"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Imigrantes 1: Quem imigrava?

Imigrantes, Antonio Rocco

Por volta de 1870 a Itália, oitavo país da Europa em extensão e quinto em população, com cerca de vinte e cinco milhões de habitantes, era bastante pobre. O Estado, a partir da unificação, tinha feito esforços no sentido de promover o comércio e a indústria: as duanas internas foram extintas, os túneis internacionais se encontravam em construção e os portos vinham sendo melhorados. Em 1878 já havia 8.208 quilômetros de vias férreas que até 1873 não passavam de 6.882 quilômetros. A indústria começou a tomar maior vulto em fins da década de 70; no entanto, a produção nacional permanecia essencialmente agrícola, e salvo nos vales do Pó e da Campânia, a agricultura, baseada numa técnica insuficiente, produzia um rendimento medíocre. Uma economia apoiada em grandes latifúndios subsistia na Sicília, no sul da Itália e no vale do Pó.

O progressivo aumento da população e o pauperismo decorrente da falta de trabalho existente devido à má situação da agricultura e da indústria acarretavam uma enorme desproporção entre a oferta e a procura da mão-de-obra. Outro fator negativo era o salário dos trabalhadores, o qual, muitas vezes, não era proporcional ao custo dos gêneros indispensáveis à existência. Na Itália havia grande dificuldade para se encontrar ocupação, que era quase impossível em algumas estações do ano. Os que trabalhavam na lavoura, nessas ocasiões, seguiam para as cidades à procura de emprego e de um melhor salário, provocando um excesso de mão-de-obra nas regiões urbanas, piorando, não raro, a situação de desemprego.

Existia um número considerável de indivíduos que viviam com muitas dificuldades como o demonstra o caso transcrito pelo Correio Paulistano, de 3 de janeiro de 1880: a um anúncio, requisitando mil trabalhadores para a estrada de ferro da Alta-Itália, a cada um dos quais se pagaria 720 réis (em moeda brasileira) diários, responderam 58 mil candidatos.

De 1873 até mais ou menos 1900 o país apresentava-se numa situação de intranquilidade: seu estado político, sua posição europeia, bem como o seu estado econômico não estavam estabilizados.

Tal situação constrangia o italiano menos afortunado a migrar para outros recantos, frequentemente longínquos, em busca de uma vida melhor e uma posição econômica mais estável.

Se encararmos a emigração dos italianos em geral, isto é, daqueles que partiram da Itália para os diversos países imigratórios, quer da Europa, África, Ásia ou das Américas, verificamos que, na Itália, a emigração permanente contava com um alto contingente de agricultores; porém, estes não constituíam a totalidade. Em 1876 a média foi de 55% a 65%, sendo que por volta de 1895 o máximo atingido foi de 70%. O contingente de artesãos e operários, na emigração permanente, até 1886, manteve uma proporção de 10 a 18%, reduzindo-se em seguida, para 8 e 6%. A porcentagem destes era maior na emigração temporária do que na permanente.

Os indigentes também constituíam uma porcentagem no contingente emigratório, tanto no temporário como no permanente, representando 1% em média.

A média anual de comerciantes e industriais era de cerca de 2% para a emigração permanente e 1,5% para a temporária. Ainda mais restrita era a emigração de pessoas que exerciam profissões liberais e de artistas de teatro.

HUTHER, Lucy Maffei. Imigração Italiana em São Paulo (1880-1889). São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo nº 22, 1972. p. 15-17.

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