportamento aristocrático trazido pela elite portuguesa pode ser resumido na noção de mundanismo. Vida mundana seria aquela voltada para os prazeres do mundo, frequentando teatros, espetáculos, bailes e saraus. Admirar obras de arte, ter uma vida social intensa, praticando o jogo do amor e da conquista, faziam parte do estilo de vida mundano.


Leitura, Almeida Júnior

O mundanismo rompeu com a moralidade rígida, com o ideal de vida criado pelo cristianismo, marcado pela recusa ao prazer.

Esse novo estilo de vida arrancou esposas e filhas da clausura do lar, permitindo que elas tivessem uma vida mais livre: sair às comprar, seguir a moda europeia, frequentar teatros e cafés, ler romances de folhetim.

Se o mundanismo trouxe a mulher da família patriarcal para fora de casa, a concepção burguesa de família, à medida que tomava força, a conduziu de volta ao lar.

A concepção burguesa de família, que começou a se firmar no Brasil durante o período imperial, teve como um dos seus principais veículos as recomendações e práticas dos médicos higienistas.

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Entre os diferentes temas abordados pelos higienistas, muitos estavam relacionados à mulher e à família: puberdade feminina, menstruação, relações sexuais, prostituição e higiene da primeira infância. Os papéis e os comportamentos da mulher, dentro e fora do cenário familiar, passaram a ser preocupações médicas. A influência desses especialistas aumentava quando eles tinham funções públicas ou políticas importantes, como chefes de sanatórios, diretores de hospitais, deputados e senadores.

Na concepção de família proposta no trabalho desses especialistas, a mulher teria um importante papel. Ela seria um misto de ama, enfermeira, professora e administradora das despesas da casa. Nesse novo papel, ela seria a rainha do lar.

Retrato de Senhora, Henrique Bernardelli

A mãe dedicada e atenciosa era um ideal de mulher que só podia ser plenamente atingido na família burguesa, Os cuidados e a supervisão da mãe passaram a ser muito valorizados. Era louvável que as próprias mães se encarregassem da primeira educação dos filhos, não os deixando sob os cuidados de amas, principalmente de escravas negras.

Dessa forma os médicos, os educadores e a própria imprensa procuraram preparar a mulher para o papel de guardiã do lar e da família. Combatia-se duramente o ócio feminino, sugerindo que as mulheres se dedicassem de corpo e alma aos afazeres domésticos e se desdobrassem nos cuidados para com o marido e os filhos.

Fiel retrato do interior de uma casa brasileira, Joaquim Cândido Guillobel

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Considerada como a base moral da sociedade, a mulher de "boa família", esposa e mãe burguesa, deveria ainda zelar pela sua castidade e pela das suas filhas.

A par dessas recomendações às mulheres das elites, o Estado desencadeou uma série de ações para controlar as camadas populares. Isso era feito em nome da saúde, da segurança e da moralidade. A ordem pública contribuiria para a preservação da honra das mulheres pertencentes às classes médias e altas da população.

Nesse modelo burguês de família, o casamento era usado como um meio de ascensão social. A mulher casada tinha também a função de contribuir para a mobilidade social da sua família. Isso podia ser feito através de um comportamento adequado quando ela aparecia em público ou quando recebia visitas. Nessas ocasiões tinha de desempenhar o papel de esposa e mãe exemplar. Suas filhas, como moças de boa família, poderiam encontrar bons casamentos, contribuindo para a ascensão social da família.

Essa mulher estava, portanto, destinada ao casamento. As que não se casavam melhor seria que fossem para um convento, preservando assim, o "bom nome" da família.

Nesse tipo de casamento, estava presente o interesse de conservar e ampliar o patrimônio econômico da família e mesmo a sua influência política. Tanto que a mulher tinha de ter um dote, o qual se confundia com a própria honra da pretendente ao casamento. Em outras palavras, a moça sem dote não podia ser honrada.

As moças candidatas ao casamento deviam aparecer sempre bem cuidadas e manter a castidade. Isso exigia rigoroso controle sobre o comportamento delas.

Família brasileira a passeio, Joaquim Cândido Guillobel

Conservar a honra da família era também zelar pelos seus interesses políticos e econômicos. A virgindade feminina era requisito fundamental para o casamento nas classes altas, independentemente de ser ou não valorizada por si mesma. Ela servia para manter a condição da noiva como objeto de valor econômico e político. A continuidade da família e a herança dos descendentes dependiam dela.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 248-251.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: a família patriarcal

Uma família brasileira, Henry Chamberlain

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Até o começo do século XIX, a vida urbana no Brasil era desprezível. A cidade do Rio de Janeiro, que já era capital da colônia 45 anos quando chegou aqui a Família real, era uma cidadezinha de ar empesteado pelo mau cheiro das latrinas e das águas paradas. As ruas eram irregulares e na maioria delas não se sabia onde terminava a área privada e começava a pública. Não havia uma verdadeira sociedade urbana no Brasil do início do século XIX.

