La historia tiene la realidad atroz de una pesadilla;
la grandeza del hombre consiste en hacer obras
hermosas y durables con la substancia real de esa pesadilla.
Octavio Paz: El Laberinto de la Soledad
Oficina lítica na ilha do Campeche, Florianópolis - SC. Foto: Orides Maurer Jr.
Discorrer sobre patrimônio
histórico num país sem memória é tarefa espinhosa. Espinhosa porque nesses
cinco séculos de história temos destruído não apenas os remanescentes
arquitetônicos das cidades e vilas do período colonial como também os sítios
arqueológicos, as comunidades indígenas e quilombolas e as festas e tradições populares
de origens diversas.
Há uma campanha – não mais velada
– de destruição “física” desses patrimônios para dar lugar a modernos e
luxuosos condomínios e shoppings centers e
“cultural”, por parte de um grupo fundamentalista que instiga seus fiéis
dizendo que danças e cantorias folclóricas são de origem demoníaca. Muitas
cidades pequenas do litoral e interior do país que mantinham vivas essas tradições
culturais as perderam e as gerações mais novas não tiveram a oportunidade de
desfrutar desse rico legado. Uma parcela importante de nossa memória foi
apagada.
Quanto à educação patrimonial que
deveria ser tema obrigatório nos currículos de todas as escolas brasileiras, raros são os professores que abordam essa temática e/ou desenvolvem algum projeto
com seus estudantes, haja vista a resistência por parte dos mesmos e da própria
falta de conhecimento dos profissionais da Educação. Visitas aos museus,
centros históricos remanescentes e/ ou sítios arqueológicos que poderiam render
aprendizagens significativas são mais raras ainda.
Há por parte do poder público – em todos os níveis – um desleixo de políticas
públicas voltadas à questão do patrimônio. Enquanto os países mais
desenvolvidos tem uma forte ligação com seu passado histórico, preservando-o e fazendo
dele um laço que mantêm seus
povos unidos em torno de uma identidade cultural e fonte de renda através do turismo, no Brasil há uma preocupação apenas com a instalação de parques industriais, portos,
ferrovias, rodovias... para escoar a produção de soja e seus produtos
industriais.
E, soma-se a tudo isso, um elevado custo social e ecológico, degradando-se
dia a dia nosso patrimônio natural, as paisagens de valor significativo e as comunidades tradicionais, com ocupações desordenadas de manguezais e
morros - ocupados por milhares de excluídos de uma sociedade injusta, onde o
capital prevalece sobre o ser humano -, destruição dos remanescentes da Mata
Atlântica, da ocupação sistemática de áreas pantaneiras (criação de gado), do
Cerrado e da Floresta Amazônica (criação de gado, plantação de soja) e de todo um campo fértil
para pesquisas arqueológicas. O lucro
vem em primeiro lugar.
O Brasil urge por políticas mais eficazes em relação às
questões ambientais e à preservação de nosso patrimônio paisagístico e
artístico. Um país sem memória histórica é um país sem identidade. Que legado
deixaremos às novas gerações? Recuperar, restaurar, preservar centros
históricos, paisagísticos e arqueológicos abriria frentes de trabalho para inúmeros
profissionais, incrementaria o turismo, gerando mais empregos para nossa
juventude que hoje não tem perspectivas de um futuro promissor. O Brasil tem sede de
cultura e de memória.
Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História
e Sociedade •●ϟ
MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do
tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 47-48.
© 2015 by Orides Maurer Jr.
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