"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Os limites do totalitarismo: resistência na Alemanha nazista

A literatura produziu dois clássicos de ficção política na primeira metade do século XX: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley (1932), e 1984, de George Orwell (1949), ambos com várias edições em diversas línguas. O primeiro mostra um mundo onde a vida das pessoas é controlada por meio da ciência e da técnica. No segundo, a dominação política total é obtida pela repressão e pelo controle de toda e qualquer comunicação.

Mas, mesmo nessas histórias de ficção, existe uma falha do poder. Alguém, mesmo só por um momento, escapa do controle absoluto.

No caso do regime nazista, que não pertence ao mundo da ficção mas ao da realidade histórica, o controle da comunicação e do pensamento também não foi total e absoluto. Existem muitas evidências da capacidade de resistência a esse poder avassalador do Estado nazista. [...]

A juventude de classe média alta alemã tomou gosto pelo swing, música popular de raízes negras dos Estados Unidos. Essa juventude achava muito entediante a música volkish, ou seja, do povo, da raça alemã. Os nazistas defendiam esse tipo de música, ao mesmo tempo que condenavam as músicas estrangeiras, particularmente o swing e o jazz, ambos de origem negra e considerados imorais e destruidores da tradição alemã.

O Café Sing Sing, em Berlim, fotografado em 1934. Os garçons e a banda de jazz vestiam-se como prisioneiros, e mesmo o cenário lembrava a prisão de Sing Sing, nos Estados Unidos. Mesmo em meio à rígida disciplina nazista, as pessoas abriam espaços de crítica e resistência. 
[1934, Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Stock Photos]

Essa juventude desafiava as autoridades, promovendo reuniões para ouvir jazz e dançar swing e também organizando shows com grupos musicais alemães que imitavam as orquestras dos Estados Unidos.

Tais manifestações de inconformismo com a cultura oficial eram duramente reprimidas. Mesmo assim continuaram acontecendo clandestinamente. Um relatório da Juventude Hitlerista fala de um desses "festivais", ocorrido em fevereiro de 1940 em Hamburgo, com a presença de quinhentos a seiscentos jovens.

Outro exemplo de resistência foram as pichações. Os muros e paredes eram pichados com dizeres contra o nazismo e seus líderes. Isso era feito nas horas em que as cidades eram bombardeadas pelos aliados.

A queda na tiragem dos jornais logo depois que os nazistas submeteram todas as publicações de jornais e livros à censura do Estado também pode ser interpretada como uma reação à doutrinação nazista: muitos deixaram de ler jornais.

Outra forma de driblar a censura era escrevendo romances que se passavam em outras épocas, criando histórias e personagens medievais com características dos líderes nazistas, criticando-os indiretamente.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 36-7.

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