Escravos carregando barril de vinho, Henry Chamberlain

A caracterização da família patriarcal brasileira de raízes coloniais foi feita pelo sociólogo Gilberto Freyre, na sua clássica obra Casa-grande & Senzala, publicada em 1933. Era uma família poligâmica, cujo chefe, geralmente um homem branco, tinha um poder quase absoluto sobre os que viviam na sua propriedade, a começar por sua mulher e seus filhos e chegando aos escravos. Para ele todas as relações sexuais eram possíveis. Escravos e agregados não tinham condições de opor resistência aos seus desejos e vontades. Essa liberdade sexual dos patriarcas deu origem a numerosos filhos bastardos, os quais compunham a camada social e racial típica da nossa sociedade colonial: a dos mulatos.

As mulheres brancas, esposa e filhas do patriarca, pelo contrário, estavam submetidas a um rigoroso controle. A fidelidade da esposa e a castidade das filhas deviam ser preservadas de maneira absoluta.

[...]

Um funcionário do governo sai a passeio com a família, Jean-Baptiste Debret. A imagem mostra uma tradicional família patriarcal brasileira, embora se trate de um funcionário do governo, e não de um típico grande proprietário. Conforme nos informa o próprio Debret, era costume nessa classe a família caminhar em fila. O patriarca segue na frente seguido pelos filhos. Atrás a esposa e a sua escrava mulata, que serve de criada de quarto, a ama-de-leite e a escrava dessa ama. Depois temos o escravo doméstico do senhor, seguido de um jovem escravo que está aprendendo o serviço e de outro, comprado recentemente.

O poder do patriarca se manifestava fora do seu círculo familiar, estendendo-se para toda a sociedade. Isso se dava pelo clientelismo, ou seja, pela criação de laços pessoais de dependência e fidelidade, decorrentes da capacidade do patriarca de prestar favores, dar proteção e trabalho. Dessa forma, os homens livres, pobres ou remediados, formavam a clientela do grande proprietário.

Senhora brasileira em sua cadeira, Henry Chamberlain

A família de escravos ou a dos homens livres pobres e até mesmo a família conjugal de nossa época não escaparam da influência desse modelo patriarcal de família.

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PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 247-248.

sábado, 19 de setembro de 2015

O que aprendemos com os povos indígenas

Guerreiro cheyenne com cocar, escudo e lança, ca. 1915-1937. Monroe Tsatoke

Tomate, batata, feijão, milho, mandioca e cacau são algumas das dezenas de plantas descobertas e cultivadas pelos povos nativos da América, há milhares de anos. Hoje, a dieta básica de milhões de pessoas de todo o mundo contém espécies vegetais originadas do continente americano. Mesmo o chiclete, a goma de mascar popularizada pelos norte-americanos, foi tomado dos maias, inclusive seu nome; ainda hoje sua matéria-prima é extraída das florestas tropicais da Meso-América, onde estão os sapotis, a árvore de onde se extrai o "chicle". É igualmente grande o número de plantas empregadas na indústria que os antigos povos da América já utilizavam: borracha, palmeira, carnaúba, amendoim, castanha-do-pará, girassol, tabaco, algodão, juta e sisal são alguns exemplos. O conhecimento acumulado pelos ameríndios ao longo de muitas gerações está merecendo, atualmente, a atenção dos cientistas.


O presente, 1922. Ernest L. Blumenschein

Os grupos indígenas desenvolveram uma ciência própria. Alguns, por exemplo, classificam o solo de acordo com as plantas e a matéria inorgânica (areia e argila, por exemplo) que a compõem. Dão nomes específicos a cada tipo de solo e discriminam as plantas ideais para cultivar em cada um. Na mata virgem, identificam centenas de espécies vegetais, muitas das quais desconhecidas pelos botânicos. Além das alimentícias, os indígenas reconhecem plantas medicinais (curativas, anestésicas, antissépticas etc.), inseticidas, tóxicas, corantes, fertilizantes, lubrificantes, além daquelas usadas para cobrir casa, trançar cestos e esteiras, fabricar ferramentas e armas, conter encostas e barrancos.


Mestre de cerimônias, 1925. Gerald Cassidy

Alguns medicamentos da medicina ocidental foram feitos a partir de plantas há tempos utilizadas pelos indígenas, como o ipecacuanha (tratamento de infecções gastrintestinais), a capaíba (contra afecções das vias urinárias), a quinina (contra a malária), a coca (como anestésico local), o curare (em cirurgias cardíacas) e o peiote (em tratamentos psiquiátricos) - plantas perigosas que, entre os ameríndios, só eram manipuladas pelos curandeiros ou sacerdotes, pois o erro na dosagem podia matar o doente.

