"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os lídios

Rei Candaules, Jean-Léon Gérôme


Creso recebendo tributo de um camponês lídio. Claude Vignon

Quando caiu o império hitita, no século VIII antes da nossa era, seu sucessor nas principais áreas de domínio foi o reino da Lídia. Os lídios estabeleceram o seu poder sobre o que é hoje território da República Turca, na Anatólia. Não tardaram a obter o controle das cidades gregas da costa da Ásia Menor e de todo o planalto ao poente do rio Hális. Mas esse poder foi de curta duração. Em 550 a.C., Creso, o fabuloso rei dos lídios, julgou ver uma boa oportunidade de acrescentar aos seus domínios o território dos medos, a leste daquele rio. O rei medo acabava de ser deposto por Ciro, o chefe dos persas. Antecipando um fácil triunfo para os seus exércitos, Creso lançou-se à conquista das terras de além-Hális. Após uma batalha indecisa com Ciro, tornou à sua capital (Sárdis), em busca de reforços. Ali, Ciro apanhou-o desprevenido num ataque de surpresa, capturou e incendiou a cidade. Os lídios nunca se refizeram do golpe e em pouco tempo todo o seu território, inclusive as cidades gregas da costa, passaram para o domínio de Ciro o Grande.


Candaules, rei da Lídia, mostra sua mulher que esconde Giges na cama, um de seus ministros. William Etty

Creso mostra seu tesouro para Sólon. Gaspar van den Hoecke

Falavam os lídios uma língua indo-europeia e eram provavelmente uma mistura de povos nativos da Ásia Menor e elementos étnicos procedentes da Europa Oriental. Aproveitando as vantagens de uma posição favorável e da abundância de recursos naturais, desfrutavam um dos mais altos padrões de vida da antiguidade. Eram famosos pelo esplendor dos seus carros brindados e pela profusão de ouro e objetos de luxo que os cidadãos possuíam. A riqueza dos seus reis era lendária, como o atesta a frase feita rico como Creso”. As principais fontes dessa prosperidade eram o ouro extraído das torrentes, a lã dos milhares de ovelhas que pastavam nas colinas e os lucros auferidos do extenso tráfico entre o vale do Tigre-Eufrates e o Mar Egeu. Mas, com toda a sua opulência e oportunidades de lazer, a civilização não deve aos lídios mais que uma única contribuição original. Referimo-nos à cunhagem de moeda com eletro ou “ouro branco”, uma liga natural de ouro e prata, encontrada nas areias de um dos seus rios. Até então, todos os sistemas monetários tinham consistido em argolas ou barras de metal, de peso determinado. As novas moedas, de vários tamanhos, traziam gravado o valor que lhes era conferido, de maneira mais ou menos arbitrária, pelo soberano que as emitia.


Creso na fogueira. Ânfora ática, ca. 500-490 a.C., Myson

BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental: do homem das cavernas até a bomba atômica. Porto Alegre: Globo, 1964. V. 1,  p. 142-143.

NOTA: O texto "Os lídios" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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