"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 1 de julho de 2015

"A jangada da Medusa", Géricault


A jangada de Medusa, Géricault

A "Jangada da Medusa" retrata vítimas de um naufrágio, à deriva, sem comida ou água, no momento em que avistam um navio ao longo. O pintor representa o momento dramático - o instante em que os sobreviventes recuperam a esperança de salvamento - mas transmite o desespero da situação por meio de uma combinação de truques de pintura. Géricault usa todos os instrumentos do pintor - cor, composição, clima e luz - para representar o tema da luta do homem contra a natureza.

Géricault divide a cena em dois triângulos superpostos. O triângulo à esquerda, definido pelo homem no mastro e as duas cordas, mostra os mortos e os moribundos. O triângulo à direita, cujo pico é o homem de pé abanando com a camisa, é composto por figuras dinâmicas com braços estendidos, indicando a chegada repentina da esperança. A colocação desse triângulo na extrema direita, a direção dos olhares, os gestos e o arranjo do panejamento, tudo isso contribui para o efeito de um impulso para diante e direciona o olhar do espectador ao ponto focal das figuras acenando freneticamente.

Géricault cria a impressão de movimento contrastando as posturas das figuras. O quadro como um todo parece crescer para cima, partindo das figuras prostradas na parte de baixo à esquerda em direção ao alto do lado direito, onde se concentram as figuras sentadas e de braços estendidos. O homem que acena no alto do triângulo direito é o clímax da atmosfera de renascer da esperança e do movimento de avanço.

Diagrama mostrando o contorno dos dois triângulos

Para evitar que os dois triângulos - um de desespero, outro de esperança - cortem o quadro pelo meio, Géricault superpõe os triângulos com figuras de transição aparecendo em ambos. Um braço corta a corda (a linha mais forte do triângulo esquerdo), apontando para o pico do triângulo principal e unificando as duas metades. Os dois triângulos descentrados também conduzem a direções diferentes, um equilibrando o outro.

Géricault pinta nuvens de tempestade e ondas encrespadas escuras para criar um clima ameaçador. O horizonte - onde se situa o navio - brilha como um farol de salvação. Os fortes contrastes claro/escuro em todo o quadro implicam a alternância das emoções de esperança e desespero.

A miscelânea de linhas dos corpos contorcidos sugere um ambiente de turbulência adequado ao tema de luta titânica contra os elementos.

STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 1.

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