A indústria têxtil usa espécies de algodão há milênios cultivadas pelos indígenas da América e consideradas as melhores do mundo.

[...] astecas e incas, para aproveitar os espaços e ampliar as áreas de cultivo [criaram] as chinampas, os canais de irrigação e o uso de fertilizantes naturais. Muitos pesquisadores já demonstraram que essas técnicas são mais simples, baratas e tão produtivas quanto aquelas que utilizam as modernas e caras máquinas e fertilizantes químicos de hoje.


O cacique do pueblo, 1916. Walter Ufer

Outras culturas nativas americanas também desenvolveram eficientes técnicas agrícolas. Ao contrário do que muitos pensam, os indígenas interferiram na natureza, criando artificialmente terrenos propícios à lavoura. No Brasil, por exemplo, há grupos indígenas que espalham sobre a área de cultivo uma mistura de palha com terra de cupinzeiros e formigueiros esmagados. Colocam cupins e formigas vivas na terra recém-cultivada para que os insetos lutem entre si e não ataquem os brotos. Transplantam espécies vegetais para locais onde elas não são comuns.

Na Amazônia, onde o solo se esgota rapidamente e a camada de húmus é muito fina, os indígenas desenvolveram a agricultura itinerante. Uma família derruba apenas a área correspondente à sua capacidade de trabalho (em geral um hectare). A mata derrubada é deixada  para secar por dois ou três meses. Procede-se, então, à primeira queima, que é, depois, seguida de nova queimada com os galhos e folhagens que restaram.


Nas Colinas de Pé, 1896. John Hauser

Os indígenas que utilizam a técnica da coivara sabem quando é chegada a hora da queima. Observam a direção do vento e se orientam por alguns sinais da natureza. Os kuikuro, por exemplo, que vivem no Alto Xingu, só procedem à queimada quando a constelação do Pato aparece do lado leste do céu, antes do raiar do sol, e quando as tracajás desovam nas praias do rio Culuene. Não se sabe qual é a relação entre esses fenômenos e o sucesso da queima, mas sabe-se que os kuikuro nunca provocaram um incêndio na floresta.

A cinza obtida fertiliza imediatamente o solo e o carvão é enterrado para servir de adubo extra que a planta absorverá durante seu crescimento. Inicia-se, então, o cultivo de diversas espécies com alturas diferentes - o que reduz o impacto dos ventos e das fortes chuvas e evita a propagação de pragas. Pela mesma razão, o mato que cresce entre as plantas cultivadas não é arrancado. depois que a terra se esgota, ela descansa por dois ou três anos. Ali crescerão brotos e folhagens que alimentarão pacas, queixadas e caititus, transformando-se em uma área de caça para a tribo.


Dança do búfalo, 1860. Karl Ferdinand Wimar

As técnicas agrícolas indígenas, do tipo extensivo e policultor, têm a vantagem de manter a fertilidade do solo e permitir a rápida recuperação da floresta. Já as fazendas de gado da Amazônia mostram um resultado inverso. Uma única fazenda desmata cerca de 10 mil hectares num ano para formação de pastagens. O desmatamento é total, e a superfície do solo fica exposta ao calor do sol e às pancadas de chuva, provocando sérias alterações no meio ambiente. Além disso, cada hectare produz somente 30 kg de carne bovina ao ano. Isso significa que um boi come o equivalente ao que alimenta uma família indígena no mesmo período, com a agravante de destruir o solo.

RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. p. 128-130.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A difusão cultural

O Senado de Tlaxcala, Rodrigo Gutiérrez

O eminente etnólogo norte-americano Paul Radin defende, entusiasticamente, a seguinte tese: as civilizações Maia, Pré-Incaica e Incaica seriam as grandes criadoras e irradiadoras culturais do continente. Os Maias teriam exercido influencia nos atuais territórios do México e dos Estados Unidos e mediante sucessivas migrações rumo ao sul, teriam também influenciado a América Central e América do Sul. O início destas migrações - a data não é precisa - remonta a uns cem anos antes de Cristo. Essas migrações massivas - cujos motivos desconhecemos - levavam consigo os admiráveis elementos da civilização Maia que, no contato com outros povos de níveis de desenvolvimento inferiores aos deles, perderam parte de sua entidade original exercendo porém uma intensa e benéfica influência. Ainda de acordo com a tese de Radin, os vestígios da cultura Maia são encontrados em uma área gigantesca, habitada por inúmeros povos de diferentes níveis culturais, possuidores de diferentes manifestações daquela cultura.

