"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Família brasileira no Império: a família patriarcal

Uma família brasileira, Henry Chamberlain

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Até o começo do século XIX, a vida urbana no Brasil era desprezível. A cidade do Rio de Janeiro, que já era capital da colônia 45 anos quando chegou aqui a Família real, era uma cidadezinha de ar empesteado pelo mau cheiro das latrinas e das águas paradas. As ruas eram irregulares e na maioria delas não se sabia onde terminava a área privada e começava a pública. Não havia uma verdadeira sociedade urbana no Brasil do início do século XIX.

Escravos carregando barril de vinho, Henry Chamberlain

A caracterização da família patriarcal brasileira de raízes coloniais foi feita pelo sociólogo Gilberto Freyre, na sua clássica obra Casa-grande & Senzala, publicada em 1933. Era uma família poligâmica, cujo chefe, geralmente um homem branco, tinha um poder quase absoluto sobre os que viviam na sua propriedade, a começar por sua mulher e seus filhos e chegando aos escravos. Para ele todas as relações sexuais eram possíveis. Escravos e agregados não tinham condições de opor resistência aos seus desejos e vontades. Essa liberdade sexual dos patriarcas deu origem a numerosos filhos bastardos, os quais compunham a camada social e racial típica da nossa sociedade colonial: a dos mulatos.

As mulheres brancas, esposa e filhas do patriarca, pelo contrário, estavam submetidas a um rigoroso controle. A fidelidade da esposa e a castidade das filhas deviam ser preservadas de maneira absoluta.

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Um funcionário do governo sai a passeio com a família, Jean-Baptiste Debret. A imagem mostra uma tradicional família patriarcal brasileira, embora se trate de um funcionário do governo, e não de um típico grande proprietário. Conforme nos informa o próprio Debret, era costume nessa classe a família caminhar em fila. O patriarca segue na frente seguido pelos filhos. Atrás a esposa e a sua escrava mulata, que serve de criada de quarto, a ama-de-leite e a escrava dessa ama. Depois temos o escravo doméstico do senhor, seguido de um jovem escravo que está aprendendo o serviço e de outro, comprado recentemente.

O poder do patriarca se manifestava fora do seu círculo familiar, estendendo-se para toda a sociedade. Isso se dava pelo clientelismo, ou seja, pela criação de laços pessoais de dependência e fidelidade, decorrentes da capacidade do patriarca de prestar favores, dar proteção e trabalho. Dessa forma, os homens livres, pobres ou remediados, formavam a clientela do grande proprietário.

Senhora brasileira em sua cadeira, Henry Chamberlain

A família de escravos ou a dos homens livres pobres e até mesmo a família conjugal de nossa época não escaparam da influência desse modelo patriarcal de família.

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PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 247-248.

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