Até o começo do século XIX, a vida urbana no Brasil era
desprezível. A cidade do Rio de Janeiro, que já era capital da colônia 45 anos
quando chegou aqui a Família real, era uma cidadezinha de ar empesteado pelo
mau cheiro das latrinas e das águas paradas. As ruas eram irregulares e na
maioria delas não se sabia onde terminava a área privada e começava a pública.
Não havia uma verdadeira sociedade urbana no Brasil do início do século XIX.
Escravos carregando barril de vinho, Henry Chamberlain
A caracterização da família patriarcal brasileira de raízes
coloniais foi feita pelo sociólogo Gilberto Freyre, na sua clássica obra Casa-grande
& Senzala, publicada em 1933. Era uma família poligâmica, cujo
chefe, geralmente um homem branco, tinha um poder quase absoluto sobre os que
viviam na sua propriedade, a começar por sua mulher e seus filhos e chegando
aos escravos. Para ele todas as relações sexuais eram possíveis. Escravos e
agregados não tinham condições de opor resistência aos seus desejos e vontades.
Essa liberdade sexual dos patriarcas deu origem a numerosos filhos bastardos,
os quais compunham a camada social e racial típica da nossa sociedade colonial:
a dos mulatos.
As mulheres brancas, esposa e filhas do patriarca, pelo
contrário, estavam submetidas a um rigoroso controle. A fidelidade da esposa e
a castidade das filhas deviam ser preservadas de maneira absoluta.
[...]
Um funcionário do governo sai a passeio com a
família, Jean-Baptiste Debret. A imagem mostra uma tradicional família
patriarcal brasileira, embora se trate de um funcionário do governo, e não de
um típico grande proprietário. Conforme nos informa o próprio Debret, era
costume nessa classe a família caminhar em fila. O patriarca segue na frente seguido pelos
filhos. Atrás a esposa e a sua escrava mulata, que serve de criada de quarto, a
ama-de-leite e a escrava dessa ama. Depois temos o escravo doméstico do senhor,
seguido de um jovem escravo que está aprendendo o serviço e de outro, comprado
recentemente.
O poder do patriarca se manifestava fora do seu círculo
familiar, estendendo-se para toda a sociedade. Isso se dava pelo clientelismo,
ou seja, pela criação de laços pessoais de dependência e fidelidade,
decorrentes da capacidade do patriarca de prestar favores, dar proteção e
trabalho. Dessa forma, os homens livres, pobres ou remediados, formavam a
clientela do grande proprietário.
Senhora brasileira em sua cadeira, Henry Chamberlain
A família de escravos ou a dos homens livres pobres e até
mesmo a família conjugal de nossa época não escaparam da influência desse
modelo patriarcal de família.
[...]
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História
por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 247-248.
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