Atualmente, não há dúvida alguma de que os povos pré-incaicos possuíam uma civilização de altíssimo nível, e que a tribo Inca que os dominou e construiu o império [...] não acrescentou grande coisa àquelas civilizações. Também estaria fora de discussão o caráter de pólo irradiador de civilização que haviam tido e cujas projeções chegam até os Araucanos no sul do Chile, os Kauka no Equador, os Chibcha na Colômbia, os Calchaques na Argentina e numerosíssimas comunidades indígenas do Brasil. Povos que viviam nas margens do Rio Amazonas e seus tributários assim como os Tupi-Guarani, teriam sido alcançados de formas diversas pela civilização que, a partir do terceiro século de nossa era, irradiou-se das regiões que hoje formam o Peru e a Bolívia. Também nesse caso cada povo assimilou a influência à sua maneira e aproveitou dela aqueles elementos que pudessem facilitar sua sobrevivência e talvez aquilo que seu nível cultural permitisse assimilar.

Excelentes estudos confirmam a existência de comunicações marítimas entre México e Peru. Entre outras, são muitas as provas arqueológicas e filológicas. O momento do apogeu destes contatos situa-se antes da criação da Confederação Asteca e do Império Inca e, de acordo com Paul Rivet e Arsendaux, entre os séculos X e XI de nossa era. [...]

POMER, León. História da América hispano-indígena. São Paulo: Global, 1983. p. 36-7.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Os Incas

"O maior império das Américas foi o dos índios quíchuas, conhecido também como Império Inca, por ser esse o título de seus chefes supremos, tidos como filhos do sol.

A civilização quíchua ou incaica desenvolveu-se em regiões dos atuais Peru, Equador, Bolívia, Chile, atingindo seu auge no século XIV. [...]" HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: FTD, 1974. p. 192.

Manco Capac, primeiro Inca, Artista desconhecido

Os métodos de conquista dos incas forma algumas vezes brutais: deportaram os povos insubmissos, aos milhares, mandando-os para pontos distantes do Império; levaram os filhos dos chefes vencidos como reféns para Cuzco, a capital inca. Impuseram a todos os povos submetidos a sua religião, que cultuava Viracocha, deus supremo e criador de todas as coisas, e Inti, o deus Sol, do qual o imperador inca dizia ser descendente direto. Tornaram ainda a sua língua, o quíchua, idioma oficial de todo o Império.

Para controlar e unificar seu território, os incas construíram cerca de 40 mil km de estradas, ligando montanhas, vales e o litoral. Pontes suspensas feitas de cordas trançadas e pontes de madeira e de pedra passavam sobre precipícios, pântanos e rios. Por elas circulavam os mensageiros do imperador (os chasquis), o exército e o próprio Inca (o imperador) com sua comitiva.

As terras conquistadas eram divididas em três partes: um terço para o Inca, outro para o deus Sol (administrado pelos sacerdotes, mas que, na prática, eram do imperador) e o terço restante para os agricultores e suas famílias. Os adultos deviam prestar  um certo tempo de trabalho gratuito para o Inca e os deuses, cultivando as terras deles, produzindo objetos artesanais ou construindo e conservando pontes, estradas, edifícios públicos. Esse trabalho gratuito chamava-se "mita".

"A arquitetura constitui a expressão máxima da cultura inca. Nas construções mais importantes, usavam-se blocos de pedra ou granito modelados com extraordinária precisão. Por não possuírem ornamentos esculpidos, as construções incas aparentam uma certa austeridade, sobretudo se comparadas às dos maias e astecas. Na realidade, muitas dessas construções foram despojadas de seus ornamentos pelos espanhóis, os quais retiraram todos os trabalhos em ouro que, muitas vezes, revestiam as paredes de aposentos inteiros. Os conjuntos arquitetônicos mais impressionantes e mais bem conservados da civilização Inca são as cidades-fortalezas de Sacasahuamán e Machu Picchu." História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 26


O excedente de alimentos era armazenado e distribuído à população em caso de carestia. Graças ao trabalho coletivo, foram construídos enormes terraços em degraus nas íngremes encostas das montanhas dos Andes. Irrigados e adubados com excrementos de aves e restos de peixes, os terraços garantiam uma farta colheita de cerca de quarenta espécies de plantas, como milho, batata, vagem, amendoim, abóbora e algodão.

"Cada homem se alistava com seu instrumento de trabalho, formando-se assim uma larga frente de agricultores. Atrás deles as mulheres e os meninos iam avançando pausadamente, desfazendo os montículos com uma vara e depositando em cada cova aberta pelo homem algumas sementes, e cobrindo logo de terra o buraco, com as mãos e os pés, para evitar que as aves comessem os grãos". MIRANDA, Fernando M. A cultura dos incas. In: LEVENE, R. História das Américas. Rio de Janeiro: Jackson Editores, 1964. v. 2. p. 121

A numerosa mão-de-obra disponível era o mais importante recurso que o Estado possuía para conservar e estender seus domínios. A população era regularmente recenseada e registrada por idade. Assim, o imperador podia saber, por exemplo, o número de homens aptos a prestar a mita ou a lutar na guerra. Os registros eram feitos nos quipos, um feixe de cordões coloridos com nós.

Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974,
LEVENE, R. História das Américas. Rio de Janeiro: Jackson Editores, 1964. v. 2. 
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. 

domingo, 13 de setembro de 2015

Nazcas. Mochicas. Tiahuanaco e Chimu

Poncho Nazca, ca. 400-500. Artesão desconhecido

Cerca de 500 a.C., várias culturas regionais começaram a suplantar a cultura Chavín, do Peru. O povo Paracas, que floresceu na costa sul do Peru entre 500 a.C. e 200 d.C., adotou muitos elementos da iconografia Chavín, inclusive as representações de felinos que aparecem em sua cerâmica. O clima seco, que possibilitava a mumificação dos cadáveres, preservou também belos tecidos de decoração exuberante, com criaturas míticas e animais fantásticos. O maior depósito de múmias, cerca de 430 delas, foi encontrado em Wari Kayan, na península de Paracas, todas revoltas em tecidos e acompanhadas de oferendas fúnebres, como ornamentos em ouro.

* Os Nazcas. A cultura Nazca floresceu no sul do Peru de cerca de 200 a.C. a 500 d.C. Embora fossem em sua maioria habitantes de aldeias, os nazcas chegaram a construir complexos arquitetônicos impressionantes, como o monumental centro religioso em Cahuachti, por volta de 100 d.C. Embora seus tecidos, trabalhos em metal e cerâmica fossem de alta qualidade, eles são mais conhecidos pelos desenhos que fizeram no deserto. Os nazcas criaram uma gama de imagens de animais e representações abstratas retirando pedras da superfície do deserto e expondo o subsolo para criar as linhas. Os desenhos, alguns dos quais têm muitos quilômetros de extensão, só podem ser vistos completamente do alto. Entre eles estão a figura de um beija-flor sugando néctar de uma planta e a de um macaco com a cauda enrolada. Seu propósito permanece desconhecido.

* Os Mochicas. Os vales do norte do Peru passaram a ser dominados pelos mochicas em cerca de 100 d.C. Artesãos talentosos, eles construíram também grandes pirâmides, conhecidas como huacas, e são notáveis por seus delicados tecidos, trabalhos em metal e cerâmica. A partir de Huaca del Sol, possivelmente o centro de irradiação dessa cultura, os mochicas desenvolveram uma sociedade predominantemente agrícola. Mais tarde, por volta de 300 d.C., surgiram centros urbanos maiores. Esse povo se expandiu para regiões do sul, e há indicações de atividades guerreiras, frequentemente representadas na decoração de cerâmica. No final do séc. VI d.C., desastres ambientais como secas e inundações parecem ter minado a estabilidade desse povo, e sua civilização entrou em colapso. PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 157.


Cocar mochica com ornamentos de Condor. Artista desconhecido

* Tihuanaco e Chimu. No território da atual Bolívia, perto do lago Titicaca, encontram-se as ruínas de templos, muralhas, estátuas e outras construções de pedra. Pertenceram à cidade de Tiahuanaco, um centro religioso que, entre os anos 600 e 1000, atraiu milhares de pessoas, habitantes da região dos Andes.


Objetos de Tihuanaco, ca. 800-1200. Artistas desconhecidos

O local é inóspito com frio intenso, ventos fortes, geadas, mudanças bruscas de tempo, ciclos de seca alternados com grandes chuvas e inundações avassaladoras. Além disso, está a 3,8 mil metros de altitude. Para enfrentar essas dificuldades naturais, o povo de Tihuanaco cultivou espécies resistentes de batata, quinoa (um cereal semelhante ao arroz) e milho, construiu canais de irrigação e desenvolveu formas de conservação dos alimentos. Criou lhamas e alpacas, que, além de fornecerem leite, lã e carne, adubavam a terra com seu estrume.

"Com base em pesquisas arqueológicas concluiu-se que as populações costeiras do norte e do sul reagiram de forma diferente à influência de Tiahuanaco. Os mochicas, guerreiros e agressivos, não estavam dispostos a abrir mão do controle que exerciam sobre todo o litoral norte e resistiram energicamente. Acredita-se que, depois de derrotados, teriam migrado para os vales mais setentrionais, como os de Lambayeque e Piúra, onde conservaram as principais características de sua civilização, as quais reapareceriam modificadas nas culturas de Chimu. Já as populações de Nazca, em um processo inverso, parecem ter sido facilmente assimiladas, e sua cultura desapareceu para sempre." (História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 24.)

Desconhecem-se as causas do fim de Tihuanaco. A cidade já havia desparecido quando os chimus, no norte do Peru atual, consolidaram a conquista de seu Império. Por mais de trezentos anos (entre 1100 e 1470), os chimus dominaram diversos povos que viviam em uma faixa de mil quilômetros ao longo do litoral do Peru.


