"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Dos lampiões à eletricidade: mudanças no cotidiano

Acendedor de lampião

Quem cuidava da iluminação eram os vaga-lumes. Não o inseto, é claro. Mas os profissionais responsáveis por acender e apagar os lampiões das cidades. Eles eram fundamentais até 1930, quando eletricidade ainda era artigo raro e, no lugar de lâmpadas, os postes usavam gás. Eles tinham de ser acendidos e apagados todos os dias por alguém e já eram uma invenção e tanto. Antes deles, a rotina de todo mundo durava só enquanto houvesse a luz do sol. No Brasil, onde os dias são sempre longos e claros, isso não era um problema tão grande, mas nos países mais frios, como a Inglaterra, isso significava ter apenas seis ou sete horas ativas durante o inverno.

Os ingleses ficaram tão impressionados com a criação dos postes a gás, que não tiveram coragem de usá-los em abundância. Em 1830, Londres só acendia todos os postes duas vezes por ano: no aniversário da rainha Vitória, 24 de maio, e no aniversário do príncipe de Gales, 9 de novembro. Nos outros dias, só se houvesse uma notícia muito boa, como o fim de uma guerra.

Para sair de casa à noite, adultos usavam tochas, e crianças, uma espécie de lanterna improvisada. Ela era feita com uma lata de óleo cheia de gravetinhos com fogo e tinha de ser girada vez por outra para que não apagasse.

Domingo à noite em Neustift am Walde, Hans Larwin 

Dentro das casas, as pessoas resolviam o problema do mesmo jeito que você faz hoje quando a luz acaba: ligavam lanternas e acendiam velas. A diferença é que as lanternas eram à base de querosene e as velas, feitas de sebo. Ou seja, nada funcionava tão bem quanto agora. Os lampiões de querosene eram tão fracos que às vezes era preciso riscar um fósforo para ter certeza de que a chama estava acesa. Já as velas, difíceis de conseguir, deviam ser usadas com economia. Só os ricos abusavam. Nos palácios, grandes castiçais, cheios de velas, faziam o trabalho das lâmpadas de hoje.

As duas mães, Giovanni Segantini 

Quando a luz elétrica se espalhou pelo país, os acendedores de lampião não foram os únicos a desaparecer. Também sumiram o fogão a lenha, o forno a brasa, as lavadeiras nos chafarizes, o banho frio... A vida de todo mundo foi completamente transformada pela invenção do americano Thomas Edison. Morar, comer e cuidar da higiene se tornaram tarefas muito mais confortáveis.

Outra mudança importante com a chegada da energia foi a limpeza das casas. No Brasil, os quartos costumavam não ter janelas. Assim, ficavam na penumbra durante o dia e na escuridão durante a noite, deixando a sujeira pouco visível. Mas foi só acenderem uma lâmpada para verem o chiqueirinho em que eles estavam se transformando!

Como sempre, também houve quem reclamasse da eletricidade. As vaidosas madames inglesas não gostavam nem um pouco quando aquelas lâmpadas brilhantes revelaram sem dó as suas rugas e imperfeições. "A luz elétrica, tão boa para os papéis de parede e os móveis, nem sempre é conveniente para as mulheres", dizia uma propaganda na Inglaterra em 1901. O anúncio vendia sombrinhas, que as mulheres passaram a usar dentro das casas para esconder o rosto da tal luz elétrica!

SOALHEIRO, Bárbara. Como fazíamos sem... São Paulo: Panda Books, 2006. p. 128-131.

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