As diversas civilizações se fizeram pelas
rotas de comércio. Foi por elas que se deram os intercâmbios culturais e se
conquistaram impérios. No Brasil, o “Peabiru” começava no litoral paulista (São
Vicente ou Cananéia) e daí cruzava o atual Estado do Paraná penetrando no Chaco
paraguaio, na Bolívia e alcançando o sul do Peru e a costa do Pacífico.
Este era o principal tronco do “Peabiru”,
mas havia outros ramais: um cruzava o rio Paranapanema (entre São Paulo e
Paraná), descia o sul quase em linha reta; outro ramal dava no litoral de Santa
Catarina. O caminho tinha, aproximadamente, 3 mil km de extensão e cerca de 1,40
m de
largura e 0,40
cm de
profundidade e era forrado com vários tipos de gramíneas para evitar o efeito
erosivo das chuvas. Segundo as pesquisas arqueológicas o caminho remontaria
entre os séculos IV e VIII de nossa era.
A história do “Peabiru” ainda está envolto em
mistérios. Há três
teorias conhecidas:
* a mais aceita atualmente no meio
acadêmico é que o caminho é a menor rota entre os oceanos Atlântico e Pacífico
e que foi aberto pelos índios guaranis em busca da “Terra sem males”;
* os “Peabirus” testemunham antigas
incursões incaicas com o propósito de estender seus domínios imperiais até às
margens do Atlântico; segundo essa teoria o Peabiru permitiu a chegada dos
índios guaranis na região andina e teria deixado um legado na
música (como a flauta de Pã), no armamento (semelhança da macaná - borduna guarani - com a maqana inca), na flora (sara = espiga em guarani, milho em quíchua)
e na fauna (jaguar = felino nos dois idiomas);
* o “Peabiru” teria sido aberto por São
Tomé – apóstolo de Cristo; sua passagem pela América é
mencionada pelos índios (Sumé), missionários e colonos no século XVI como um homem branco e barbudo que teria chegado ao litoral brasileiro “andando sobre as
águas”; em sua peregrinação ao
Paraguai, teria aberto o caminho.
Para Rosana Bond, autora do livro “O
Caminho de Peabiru”, o caminho possui grande importância histórica, pois
serviu para as andanças e as migrações de povos indígenas e, no decorrer do período colonial, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas,
comércio, fundação de vilas e cidades.
Pelo “Peabiru” transitaram diversos povos
indígenas, como os Incas e os Guaranis e desbravadores do período colonial como os bandeirantes, os missionários jesuítas, aventureiros, sujeitos que
construíram a nossa história: Aleixo Garcia (português que contatou com os
Incas em 1524), Pero Lobo (expedição fracassada de um dos capitães de Martim
Afonso de Souza em 1531), Cabeza de Vaca (1541), Ulrich Schmidel (1553), os jesuítas Pedro
Lozano e Ruiz de Montoya, Raposo Tavares (1628) e outros
bandeirantes vicentinos que realizaram ataques devastadores às missões do
Guairá. A descoberta das minas de prata de Potosí (Bolívia, século XVI) também se deu através do "Peabiru".
Depois do século XVII, quando os
bandeirantes atacaram e destruíram as missões jesuíticas espanholas com o
intuito de escravizar índios, o “Peabiru” foi praticamente abandonado. O
caminho só foi reativado no século XIX, quando serviu como porta de entrada de
uma nova leva de homens brancos, os colonizadores do interior do Paraná.
Independente das origens incas, guaranis e/ou de outras sociedades indígenas anteriores à chegada dos europeus, o "Peabiru" é um caminho de
importância histórica que deve ser pesquisado através da Arqueologia e da
leitura de registros escritos do período colonial para preservar a memória dos
ancestrais pré-colombianos - apesar dos colonizadores europeus terem utilizado para adentrar nos “sertões” e escravizar os povos indígenas, impor
uma outra cultura, criar uma nova civilização nos Trópicos e explorar suas
riquezas naturais e minerais.
Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História
e Sociedade •●ϟ
MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do
tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 45-46.
© 2015 by Orides Maurer Jr.
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