Manto chimu (detalhe). Artesão desconhecido

Em seu apogeu, a capital chimu, Chan-Chan, tinha cerca de 50 mil habitantes. Era formada por dez cidadelas (centros fortificados), cada uma contendo espaços cerimoniais, cemitérios, campos de cultivo murados, pirâmides etc. Muitos muros e paredes foram decorados com frisos em relevo feitos de barro, que reproduziam desenhos geométricos e figuras marinhas estilizadas.

Os chimus alcançaram um grande desenvolvimento metalúrgico, criando diversas técnicas para trabalhar o bronze, o cobre, a prata e o ouro. Foram também notáveis engenheiros hidráulicos. Abriram canais de irrigação, construíram cisternas para captação de água da chuva e ergueram diques para conter inundações.


Figura chimu, têxtil, ca. 1100-1550. Artesão desconhecido

Por volta de 1470, o Império Chimu caiu sob o domínio dos incas, Como eles estavam mais interessados em expandir seus domínios do que em acumular tesouros ou capturar escravos, as obras dos chimus não foram destruídas. No entanto, chuvas fortes e inundações devastadoras danificaram seriamente as construções de barro dos chimus. Os ladrões de tumbas completaram a destruição.

Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os Astecas


Os astecas eram caçadores e coletores nômades que, por volta do século XIII, penetraram no vale do México e serviram como guerreiros mercenários para alguns povos que ali viviam. Depois, aplicaram a experiência militar que adquiriram para derrubar seus antigos senhores. 


Fundação da cidade do México, José María Jara

Em 1325, os astecas fundaram a cidade de Tenochtitlán (localizada onde hoje se situa a Cidade do México). Com duas outras cidades-estados, Texcoco e Tlacopán, formaram uma poderosa aliança que logo conquistou todo o vale. Calcula-se que a aliança controlava cerca de 10 milhões de pessoas de diferentes culturas, que falavam uma língua comum, o "nahuatl". Essa população pagava tributos em mercadorias e fornecia prisioneiros para serem sacrificados ao deus asteca Huitzilopochtli.

Tenochtitlán era a capital política e religiosa do Império Asteca. Construída sobre uma ilha no lago Texcoco, estava unida às margens por três estradas flutuantes. Possuía ruas largas, palácios, mercados, escolas, jardins e templos em forma de pirâmide. Ao redor da cidade, foram construídas ilhotas artificiais, chamadas "chinampas", onde se cultivavam verduras e flores e se criavam perus. No movimentado mercado da cidade, usavam-se sementes de cacau como moeda para adquirir todo tipo de mercadoria: mantas de algodão, cerâmica, víveres, flores, esteiras de junco, milho. penas coloridas etc. Fiscais do governo controlavam o comércio, verificando pesos, medidas, preços e qualidade dos produtos.


Cultivo do milho, Códex Florentino. Bernardino de Sahagún

"A economia asteca baseava-se na agricultura, no comércio e nos tributos pagos com produtos locais pelos povos vencidos. Plantavam milho. feijão, tomate, melões, baunilha. cacau, algodão. agave, tabaco. Com o cacau preparavam uma bebida quente chamada chocolatl e com o agave uma bebida fermentada, semelhante à bebida mexicana de hoje, o pulque. Comerciavam as mais variadas mercadorias; os mercados astecas e os comerciantes vendiam tecidos, cordas e sandálias de agave, plumas, animais selvagens, peles, produtos da terra, cerâmicas, fumo, sal, grande quantidade de ouro, prata, pedras preciosas e até escravos (prisioneiros de guerra). [...]" HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 191.


Astecas fumando e bebendo pulque. Codex Mendoza. Artista desconhecido

Os domínios astecas eram controlados por fiscais e cobradores de impostos. Esses altos funcionários pertenciam à nobreza e tinham privilégios, como isenção de impostos, uso de jóias e recebimento de terras. Mas, se agissem de forma desonesta, eram punidos com mais severidade do que os cidadãos comuns. O imperador era escolhido pelas suas qualidades guerreiras (seu título não era hereditário).

Os sacerdotes eram tão importantes quando o imperador e os nobres. Além das cerimônias religiosas, eles cuidavam da contagem do tempo, dos livros sagrados e da educação dos jovens. As escolas sacerdotais eram abertas aos meninos de todas as camadas sociais. Outros grupos sociais eram os artesãos, os agricultores, os comerciantes e os escravos.

"Os astecas eram exímios artesãos e desenvolveram técnicas de grande habilidade. Na indústria de tecidos, conseguiram excelentes resultados trabalhando o algodão, que fiavam manualmente com o auxílio de rocas de cerâmica. Seus ourives eram também muito hábeis, e as jóias que produziam em ouro e prata deixaram os espanhóis admirados". REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 175.

Os exércitos astecas eram numerosos e bem-organizados. Todos os jovens deviam estudar na escola militar, e os melhores lutadores passavam a integrar as principais ordens militares.

