"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

As cidades fenícias e o comércio

"[...] foste cheia de bens e te glorificaste muito no meio dos mares." 
(Ezequiel, 27, 25)

"Pela extensão da tua sabedoria, pelo comércio aumentasse o teu poder, e elevasse o teu coração por causa do teu poder." (Ezequiel, 28, 5)

Relevo fenício
                      
Na Fenícia, não havia um Estado unificado. Cada cidade (Biblos, Ugarit, Sidon, Tiro) formava um Estado independente. Os regimes políticos variaram conforme as épocas e os lugares. Assim, encontramos cidades ora organizadas como monarquias hereditárias, ora como repúblicas plutocráticas. No caso das monarquias hereditárias, à frente do Estado havia um Rei, com poderes despóticos ou militados. Nas repúblicas plutocráticas, o governo era exercido por um Conselho de Anciãos ou Juízes (Sufetas), geralmente integrado pelos comerciantes ricos. De qualquer modo, em todas as cidades-Estados fenícias predominava socialmente uma oligarquia mercantil, formada pelos grandes comerciantes e armadores (proprietários de navios), que governava as cidades. Os sacerdotes também desfrutavam de grande poder e prestígio, recebendo os templos grandes doações. Os setores mercantil e sacerdotal da classe dominante predominavam sobre a massa urbana e camponesa e os escravos.

A História política da Fenícia é, na verdade, a história das suas cidades-Estados. De acordo com a importância comercial, em dado momento histórico, uma das cidades se projetava e predominava sobre as outras. O período de florescimento das cidades fenícias estendeu-se do século XII ao VIII a.C. A História política dos fenícios resumiu-se, sucessivamente, na hegemonia de Biblos, Ugarit, Sidon e Tiro.

Na Fenícia, não havia grandes rios e planícies aluvionais, como no Egito e na Mesopotâmia. Assim, desde cedo, a principal atividade econômica dos fenícios foi a pesca. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se a construção de barcos. O artesanato concentrou-se nas cidades, praticado por artesãos especializados. Os fenícios destacaram-se na produção de tecidos (especialmente o de púrpura, obtido graças ao tingimento com uma substância de cor avermelhada extraída de um molusco - o múrex), armas, jóias, vasilhas, vidros transparentes etc. A necessidade de buscar matérias-primas (ouro, prata, marfim etc.) e de vender a sua produção artesanal cedo obrigaram os fenícios a aperfeiçoarem a construção naval e a desenvolverem um intenso comércio nas costas do Mediterrâneo. O transporte marítimo foi o principal meio de comunicação entre as cidades fenícias e o exterior, dada a dificuldade de comunicações pelo interior, onde predominavam as regiões montanhosas. Assim, em épocas remotas já havia um intercâmbio regular entre a cidade de Biblos e o Egito: troca de madeira de construção (cedro) por papiro.

Aos poucos, o comércio marítimo foi-se transformando na principal atividade econômica dos fenícios. Os mercadores fenícios exportavam pescado, vinho, azeite, madeira e a produção artesanal - tecidos, jóias, vasilhas etc. Além dessas mercadorias, os fenícios também negociavam escravos adquiridos nos países com que mantinham relações de intercâmbio.

Com o desenvolvimento da navegação e do comércio, os fenícios estenderam as suas rotas comerciais por todo o Mediterrâneo, estabelecendo feitorias, colônias ou obtendo concessões comerciais (estabelecendo-se em bairros nas cidades importantes) - um dos principais apoios da sua atividade comercial; ocuparam os litorais do Norte da África (Cartago), do Sul da França, do Sudoeste da Espanha (Cádiz) e ilhas do Mediterrâneo (Chipre). Nesses portos, os fenícios carregavam as suas embarcações com produtos exóticos (perfume, vasos), matérias-primas, escravos etc., e descarregavam a sua produção artesanal, a madeira, o vinho, o azeite etc.

A respeito das embarcações fenícias, podemos dizer que "primitivamente os barcos mercantes eram, ao mesmo tempo, barcos de guerra; mais tarde, foram construídos [...] navios de guerra mais longos, estreitos e rápidos, providos de remos, com reforçada proa para cravar com força o esporão de bronze (rostrum) no costado do navio inimigo e retirá-lo rapidamente a fim de que a água penetrasse pela abertura [...]." (WEISS, J. B. História Universal. Barcelona: Tipografia de la Educación, s/d, v. I, p. 813.)

As colônias fenícias estenderam-se por todo o Mediterrâneo, rivalizando em importância com as colônias gregas. A partir do século VIII a.C., entretanto, a expansão comercial grega suplantou o ativo intercâmbio dos fenícios no Mediterrâneo, contribuindo para o declínio das cidades-Estados fenícias.

AQUINO, Rubim Santos Leão de et alli. História das sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008. p. 185-187.

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