"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cultura grega e cotidiano

Apesar da profusão de textos, literários e filosóficos, e da grande quantidade de registros pictográficos, é muito difícil reconstituir a vida cotidiana, isto é, o dia-a-dia de homens e mulheres comuns na Grécia antiga.

A filosofia e as ciências ocupavam-se, quase exclusivamente, dos grandes princípios e das questões ligadas à essência das coisas. As criações artísticas voltavam-se, sobretudo, para os grandes feitos e dramas vividos por indivíduos ilustres, cujos atos teriam sido realizados sob a determinação ou inspiração dos deuses. Mas, mesmo com todas as características elitistas, a produção cultural permite identificar aspectos significativos da forma de ser e de existir dos gregos.

As mulheres levavam, mesmo nas cidades em que vigorava a democracia, uma vida reclusa, no interior das casas, numa parte que lhes era reservada - o gineceu -, submetidas à autoridade do pai e depois do marido. As exceções eram as cortesãs (prostitutas), que participavam livremente das reuniões masculinas, exercitavam todas as artes e discutiam todos os assuntos, inclusive guerra e política.

Acredita-se que em Esparta as mulheres eram mais livres, porque tinham de assumir tarefas que nas outras cidades eram atribuições masculinas, uma vez que os homens ocupavam todo seu tempo com as funções militares.

Entretanto, em todas as cidades, as mulheres tinham lugar de destaque nas cerimônias religiosas.

A homossexualidade era comum no mundo grego, como atestam imagens com representações de cenas cotidianas e relatos, nos quais essas relações são mencionadas com grande naturalidade.


Cerâmica. Ca. V século a.C.

Tucídides, por exemplo, ao relatar o fim da tirania em Atenas, apresenta uma interessante versão: teria havido um crime passional. Diz ele:

"[...] Harmódios, então no apogeu de sua beleza juvenil, tinha como amante Aristógiton, um cidadão da classe média. Hiparcos, filho de Pisístratos, tentou seduzi-lo, mas sem sucesso, e Harmódios o denunciou a Aristógiton; este, como todos os amantes, ficou muito magoado e, temendo que, com seu poder, Hiparcos lhe tomasse Harmódios à força, tramou imediatamente a extinção da tirania, usando o prestígio de que desfrutava. [...]" (TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987. p. 313.)


Erastes (amante) e Eromenos (amado) se beijando. Briseis. Cerâmica, Ca. 480 a.C.

Um campo em que se verificava significativa interação entre o conhecimento, a religião e a vida cotidiana era a medicina. Os gregos foram considerados os grandes médicos da Antiguidade e, da perspectiva ocidental, os criadores da medicina. Tal como os demais povos antigos, acreditavam em práticas mágicas e delas se utilizavam para obter a cura das doenças, consideradas popularmente como castigos divinos por faltas cometidas. A ciência médica tem sua origem nessas práticas, ligadas ao culto ao deus Esculápio, que se expandiu pela Grécia a partir da ilha de Cós, onde nasceu Hipócrates (460-377 a.C.), considerado o pai da medicina.

NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 115-117.

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