"Os astecas cultivavam a poesia, sobretudo a lírica e a religiosa. Ao que parece, sua produção literária também compreendia peças dramáticas, próprias para a representação teatral. Graças a transcrições que os espanhóis fizeram de partes de alguns textos poéticos, conservam-se cerca de sessenta cantos e vinte hinos litúrgicos dos astecas, que eram acompanhados de instrumentos de sopro e percussão." História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 22.


Mãe asteca ensinando sua filha a fazer tortillas. Códex Mendoza. Artista desconhecido


Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. 
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. 
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Os Toltecas. Os Maias



* Os Toltecas. Por volta do séc. IX, surgiram no México novas culturas, mais militarizadas e bem situadas para se aproveitarem da persistente situação de guerra da região. Entre eles estavam os chichimecas, nômades invasores vindos do norte, e uma outra cultura, mais avançada, conhecida como tolteca, da qual os astecas se diziam descendentes.

Os toltecas entraram no México no início do séc. X e, liderados por Topiltzin Quetzalcoatl, construíram  sua capital em Tollan (atual Tula). De lá, entre 950 e 1150, eles controlaram uma parte do vale do México, Puebla e Morelos. Os locais de imolação adornados com os crânios dos inimigos e os temas de sacrifício humano predominantes em seus baixos-relevos indicam uma cultura de povo guerreiro. Por volta de 1180, tribos inimigas invadiram Tollan, incendiando a cidade e pondo fim ao domínio tolteca no México central. PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 204.


Ruínas de Tollan. Arquitetura tolteca. 

* Os Maias. O conhecimento que se tem da cultura maia baseia-se em pesquisar arqueológicas e no estudo das estelas e dos códigos manuscritos elaborados por esse povo. Os documentos mais antigos são as estelas, monólitos que apresentam um grande número de inscrições e sinais de calendário. Um outro documento de suma importância pela sua antiguidade é a chamada "tabuinha de Leyda", que remonta aos primórdios do período clássico, por volta de 320 d.C. Com relação aos códigos, apenas três salvaram-se da destruição por parte dos conquistadores espanhóis: o de Dresden, o Trocortesiano e o Peresiano. Esses documentos são feitos de cortiça revestida com uma camada fina de cal, onde estão gravadas inscrições e figuras coloridas alusivas ao calendário, a práticas de adivinhação e a rituais religiosos dos maias.

Apenas a terça parte dos textos inscritos nos monólitos já foi decifrada; e no que diz respeito aos códigos, estes carecem de dados especificamente históricos, deficiência em parte compensada pelos relatos que funcionários e sacerdotes europeus redigiram, com base em informações prestadas pelos nativos. Além disso, existem documentos manuscritos em idioma nativo mas com caracteres latinos que datam do período imediatamente posterior à conquista espanhola. Segundo especialistas, tais registros poderiam ser a transcrição de antigos documentos maias que teriam sido destruídos. HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 10-11. Volume 3.

* Os centros cerimoniais. A civilização maia formou-se por volta do século IV, numa região próxima ao oceano Pacífico, na atual fronteira entre o México e a Guatemala. Espalhou-se depois por toda a Guatemala, sul do México, península do Iucatán, Belize e parte ocidental de Honduras. Era constituída por centenas de centros cerimoniais autônomos, que se ligavam por rotas terrestres e fluviais, permitindo uma intensa troca de produtos: obsidiana, jade, plumas de quetzal, cacau, tecidos de algodão, punhais de sílex, peles de jaguar, cerâmica, centre outros. 

Os centros cerimoniais maias não eram exatamente cidades. Eles reuniam os templos, as residências dos governantes, os monumentos políticos e as praças destinadas às celebrações. Neles moravam somente os sacerdotes, os governantes e os servidores dos templos.  Não tinham muralhas nem fortificações. A população vivia em pequenos casebres dispersos pelos arredores e ia ao centro apenas para as cerimônias religiosas e para o mercado.

As construções maias traziam numerosas inscrições com nomes de governantes e datas.  Marcar o tempo era uma grande preocupação de seus sacerdotes, que usavam dois calendários: um religioso, com 260 dias, e um de uso civil, com 360 dias mais 5 dias considerados nefastos. A cada 52 anos, quando os dois calendários coincidiam, começava uma nova era, comemorada com a construção de novos templos sobre os antigos.  RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. p. 118.

Dignitário maia, Campeche, Ilha de Jaina, ca. 600-800. Artista desconhecido

* Economia. Os maias, cuja economia baseava-se na agricultura, dedicavam-se ao plantio do milho. O cultivo desse cereal absorvia apenas 48 dias de trabalho nos campos, permitindo que o tempo restante fosse empregado na construção de centros religiosos, templos monumentais, observatórios astronômicos, plataformas destinadas a danças e jogos e a rituais religiosos sob a direção de uma poderosa classe sacerdotal.  HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 190.

