"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 1 de maio de 2012

A questão social e a organização sindical na Europa no século XIX

Cena do filme "Oliver Twist", de Roman Polanski. O filme, baseado na obra de Charles Dickens, apresenta uma visão crítica de problemas sociais da Inglaterra em plena Revolução Industrial.

Durante a primeira metade do século XIX, graças ao processo de industrialização, a população das principais cidades europeias cresceu, reforçando o contraste entre as grandes fortunas e a extrema pobreza. Paris, a chamada Cidade Luz, embora tenha mantido seu traçado urbano praticamente inalterado até 1850, experimentou nessa época um grande aumento populacional. A industrialização na França não foi tão intensa quanto na Inglaterra, porém a população parisiense passou de 600 mil habitantes, em 1789, para 1,2 milhão, em 1851.

Nos bairros industriais das metrópoles modernas aglomeravam-se trabalhadores de aspecto cansado e que viviam quase na miséria. A respeito de Londres, no ano de 1839, um reformador sanitário afirmava:

[...] apesar dos esforços sistemáticos, em larga escala, para alargar as ruas [...] aumentar e aperfeiçoar a drenagem e a rede de esgotos [...] nas regiões em que residem as classes mais ricas, nada foi feito para melhorar as condições dos distritos habitados pelos pobres. (Apud E. Thompson. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 187.)

A aglomeração humana em moradias insalubres era motivo de preocupação até para os burgueses, porque as epidemias de febre tifóide e cólera proliferavam pelas cidades.

A possibilidade de que essa multidão de miseráveis se organizasse contra as forças que a oprimiam atemorizava os mais ricos. Sobre esse temor afirma Michelet, historiador francês da época:

[...] que três homens estejam na rua a falar de salários, que eles peçam ao empresário enriquecido com o trabalho deles um centavo de aumento, e o burguês se assusta, grita e usa a força. Ao contrário da antiga burguesia, extasiada com seus privilégios que desejava estender, a nova olha para a multidão que sobe atrás dela, tal como ela um dia subiu, e se assusta e recua, protegendo-se junto ao poder. Liberal em seus princípios, egoísta na prática, ela não sabe o que quer. (Apud M. S. Bresciani. Londres e Paris no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 65.)

Nos primeiros quarenta anos do século XIX, os trabalhadores começaram a organizar-se em sindicatos, em geral proibidos pela legislação. Já na metade do século, vários direitos trabalhistas haviam sido conquistados graças à força dos movimentos sindicais que contaram com a adesão de intelectuais e de outros segmentos da sociedade.

Na Inglaterra, no período de 1790 a 1830, formou-se a consciência da identidade de interesses entre os diversos grupos de trabalhadores, ampliando-se suas formas de organização política. Por volta de 1830, havia instituições operárias sólidas, como sindicatos, sociedades de auxílio mútuo, movimentos religiosos e partidos políticos.

O movimento sindical abrigava várias tendências, desde as que se dispunham a lutar em defesa de reivindicações prioritariamente econômicas até aquelas que concebiam o movimento como uma atividade política que poderia contribuir para uma revolução social. Muitos entendiam que a luta de cada categoria de trabalhadores estava inserida num contexto social e político mais amplo. Os que assim pensavam estiveram envolvidos nas Revoluções de 1848, no movimento cartista da Inglaterra e na Comuna de Paris de 1871.

Na segunda metade do século XIX, o sindicalismo revolucionário preconizava a greve geral como instrumento de luta para a transformação da sociedade. Partindo das ideias de Proudhon, George Sorel e Arturo Labriola, estabelecia como objetivo central de sua luta as relações econômicas, privilegiando as greves e a sabotagem das máquinas nas fábricas.

Os sindicalistas revolucionários não pretendiam formar um governo do proletariado, pois rejeitavam toda forma de governo instituído. Queriam o fim do Estado e sua substituição por federações de conselhos executivos de sindicatos, que seriam os administradores das comunidades econômicas.

REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 416-417.

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