"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

Banquete antropofágico


Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes d'eu nascer!
Cazuza / George Israel / Nilo Romero

Bancada do boi. Bancada da bala. Bancada da Bíblia. Bancada do futebol. Bancada sei lá mais do que. Dezenas de partidos políticos. Parece piada. Nem em toda a história da civilização temos tantas “ideologias” quanto no Brasil. É o famoso “jeitinho brasileiro” de se "viver", de se "fazer política", ou, melhor, “politicalha”.  Os nomes já dizem a quais interesses essas bancadas servem. Acendem velas para Cérbero, Caronte e Hades. Quem paga a conta? O povo, é óbvio. Escândalo do Mensalão, Operação Lava Jato, Operação Zelotes... Um leque de escândalos. Um desfile de lobistas, políticos, instituições, empresas, órgãos públicos envolvidos. Bilhões de dólares desviados e impostos sonegados. Um banquete antropofágico  é servido "à la carte" ao povo brasileiro. Corrupção histórica, crônica, de partidos grandes e pequenos, antigos e novos, legendas de aluguel. Fisiologismos! Um cardápio para todos os paladares. O Congresso Nacional deveria ser rebatizado: “Vergonha Nacional”. A casa que, teoricamente,  deveria ser ocupada pelo povo, representa outros interesses. Lá, o povo é expulso pela segurança da casa. É proibido protestar. Estranha democracia a nossa! Quem dera que os escândalos e as corrupções fossem só em Brasília. Estão enraizadas de Norte a Sul. Aqui a corrupção deixa mais sequelas do que a “peste negra”. Do peão de obras ao empresário, do vereador ao governador, do prefeito ao deputado... todos querem se servir do festim regado a propina. Triste realidade. Nunca se roubou tanto nesse país de forma tão descarada. Daí faltam as verbas para os serviços públicos essenciais. Escolas depredadas, hospitais sucateados, transportes deficientes, segurança que só desce a ripa em manifestantes ou serve de escudo aos colarinhos brancos... é o que vemos pelo país afora... Investigações e mais investigações. Que não termine em rodízio de “pizza”, como é de praxe.  Urge acordamos desse analfabetismo político: não podemos continuar a votar como se fosse uma loteria, elegendo políticos pilantras, que fazem uso de discursos moralistas e falsas promessas e nem trocar votos por dentaduras, tijolos, tubos, tapinha nas costas, copinho de cachaça no botequim da esquina, ameaça de fogo dos infernos, promessa de cargo para um familiar...  Basta de raposas em pele de cordeiro que, com cinismo estampado no rosto, sorriso de Mona Lisa, alegam ser "normal" ganhar “comissões”. Al Capone faria pós-doutorado por aqui! Que o povo faça a revolução ocupando as ruas, as praças, as galerias das câmaras de vereadores, das assembleias legislativas, os gabinetes municipais e estaduais, o Congresso, o Senado... Xilindró é pouco para os que oferecem um banquete antropofágico.


Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Cazuza / George Israel / Nilo Romero


MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 65-66.

Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História e Sociedade •●ϟ

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