“O tempo é a minha matéria, o
tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.
Carlos Drummond de Andrade
Vital Farias, poeta popular da Paraíba
[...]
Sei que é sonho
Incomodado estou, num corpo estranho
Com governantes da América Latina
[...]
Qual esquina dobrei às cegas
E caí no Cairo, ou Lima, ou Calcutá
Que língua é essa em que despejo pragas
E a muralha ecoa
Em Lisboa
Faz algazarra a malta em meu castelo
Pálidos economistas pedem calma
[...]
Em Macau, Maputo, Meca, Bagdá
Que sonho é esse de que não se sai
[...]
Sei que é sonho
Não porque da varanda atiro pérolas
E a legião de famintos se engalfinha
Não porque voa nosso jato
Roçando catedrais
[...]
Sonhos sonhos são, Chico Buarque
Desde o limiar do século XXI a
situação do mundo está se tornando cada vez mais complexa, com um aumento sem
precedentes de tensões políticas, econômicas, sociais, conflitos étnicos e
religiosos em todos os continentes. É difícil um balanço dos fatos históricos
que se sucedem, no tempo presente, numa espécie de aceleração do tempo histórico. Vivemos, portanto, uma época de explosão e implosão.
A humanidade, ao aportar nesse
universo global de sua longa trajetória de uma rica e luxuriante diversidade,
não se libertou das mazelas que marcaram o percurso dos nossos
antepassados: a desigualdade dos padrões de vida, a miséria, a fome, as doenças, as violências, a exclusão social-racial, os desastres ecológicos...
No quadro internacional, o
desemprego crônico tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, a criminalidade
crescente, as rebeliões nas cidades norte-americanas, as manifestações nas
cidades brasileiras e o aumento da miséria em todo o mundo sugerem que o atual
sistema capitalista globalizado não tem o que comemorar. O capitalismo criou uma
elite – os “cidadãos do mundo” – e uma gigantesca massa de excluídos - os "não-cidadãos".
O terrorismo, as guerras e os
atentados gestados em regiões instáveis são habitadas por uma parcela
considerável de pobres e jovens. Esses podem ser traficantes das favelas
brasileiras, terroristas muçulmanos do Al-Qaeda, guerrilheiros colombianos...
O consumo de maconha, de cocaína
e outras drogas tem aumentado consideravelmente em todo o mundo, acirrando
ainda mais a violência urbana A rentabilidade proveniente do tráfico de drogas
é maior do que qualquer outra atividade econômica.
A violência urbana também pode ser explicada pelas privações materiais a que estão submetidas parcelas significativas de homens e mulheres tanto dos países ricos como no que convencionalmente hoje designamos comodamente pela expressão "países emergentes", com um alto nível de desrespeito aos direitos humanos. Diariamente somos bombardeados com reportagens em que os "bandidos" são perseguidos de forma truculenta pelas polícias e submetidos ao julgamento do grande público.
A violência urbana também pode ser explicada pelas privações materiais a que estão submetidas parcelas significativas de homens e mulheres tanto dos países ricos como no que convencionalmente hoje designamos comodamente pela expressão "países emergentes", com um alto nível de desrespeito aos direitos humanos. Diariamente somos bombardeados com reportagens em que os "bandidos" são perseguidos de forma truculenta pelas polícias e submetidos ao julgamento do grande público.
Ainda na esfera interna dos vários países, há graves tensões raciais (como entre brancos e negros nos Estados Unidos), religiosas (a luta entre árabes e judeus no Oriente Médio) e étnicas (como em Ruanda, na África).
Além disso, temos em âmbito
mundial a explosão demográfica que faz proliferar megalópoles onde as questões
sociais e ambientais se agravam cotidianamente em virtude da concentração
industrial e da poluição. Parcelas
significativas da sociedade mundial tem se manifestado contra os excessos da civilização tecnológica; os excluídos estão empenhados em buscar alternativas de existência.
Todo esse cotidiano pautado pela
falta de perspectivas de um futuro melhor em virtude da desesperança leva
parcelas da sociedade a buscar refúgio na astrologia, na leitura de livros de
auto-ajuda ou de religiões que pregam a teologia da prosperidade.
Tempo presente. Explosão. Implosão. Globalização... de quê?
Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História
e Sociedade •●ϟ
Tempo presente. Explosão. Implosão. Globalização... de quê?
MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do
tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 53-55.
© 2015 by Orides Maurer Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário