"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sacerdotes e camponeses na Mesopotâmia

“O pobre está melhor morto do que vivo.
Se tem pão, não tem sal,
Se tem sal, não tem pão.
Se tem carne, não tem cordeiro,
Se tem cordeiro, não tem carne.”
(Provérbio sumério)


Sacerdote da Suméria 

A unidade ideológica e econômica da cidade-Estado se expressava no templo, localizado no topo de uma construção em forma de pirâmide truncada, feita de argila. Esse templo (zigurate) compreendia também celeiros, armazéns e oficinas. O templo ou “casa divina”, administrado por uma corporação de sacerdotes, tinha a propriedade jurídica dos meios de produção. Teoricamente, os deuses eram os proprietários das terras da cidade. Na prática, a maior parte dessas terras era entregue aos camponeses. Cada família recebia um lote de terra de dimensões variáveis para cultivar e, pelo seu uso útil, devia entregar ao templo uma parte da colheita. A outra parte das terras, “propriedade pessoal” do templo, era cultivada por assalariados (recebiam o pagamento em produtos, como cevada) ou arrendatários (que também pagavam como renda uma fração da produção obtida).

Além disso, os templos reuniam também artesãos especializados (padeiros, oleiros, tecelões) e escravos. Esses trabalhadores, afastados da produção primária (cultivo da terra), eram sustentados pelo excedente produzido pelos agricultores “assalariados” ou arrendatários dos deuses. Os artesãos do templo recebiam um pagamento em produtos (cevada), e os escravos apenas o estritamente necessário à sua sobrevivência. Assim, os sacerdotes (administradores do templo) acumulavam enorme quantidade de cereal e os melhores lotes de terra.

O templo era também o proprietário dos meios de trabalho mais aperfeiçoados: ferramentas de metal, arados, animais de tração etc., e possuía ainda grande quantidade de gado. Acrescente-se ainda que os campos de pastagem eram propriedade comunal.

Uma outra forma de aproveitar a força de trabalho dos camponeses e escravos era obrigá-los ao trabalho coletivo nas grandes construções públicas (templos, canais etc.).

O registro arqueológico dessa época oferece provas da existência de um ativo intercâmbio comercial na Mesopotâmia. A necessidade de importação de metal (cobre ou bronze), pedra e madeira para construção levou a contatos comerciais com as mais distantes regiões (Síria, Ásia Menor, Irã e Índia) do Oriente Próximo. Assim, o comércio favoreceu a difusão da cultura sumeriana (língua, escrita cuneiforme etc.), além de aumentar a heterogeneidade étnica da população, devido à presença de comerciantes estrangeiros (semitas).

No entanto, tanto a produção artesanal quanto os artigos obtidos no comércio eram comprados apenas pela aristocracia (os Reis, os sacerdotes e os funcionários mais graduados dos templos). Dessa maneira, não era muito grande o número de artesãos, e as condições de vida da massa da população (camponeses, arrendatários e “assalariados”) eram muito difíceis.

AQUINO, Rubim Santos Leão de [et al]. História das sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008. p. 169-171.

NOTA: O texto "Sacerdotes e camponeses na Mesopotâmia" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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