"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 4 de março de 2011

O jeans e a camiseta

James Dean

Nos anos 60, o movimento hippie acabou por ser incorporado aos meios de comunicação como um fenômeno da moda, embora não fosse esse o desejo de seus pioneiros. Pelo contrário, lutaram contra tal incorporação. Apesar da resistência inicialmente praticada por uma minoria, o vestuário tornou-se o principal elemento de identificação do movimento: jeans e camiseta.

A camiseta era uma peça do vestuário que por muito tempo foi usada como roupa de baixo, para evitar o desgaste da camisa e do incômodo resultante da transpiração ou para proteger-se do frio. A camiseta, ou a "camisa-de-meia", tornou-se de repente símbolo de uma geração, porta-voz de suas ideais e esperanças.

Antigamente, a camiseta aparecia em público quase sempre em suarentos trabalhadores braçais. Mais tarde, ela simbolizará a recusa à maneira tradicional de se vestir. Os personagens de Marlon Brando, em O selvagem, e de James Dean, em Juventude transviada, verdadeiros modelos de rebeldia que influenciaram todas as gerações futuras, foram os primeiros a subverter o costume. O rock'n'roll do final dos anos 50 já começara a dar conta dos reveladores detalhes dessa vestimenta.

A partir dos anos 60, a camiseta saía às ruas nas inúmeras marchas de protesto e, também, subia aos palcos vestindo as estrelas do rock. Naquela época, portar uma camiseta significava uma postura ousada, crítica e criativa. Assim, desde os anos 50 e, de forma explosiva, na década de 60, essa vestimenta de algodão foi adotada pela juventude como símbolo de contestação, ganhando seu lugar ao sol.

Os nômades hippies a elegeram como peça fundamental, dessacralizando os velhos costumes, desprezando a vestimenta excessivamente limpa e engomada, que indicava sinal de apego exagerado à imagem e comprometimento com o sistema. A camiseta encaixou-se como luva a um modelo simples e despojado de viver e vestir-se, além de seu aspecto prático no ato de lavar, passar (quando necessário). A mistura de estilos e o desalinho que ela implica só puderam vicejar em uma cultura na qual predominou a ironia, o choque, a contestação, a emoção e a liberdade de maneiras. [...]

Também o jeans, surgido em 1948, teve trajeto semelhante. Idealizado pelo vendedor de lona Levi-Strauss, inicialmente, era a roupa dos colonizadores do século XIX; feita de lona e com rebites nos bolsos para não rasgarem. Garimpeiros e caubóis que partiam para o oeste dos Estados Unidos em busca de ouro e fortuna precisavam de vestimenta resistente, rude e cômoda. Nos anos 60, a adoção do jeans expressou a crença numa vida mais livre, menos opressora, mais descontraída. Contrários ao conformismo, os jovens que o adotaram eram rebeldes às normas convencionais. Manifestavam uma postura de crítica à ostentação capitalista; por outro lado, o jeans ligava-se ao culto do corpo e à busca de uma sensualidade mais espontânea. Extraído de: CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da Rebeldia: a juventude em questão. 2001. p. 195-197.

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