"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Memória cultural: monumentos religiosos asiáticos

A arquitetura e as artes ao redor do mundo fornecem expressões visuais, auditivas e táteis das ideias religiosas. Na Índia, o berço do budismo, a religião inspirou a arte monumental, que também foi influenciada por povos estrangeiros invasores. Seguido da morte do governante devoto do budismo, Ashoka, e do colapso de seu império, no terceiro milênio a.C., ondas de povos migrantes - gregos, citas e kushans da Ásia Central - trouxeram influências estrangeiras novas para o subcontinente. A antiga arte budista, refletida nas cavernas de Bamiyan [...], no Afeganistão, exibe a influência das esculturas dos gregos e romanos transmitida pelos Kushans da Ásia Central. As cavernas Ajanta no Planalto de Deccan [...], contém extensos resquícios das pinturas Mahayana budistas nas paredes [...].

Os templos budistas indianos, ou stupas, que tomaram sua forma característica entre os séculos III a.C. e III d.C., foram arranjos formais dos portões e caminhos de pedra que cercavam um altar funerário, os túmulos, das relíquias budistas, como um osso ou outro resquício físico do Buda histórico. O domo da stupa que cobria os túmulos era um símbolo da abóboda celeste, encobrindo a montanha do mundo. Os fiéis percorriam os terraços circulares dentro das trilhas, que eram um espaço sagrado, exibindo cenas da vida de Buda assim como símbolos de morte e renascimento. Afrescos táteis esculturais adornam as stupas em um fluxo contínuo de imagens, como uma narrativa em afrescos pintados. [...]

As cavernas dos templos de Yun'gang e Longmen, no norte da China, são testemunhos da poderosa influência do budismo conforme foi se espalhando da Índia pela Ásia Central e pelo leste. [...] Imagens gigantes de Buda e numerosas esculturas menores em Yun'gang e Longmen exibem a devoção de ricos e poderosos fiéis, como a Imperatriz Wu [...]. A arte religiosa era produzida sob o patrocínio dos templos e mosteiros budistas, assim como por governantes por todo o leste da Ásia. As pinturas nas paredes das cavernas de Dunhuang [...] ilustram temas budistas criados para seduzir a audiência chinesa, mas eram claramente influenciados pelo estilo da Ásia Central.

Templo de Yun'gang

[...]

A arquitetura dos templos e esculturas hindus e a qualidade unitária da arte indiana, na qual o erótico e o demoníaco são expressões mútuas da unidade cósmica. Esculturas sensuais exibindo tais divindades como Shiva e sua esposa Parvari, unidos em um abraço erótico, manifestando o aspecto erótico da divindade, enquanto imagens de Parvari como uma mulher feroz brandindo armas, preparando-se para lutar, ilustravam seu lado demoníaco. Pelo século IX, os templos hindus eram cobertos por entalhes em relevos e padrões esculturais. Havia uma preferência por figuras humanas, embora elas normalmente representassem deuses e seres míticos, algumas vezes híbridos, meio homem meio animal [...]. Histórias épicas eram representadas; figuras femininas,  graciosas ninfas e deusas eram comuns.

A dispersão do budismo e do hinduísmo para o sudeste da Ásia é exemplificada por dois complexos de templos impressionantes, Borobudur, em Java, e Angkor Wat, no Camboja. [...] Angkor, a capital sagrada do império Khmer, era o local de numerosos templos incorporando imagens hindus e budistas durante o auge do poder Khmer, no século XII.

GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 285-286.

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