"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Como se perdem documentos?

Perderam-se numerosos documentos no decurso dos séculos, devido a várias causas: o material empregado era frequentemente pouco duradouro; foram destruídos pelas chamas ou pelos ratos e outros bichos; arruinados por ódio, fanatismo, negligência, ou ignorância; aniquilados por poderem comprometer as classes governantes ou a reputação nacional; faziam o resto catástrofes metereológicas, guerras e revoluções.

O descuido e a ignorância são fatores importantes na destruição de documentos privados e, infelizmente, também de documentos públicos e oficiais nos países onde ainda não existe uma forte tradição histórica. Toda pessoa de certa idade sabe que de vez em quando se torna necessária uma limpeza geral do nosso arquivo pessoal, da qual pode ser vítima também uma carta ou uma anotação eventualmente importante para um futuro historiador. Os documentos públicos, nos países civilizados, estão geralmente bem guardados, mas também eles não estão ao abrigo da ação do tempo, de incêndios, de guerras e revoluções. Foram lastimáveis as perdas de fontes históricas nas épocas de grandes perturbações políticas e sociais: a invasão dos bárbaros no Império Romano; a Queda de Constantinopla; as lutas religiosas nos tempos da Reforma; as guerras civis e externas da Revolução francesa e da época napoleônica; as duas guerras mundiais. Na primeira guerra mundial foi destruída, por exemplo, grande parte da biblioteca de Lovaina; na segunda foi uma das vítimas a célebre biblioteca do Monte Cassino.


O último dia de Pompeia, Karl Briullov

A atos de vandalismo intencional, como costumam ocorrer em tempos de guerras e revoluções, acrescem os chamados "atos herostráticos", atos de destruição proposital feitos por pessoas com o fim de se tornarem célebres. Heróstrato incendiou em 356 a.C., na noite do nascimento de Alexandre Magno, o templo de Diana em Éfeso, uma das sete maravilhas do mundo: não vendo meios de celebrizar-se com um ato heroico, tentou imortalizar-se com um crime horrendo. Nos tempos modernos verificaram-se casos semelhantes, por exemplo em Florença com o vaso de François, e em Londres com o vaso de Portland, mas, ao contrário de Heróstrato que atingiu o seu alvo, os criminosos contemporâneos, em geral, não conseguem perpetuar o seu nome com esses atos anormais. Houve também outros casos de destruição deliberada, originados por desespero ou por ressentimento contra a sociedade, por exemplo no Louvre em Paris.

BESSELAAR, José van den. Introdução aos estudos históricos. São Paulo: EPU, 1973. p. 140-1.

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