"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A mulher e a sexualidade na Roma antiga: Sexualidade, religião e razão de Estado

De acordo com a concepção cristã tradicional, o lugar "normal" de manifestação da sexualidade é o casamento, e a sua função básica é a reprodução. Em nossa sociedade, até recentemente, sexo com o objetivo de prazer era visto de modo negativo, até como pecado.

A sociedade greco-romana da Antiguidade era completamente diferente. Tanto que os primitivos cultos aos deuses e deusas romanos da fertilidade e do amor incluíam o uso de símbolos fálicos e relações sexuais entre os cultuadores desses deuses. Se o Estado romano procurou sempre controlar as manifestações de sexualidade da população, não foi porque ela era considerada um mal em si, mas porque se achava que o amor e o sexo levavam a ações apaixonadas e irracionais.

Confidências, Sir. Lawrence Alma-Tadema

[...] O amor era sagrado, misterioso, impulsivo, além de ser fonte de vida e de prazer. Mas, exatamente por ser tão poderoso, precisava ser controlado em nome da ordem e do interesse público.

A sexualidade é natural e instintiva, mas como os seres humanos são portadores de cultura, ela se manifesta segundo determinadas regras. A essas regras se acrescenta o controle das leis do Estado. Algumas manifestações religiosas que expressavam a cultura do povo romano foram reprimidas pelo Estado. Foi o caso das orgias, como eram chamadas as festas religiosas ligadas ao culto do deus Baco, nas quais aconteciam grandes bebedeiras.

Atualmente, na maioria dos países do mundo há uma separação entre religião e Estado. As pessoas são livres para praticar a religião que quiserem, e o Estado não obriga ninguém a ter uma religião. Ela é, portanto, um assunto privado. O casamento, embora tenha caráter sagrado para várias religiões, para o Estado é um contrato civil: duas pessoas assumem uma série de deveres e direitos recíprocos.

Na Antiguidade greco-romana não havia essa separação, pois o próprio Estado tinha um caráter sagrado. Dessa forma, era normal que o Estado controlasse a religião. A autoridade religiosa máxima em Roma era exercida por um funcionário público, o Sumo-Pontífice.

Em todas as sociedades o casamento tem uma importância geral e coletiva. É o casamento que constitui as famílias e cria a responsabilidade de determinados adultos em relação às crianças. Esses adultos ficam responsáveis pela educação e socialização das crianças.

Todavia, apesar de ser de interesse público, o casamento é visto por nós como assunto pessoal, de interesse privado. Conscientemente ninguém casa para cumprir deveres cívicos, servir a pátria e colaborar com o bem público. Nós sempre associamos casamento ao amor. Duas pessoas se casam porque existe um sentimento de amor entre elas.

Nesse aspecto, a sociedade romana antiga também era muito diferente, pois em Roma se casava mais por dever cívico e interesse político do que por amor. O desejo, o amor e a afetividade se davam mais fora do casamento do que dentro dele.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 211-212.

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