O trabalho na terra era feito coletivamente. As vastas plantações eram irrigadas com o auxílio de sistemas que aproveitavam as águas do rio San Juan e das chuvas. Os maias também praticavam a caça e a pesca com frequência.

No comércio usavam às vezes sementes de cacau ou contas coloridas como moedas. Não só comercializavam produtos agrícolas, mas também mantas de algodão, camisas, jóias e tintas para pintar o corpo.  REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 175.

Um senhor maia proíbe uma pessoa de tocar em um recipiente de chocolate. Artista desconhecido


* As mulheres. As mulheres encarregavam-se dos serviços culinários. Aproveitavam o milho de muitas maneiras, depois de colocá-lo de molho em água e sal e moê-lo. Com esse produto faziam pão, uma pasta muito utilizada na dieta alimentar, uma espécie de leite e até mesmo uma bebida, à qual também misturavam cacau e pimenta.


Cerâmica maia: mulher com criança, Campeche, Ilha de Jaina, ca. 600-900. Artista desconhecido

As mulheres participavam ativamente da vida social. Como assinala F. de Aparício, delas dependiam "o sustento da casa, o pagamento de tributos, a educação dos filhos, a fiação e a tecelagem, bem como o amanho da terra." REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 175-6.

Vaso: mulher maia, ca. 600-900. Artista desconhecido


* Indumentária. Os homens usavam uma faixa de algodão enrolada ao redor do tronco, passando entre as pernas, caindo uma das extremidades para a frente e outra para trás, e um quadrado de fazenda abotoa nos ombros à guisa de capa. Os cabelos eram tonsurados na frente, deixando uma longa cauda cair pelas costas. Até o casamento, o corpo e o rosto eram pintados de negro, depois de vermelho. Os guerreiros pintavam-se de negro e vermelho, os sacerdotes de azul, os prisioneiros de riscas horizontais brancas e pretas. Tatuavam-se e usavam perfumes. Os nobres e sacerdotes apresentavam um aspecto resplandecente: plumas, ornamentos de jade, pingentes de conchas, peles de jaguar, dentes de crocodilo, colares, braceletes e penachos e, para os chefes, as suntuosas plumas da cauda de quetzal, de cor verde-azul irisada.

As mulheres vestiam uma túnica de algodão, bordada com flores, pássaros, insetos; usavam um longo manto; cobriam a cabeça com um pedaço de fazenda. Seus cabelos eram longos. Tatuavam-se e perfumavam-se. MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 43-4. [História geral das civilizações, v. 10]

Pintura mural, Bonampak. Artistas desconhecidos
Foto: Inakiherrasti


* Produção artística. O alto nível de organização social atingido pelos maias revela-se na extraordinária qualidade de sua produção artística; sobretudo nas artes plásticas, em que se verifica uma acentuada preferência pelos baixos-relevos, presentes nas inúmeras estelas produzidas por esse povo. O grau de perfeição alcançado na pintura pode ser observado nos afrescos descobertos em Bonampak, que cobrem as paredes de três recintos de um edifício, dispostos em largas faixas horizontais superpostas. Estas faixas representam cenas de cerimônias religiosas, danças e batalhas, revelando particularidades a respeito das roupas, ornamentos, armas e instrumentos musicais dos maias. História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 16. Volume 3.

Vaso maia: cena de batalha, ca. 600-900, Guatemala. Artista desconhecido

* Festas e guerras. Os maias gostavam de se divertir. Promoviam então bailes que chegavam a durar o dia inteiro, nos quais dançavam e bebiam bastante. O saldo dessas festanças nem sempre era agradável, pois elas resultavam às vezes em brigas violentas e até em mortes. As mulheres apenas serviam bebidas aos homens, não chegando a dançar. Tinham, no entanto, suas festas particulares, quando também se embriagavam.

Festas à parte, os maias eram hábeis guerreiros. Usavam arco e flecha, assim como lanças e machados de metal com cabo de madeira. Protegiam-se com escudos. Quando vencedores, cortavam a mandíbula inferior do inimigo morto para usar como bracelete nas festas e cerimônias. REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 176.

Figura masculina com máscara removível, Campeche, Ilha de Jaina ca. 700-900. Artista desconhecido.


* Legado. Legaram-nos [...] belos exemplos de pintura mural, de cerâmica e de objetos de adorno executados em jade, quartzo e turquesas, os materiais mais preciosos para os maias; desenvolveram um calendário aperfeiçoadíssimo [...] e uma escrita hieroglífica com a qual documentaram acontecimentos históricos, dados de astronomia, rituais, métodos de adivinhação, conhecimentos científicos. HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 190-1.

Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. Volume 3.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974.
MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. [História geral das civilizações, v. 10]
PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.