"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os bastidores da 2ª Guerra Mundial (1939-1945)

A batalha industrial - tanques prontos para embarque no exterior, Albert Richards

Texto 1. 
* O cotidiano e a população civil nos Estados Unidos - A guerra também trouxe mudanças sociais significativas para as mulheres e para os negros norte-americanos. As mulheres ocuparam a maioria dos postos de trabalho na indústria bélica, atendendo, em massa, à convocação do trabalho feminino feita pelo governo. Para se ter uma ideia, na cidade de Detroit, em 1943, 91% das vagas criadas na indústria da guerra eram ocupadas por mulheres. Os negros, contingente importante das tropas norte-americanas, passaram a lutar contra o preconceito e a discriminação nas forças armadas, marcando o início do movimento afro-americano pelos direitos civis, que teria maior repercussão na década de 1950.

A população civil também era convocada a cumprir o seu "dever patriótico" quer doando toda sorte de metais, quer reciclando materiais como o alumínio - utilizado na produção de aviões -, ou ainda doando dinheiro para o esforço de guerra. Essas práticas eram estimuladas pelas campanhas publicitárias feitas no rádio e no cinema, as formas mais populares de entretenimento durante a guerra. Aliás, a grande expansão econômica dos Estados Unidos no período contribuiu para incrementar a produção cinematográfica.

O crescimento da economia não impediu o surgimento da necessidade de racionar certos produtos como gasolina, café, açúcar e carne, considerados indispensáveis na frente de batalha. A política de racionamento gerava filas intermináveis no dia a dia das cidades. Por outro lado, esse infortúnio também estimulava a criatividade, como, por exemplo, no caso da moda. O racionamento de tecido e a dificuldade de acesso às mercadorias europeias estimularam o nascimento de uma moda tipicamente norte-americana e adequada às necessidades da guerra.


Kiirung, Formosa – Exterior de um campo de prisioneiros japoneses, James Morris

* O cotidiano na terra do sol nascente - Do outro lado do Oceano Pacífico, as dificuldades eram bem maiores. A economia de guerra japonesa era essencialmente uma "economia da escassez". No início de 1942, cada cidadão recebia uma cota de arroz de apenas 330 gramas por dia. É preciso lembrar que o Japão dependia das importações de alimentos para suprir as necessidades da população. A escassez de alimentos trouxe consequências desastrosas, sobretudo para as crianças e os idosos. Nas grandes cidades, houve surto de tuberculose e de outras doenças que vitimaram a população. À medida que a guerra avançava e o território japonês era constantemente assolado pelos bombardeios norte-americanos, a falta de alimentos no país agravava-se ainda mais.* ALVES, Alexandre; OLIVEIRA, Letícia Fagundes de. Conexões com a História. São Paulo: Moderna, 2010. p. 145.

* "Os bombardeios norte-americanos jogaram mais de 160.000 toneladas de bombas explosivas e incendiárias em 66 cidades japonesas, destruindo cerca de quarta parte das residências e 42% das áreas industriais e matando mais de meio milhão de civis". (WILLMOTT, H. P. e outros. Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 129.)


Texto 2.
* A violência presente na Segunda Guerra Mundial - A Segunda Guerra Mundial atingiu um grau de crueldade até então desconhecido, de que as populações civis foram as principais vítimas. O massacre de Katyn e os crimes cometidos pelo Exército Vermelho em território alemão, o bombardeamento inglês de Dresden em 13 de fevereiro de 1945, a profunda interrogação moral que continua a pairar sobre a utilização da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, demonstram que a barbárie não é monopólio de nenhum dos campos. Contudo, na medida em que corresponde a um programa sistemático de sujeição e de extermínio, a barbárie nazi não tem comparação com qualquer outra. As populações do leste foram as primeiras a sofrê-la, em nome da inferioridade eslava e do ódio ao comunismo; é o caso do tratamento dos prisioneiros polacos e soviéticos, da deportação de populações civis, do desaparecimento de toda uma elite política e cultural. Posteriormente, a multiplicação das organizações e dos atos de resistência vai estender a repressão a toda a Europa ocupada, com o seu triste cortejo de prisões, torturas e execuções. Anteriores à guerra mas multiplicados por ela, gerados na sua maioria pela SS, os campos de concentração proliferam nos territórios conquistados, organizando-se segundo um sistema complexo com a sua hierarquia e as suas especializações. Aos antinazis da primeira hora vêm juntar-se comunistas, resistentes e perseguidos de todos os países. Subalimentados e mal-tratados, explorados em proveito dos interesses da indústria de guerra alemã, sabem no entanto demonstrar um grau notável de resistência e entreajuda. Bernard Droz e Anthony Rowley. História do século XX. Lisboa: Dom Quixote, 1988. v. 2. p. 116.

Texto 3. 
* O episódio mais marcante da resistência judaica na Europa foi o levante do gueto de Varsóvia, que começou em 19 de abril de 1943. Na época, viviam no gueto apenas sessenta mil judeus. Quase 350 mil haviam sido levados aos campos de extermínio. Participaram da rebelião cerca de mil pessoas, jovens militantes de partidos de esquerda ou de movimentos sionistas, que tinham algumas poucas armas. A primeira ação dos rebeldes foi matar o chefe da polícia judaica, que colaborava com os alemães e feriram noventa. Mas os alemães dominaram a revolta, massacrando centenas de habitantes do gueto. Em seu relatório final, de 18 de maio, o comandante alemão Juergen Stroop escreveu: "O bairro judeu de Varsóvia não existe mais! Hoje, 180 bandidos judeus e sub-humanos foram destruídos". O líder da revolta, o socialista Mordechai Anielewicz, jogou-se do prédio do quartel-general, na rua Mila, 18, enrolado na bandeira azul e branca que depois seria adotada pelo Estado de Israel. BRENER, Jayme. A Segunda Guerra Mundial. O Planeta em chamas. São Paulo: Ática, 2005. p. 46. Retrospectiva do Século XX.

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