"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 4 de julho de 2016

"O viver em colônias" [Parte 3 - Equilíbrio instável / Agricultura predatória]

* Equilíbrio instável. Os habitantes da colônia viviam num equilíbrio precário, e seu cotidiano estava sujeito às oscilações do preço dos produtos exportados do Brasil para o mercado europeu, além de todo tipo de infortúnio ditado pelos caprichos da natureza, tais como enchentes, secas e epidemias, que periodicamente dizimavam boa parte da população.

A penúria ou a prosperidade dependiam dos ciclos de preços dos gêneros tropicais. Nos momentos em que o mercado internacional mostrava-se favorável, as propriedades eram utilizadas exclusivamente para a produção de açúcar, tabaco ou algodão. Para aproveitar a alta dos preços, os senhores compravam mais escravos e ampliavam a força de trabalho empregada. A contrapartida era a queda drástica da produção de gêneros de subsistência, que ficava em segundo plano. Estes se tornavam escassos e caros.

Com frequência, a população urbana da colônia era atingida pela fome. O abastecimento foi um problema constante para os moradores das cidades, pois os principais centros agrícolas dedicavam-se à produção de gêneros tropicais para exportação. Nas cidades, os alimentos eram poucos, caros e de qualidade duvidosa. A falta de gêneros de subsistência provocou várias revoltas durante o período colonial. Nas minas, a fome contrastava ainda mais com a riqueza, a ostentação e o luxo das procissões religiosas. Os mais atingidos pelo desabastecimento e a carestia crônica eram os que faziam parte da população livre mestiça.


Derrubada de uma floresta, Johann Moritz Rugendas

* Agricultura predatória. Os engenhos de cana-de-açúcar lidavam ainda com outro inconveniente: dependiam de lenha abundante para purgar e refinar o açúcar. A lenha, principal combustível utilizado na agroindústria do açúcar, provinha das matas que cercavam os engenhos. Quando as matas mais próximas esgotavam-se, muitos engenhos simplesmente fechavam por falta de combustível. A agricultura colonial era, essencialmente, uma agricultura predatória, pois não repunha os elementos que mantinham a produtividade do solo. Três séculos de colonização resultaram em terras desgastadas e abandonadas, além de matas devastadas, apesar de todos os esforços da Coroa, no sentido de regulamentar um uso mais adequado da vegetação nativa, para evitar o desmatamento indiscriminado.

MOTA, Carlos Guilherme; LOPEZ, Adriana. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora 34, 2015. p. 234-5.

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