Palácio do governo em São Paulo, Thomas Ender. Saint-Hilaire visitou uma São Paulo parada no tempo, como aquela que Thomas Ender havia retratado em 1817, dois anos antes.
Para muitos estudiosos da história das expedições científicas ao Brasil, o maior dos viajantes a percorrer o território foi o francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1774-1853). Apesar de a obra científica de Saint-Hilaire ter sido gloriosa, não foram seus estudos sobre a flora brasileira que o transformaram no mais cultuado de todos os viajantes que estiveram no Brasil no século XIX. Observador minucioso, crítico feroz dos costumes, generoso e ferino em uma só frase, iracundo e conformado na seguinte, Saint-Hilaire traçou um retrato tão vívido, tão dinâmico, tão humano do Brasil que, passados mais de um século e meio desde a sua publicação, os nove volumes nos quais ele narra sua ampla jornada pela colônia continuam sendo uma leitura apaixonante - e bastante elucidativa.
Saint-Hilaire percorreu mais de doze mil quilômetros em lombos de mula, a pé ou em frágeis pirogas indígenas, coletando plantas e observando a inexorável marcha do progresso que transformava florestas em descampados, índios em indigentes e negociantes desonestos em poderosos oligarcas. Como seu conterrâneo Lévi-Strauss concluiria um século mais tarde, Saint-Hilaire percebeu que esses eram tristes trópicos. [...]
Saint-Hilaire nasceu em Orléans, na França, em outubro de 1774. Filho da pequena nobreza rural, foi levado para a Alemanha durante a revolução de 1789. Lá, conheceu Aimé Bompland, amigo e íntimo colaborador de Humboldt, um apaixonado pelo Brasil. Convencido por ele, Saint-Hilaire juntou-se à missão francesa que veio ao Brasil com o duque de Luxemburgo, partindo de Brest em abril de 1816. Depois de alguns meses no Rio, Saint-Hilaire iniciou seu périplo pelo Brasil: primeiro percorreu a região de Minas Gerais [...]. A seguir, penetrou no Distrito Diamantino [...], passando logo depois para o Espírito Santo [...], onde ficou até 1818. Em janeiro de 1819, partiu do Rio rumo a Goiás [...], retornando para São Paulo pelo caminho dos boiadeiros [...]. Percorreu essa província, mais o Paraná e Santa Catarina [...], entrando no Rio Grande do Sul em junho de 1820 [...], seguindo pelas Missões até Montevidéu, daí retornando ao Rio e, a seguir, para Paris. Saint-Hilaire levou dez anos para publicar sua obra [...].
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2005. p. 155.
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