"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 5 de julho de 2016

"O viver em colônias" [Parte 4 - Vilas e cidades]

Nas vilas e nas cidades, a vida era igualmente violenta. Era perigoso andar à noite pelas te ruas das grandes aglomerações urbanas da colônia. "Todas as manhãs cadáveres de vinte e cinco a trinta pessoas recentemente assassinadas eram encontrados pelas ruas, apesar da vigilância dos soldados que as patrulhavam durante a noite", conforme afirma o historiador inglês Charles Boxer, citando o depoimento de um viajante italiano que esteve em Salvador no ano de 1699.


Uma venda em Recife, Johann Moritz Rugendas

Em Pernambuco, a violência chegou a tal ponto que, em várias ocasiões, os governadores proibiram os moradores de entrar armados nas vilas e cidades. Nessa capitania, desde a ocupação holandesa, no século XVII, a vida era de uma insegurança crônica. Os homens livres andavam pesadamente armados a toda hora. Afirmava-se que mais pessoas tinham sido mortas no início do século XVIII do que durante toda a guerra contra os holandeses. Além disso, entre a população livre, era voz corrente que "matar não é assassinar". Cometiam-se crimes brutais por motivos fúteis, tais como vingança pessoal, adultério feminino e outras ofensas menores.

Nas regiões onde a principal atividade era a mineração, a violência era ainda maior. Os roubos e assassinatos eram mais frequentes, e a ação de quilombolas atormentava os habitantes das vilas e os tropeiros. A exploração das minas e a expansão da vida urbana facilitavam as fugas e a compra da própria liberdade, motivo pelo qual havia nessas áreas uma proporção maior de negros livres.

MOTA, Carlos Guilherme; LOPEZ, Adriana. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora 34, 2015. p. 235.

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