"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 5 de março de 2015

O Magreb: O Estado argelino

Jovens senhoras no terraço em Tânger, Rudolf Ernst

O Estado argelino era governado por um beilerbei designado pelo sultão e suserano dos paxás de Túnis e Trípoli. A partir de 1587, o beilerbei foi substituído por um paxá, constituindo-se Argel, Túnis e Trípoli em Regências. [...] Na realidade, os delegados dos janízaros e dos corsários exerceram o Governo após 1587. [...]

[...] Como o próprio Império Otomano, estas distantes províncias do Magreb foram dirigidas por uma empresa militar de escravos e renegados que exploravam os [...] vencidos. Os "turcos", efetivamente, conquistaram a Argélia, colocaram guarnições nos pontos estratégicos [...]. Os mouros das cidades eram excluídos das funções e do serviço militar, reservados aos turcos de raça ou de "profissão". Frequentemente aliaram-se aos nômades vencidos, aos marabus e aos fanáticos do Islã.

Argel desenvolveu-se. Em meados do século XVI, a cidade contava 60.000 habitantes, renegados na maioria, mais 25.000 cativos cristãos. Em 1650, ultrapassava 100.000 habitantes com 25 a 35.000 cativos. O século XVII foi a idade de ouro do corso, pois os argelinos tiveram a habilidade de acrescentar navios de alto bordo às suas galeras. Em 1615-1616, as presas ultrapassaram 2 a 3 milhões de libras. Os escravos eram objeto do comércio mais lucrativo. Particularmente procurados eram as moças e os rapazes, "cuja sorte era fatal", e os trabalhadores especializados em construção de navios, nos trabalhos portuários e na artilharia. [...] O comércio era ativo. Mercadores europeus instalavam-se duradouramente mediante o pagamento de uma licença à Regência e de direitos de saída. Predominavam os judeus e os marselheses. Após 1685, sofreram a concorrência dos protestantes refugiados do Languedoc. Os europeus exportavam couros, cera, lã, tâmaras, plumas de avestruz, coral, cereais e, de Túnis, esponjas. Importavam armas, vinho e telas. Mas, quando as presas diminuíam, tornava-se necessária a elevação dos impostos, o que provocava perturbações. [...]

Em Argel, bem como em Túnis, encontravam-se entre os corsários as faianças de Delft, os mármores esculpidos da Itália, as sedas e os veludos de Lião e Gênova, os vidros de Veneza, os cristais da Boêmia, as pêndulas da Inglaterra. Os benefícios da pirataria multiplicavam as mesquitas e as fundações pias.

MOUSNIER, Roland. Os Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 190-192. (História geral das civilizações, v. 10).

Nenhum comentário:

Postar um comentário