"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O Diabo é vermelho

Destruição em Granollers após a incursão 
alemã em 31 de maio de 1938. 
Foto de Winifred Bates

Melilla, verão de 1936: desata-se o golpe de estado contra a república espanhola.

O pano de fundo ideológico será explicado, depois, pelo ministro de Informação, Gabriel Arias Salgado:

- O Diabo mora num poço de petróleo, em Baku, e de lá manda instruções aos comunistas.

O incenso contra o enxofre, o Bem contra o Mal, os cruzados da Cristandade contra os netos de Caim. É preciso acabar com os comunistas, antes que os comunistas acabem com a Espanha: os presos têm um vidão, os professores expulsam os padres das escolas, as mulheres votam como se fossem varões, o divórcio profana o matrimônio sagrado, a reforma agrária ameaça o poder da Igreja sobre as terras...

O golpe nasce matando, e desde o começo é muito expressivo,

Generalíssimo Francisco Franco:

- Salvarei a Espanha do marxismo ao preço que for.
- E se isso significa fuzilar meia Espanha?
- Custe o que custar.

General José Millán-Astray:

- Viva a morte!

General Emilio Mola:

- Qualquer um que seja, aberta ou secretamente, defensor da Frente Popular, deve ser fuzilado.

General Gonzaço Queipo de Llano:

- Preparai as sepulturas!

Guerra Civil é o nome do banho de sangue que o golpe de Estado desata. A linguagem põe, assim, o signo da igualdade entre a democracia que se defende e o golpe militar que a ataca, entre os milicianos e os militares, entre o governo eleito pelo voto popular e o caudilho eleito pela mercê de Deus.


GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 270-1.

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