"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Povos da Oceania: os melanésios e os micronésios

Tohunga sendo alimentado no tapu (sagrado/proibido), Gottfried Lindauer. 

Os melanésios encontravam-se num estágio de civilização que recordava o período neolítico adiantado. Fisicamente mais evoluídos, de barba rala, o nariz mais reto, as arcadas supraciliares raramente proeminentes, usavam enfeites mais rebuscados: tatuagens para as mulheres, pinturas no corpo para os homens, deformação da cabeça ou da cintura, descoloração dos cabelos, ou pintura com ocre, colares e braceletes feitos de dentes e de conchas, plumas ou flores nos cabelos.

Seus utensílios eram mais aperfeiçoados: achas de pedra polida, facas de conchas, limas em pele de raia, sovelas de ouro, armas variadas, compreendendo arcos e fundas. Eram principalmente excelentes marinheiros que sabiam construir e dirigir grandes pirogas e também hábeis agricultores que, com um simples pau para revolver a terra, cultivavam inhame e taro. Conheciam o sistema monetário, baseado em plumas ou em dentes, eram ávidos de lucro e alguns faziam belas fortunas, emprestando a um juro de 100%.

Sua sociedade era matriarcal. Eram os tios quem mandavam nos filhos da irmã. Os homens comiam e dormiam numa espécie de clube da aldeia e os dois sexos viviam quase sempre separados. O casamento fazia-se por compra e os ricos eram polígamos.

O Estado político era democrático, mas as sociedades secretas desempenhavam grande papel e nestas só os ricos, que podiam despender grandes somas e dar festas, ascendiam aos graus superiores. Estas sociedades aterrorizavam os não-iniciados por meio de agressões, multas e até a morte.

Suas crenças religiosas eram vivas, embora, ao mesmo tempo, de um nível inferior às dos outros povos precedentes, menos civilizados. Acreditavam no mana, virtude sobrenatural transmissível. Um bom pescador possuía o mana. Para triunfar em qualquer coisa era preciso mana, e este podia conseguir-se através da magia. Algumas formas de mana eram perigosas. Nessa altura o tabu (interdição) era lançado sobre as pessoas, os objetos ou os lugares que o possuíam. Todos eram animistas, isto é, acreditavam na existência de espíritos difundidos nas pedras, nas árvores, nas serpentes, em toda parte. Mas não se elevavam ao politeísmo; acreditavam na sobrevivência dos espíritos dos mortos. Entregavam-se a preces, sacrifícios, cantos ritmados e talhavam na madeira a figura do antepassado que participaria na vida de seus descendentes.

Os micronésios assemelhavam-se-lhes muito, embora num grau um pouco mais elevado. Navegadores notáveis, os seus comerciantes realizavam longas viagens em pirogas de balancim, servindo-se de mapas feitos de canos de bambu. Tinham uma nobreza e servos. Os navegadores mais peritos eram recompensados com a concessão de feudos. Certas ilhas haviam atingido o politeísmo e possuíam um rico panteão, dominado por um Deus.


MOUSNIER, Roland; LABROUSSE, Ernest. O século XVIII: o último século do antigo regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 376-377 (História geral das civilizações, v. 11)

NOTA: O texto "Povos da Oceania: os melanésios e os micronésios" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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