O capitão James Cook
Decididos a impedir que a exuberância dos recursos e da natureza brasileira despertassem a cobiça dos demais povos europeus, por três séculos os portugueses mantiveram o Brasil fechado aos olhos estrangeiros. Essa situação só começou a se modificar a partir de 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro e a abertura dos portos. A partir daí, um ávido enxame de sábios, cientistas e naturalistas desembarcou no Brasil. [...] Antes disso, porém, Portugal impedira que alguns cientistas de renome estudassem a natureza brasileira. Em 1768, por exemplo, ao realizar sua grande viagem de circunavegação, o capitão James Cook aportou no Rio de Janeiro - mas os botânicos, zoólogos e astrônomos que o acompanhavam foram proibidos de desembarcar. Mais grave ainda foi o fato de as autoridades portuguesas terem impedido a entrada no Brasil, em 1800, do maior de todos os sábios naturalistas, o barão alemão Alexander von Humboldt, que estava na Venezuela. [...]
Embora a "abertura" oficial do Brasil ao olhar estrangeiro tenha se dado em 1808, pouco antes Portugal já baixara a guarda - e evidentemente em favor dos ingleses. É o que explica a entrada no país, em 1802, do viajante Thomas Lindsey. Mais surpreendente ainda foi a permissão que seu compatriota John Mawe obteve para visitar a fechadíssima região das Minas Gerais, em 1807 - e escrever minuciosamente sobre elas. Três outros ingleses logo viriam ao Brasil: John Luccock, em 1808, e Henry Coster, no ano seguinte, ambos autores de relatos notáveis. O terceiro viajante era Richard Francis Burton [...]. Na esteira dos ingleses [...] chegaram alemães e austríacos como o príncipe Maximiliano, Langsdorff, Spix e Martius. Todos trouxeram grandes artistas consigo e, assim, além de publicarem textos notáveis sobre o Brasil, eles foram responsáveis pela produção de belas obras de arte.
[Os circunavegadores] Durante os anos de clausura, as autoridades portuguesas só permitiam que ancorassem no Brasil expedições de circunavegação - e apenas para reequiparem seus navios com a maior brevidade possível. Desde a primeira viagem ao redor do globo, realizada, sob a bandeira espanhola, pelo navegador lusitano Fernão de Magalhães, o Rio de Janeiro serviu de ponto de escala. Magalhães partiu da Espanha em 20 de setembro de 1519, com cinco navios e 250 tripulantes, e chegou ao Rio em 13 de dezembro. Sua viagem foi narrada pelo italiano Francisco de Pigafetta, um nobre que conseguiu embarcar na nau Trinidad e que seria um dos únicos dezoito sobreviventes a retornar, três anos depois, ao ponto de partida.
Pigafetta não se surpreendeu apenas com a beleza da baía de Guanabara: também as frutas, como o abacaxi, os animais, como a preguiça, e, em especial, a franqueza sexual das nativas o espantaram. Os primeiros homens a navegar em torno do globo partiram da Terra do Verzino (como Pigafetta chamou o Brasil) no dia 27 de dezembro de 1519. Cerca de um ano depois, acharam o estreito que unia o Atlântico ao Pacífico e que foi batizado com o nome de seu descobridor. A descoberta abriu caminho para os corsários ingleses Drake e Cavendish, os circunavegadores seguintes.
O temível Francis Drake passou ao largo do Brasil antes de atacar o Peru, em 1578. Treze anos depois, a colônia não teria a mesma sorte: no dia de Natal de 1591, Thomas Cavendish atacou Santos, antes de se arriscar pelo estreito de Magalhães. Impedidos de atracar no Rio, os holandeses Olivier van Noort, em 1598, e Joris van Spilbergen, em 1614, usaram Ilhabela, em São Paulo, como porto de reabastecimento antes de cruzar o amedrontador estreito e completar a volta ao mundo.
As viagens ao redor do globo iriam adquirir nova dimensão depois que o capitão James Cook partiu de Plymouth, Inglaterra, em agosto de 1768. Levando consigo botânicos, zoólogos e astrônomos - e financiado pela Royal Society -, Cook estava inaugurando a era das grandes expedições científicas. Embora seu navio tenha obtido permissão para abastecer-se de água no Rio, seus tripulantes não puderam desembarcar. O botânico Joseph Banks - um cientista genial - ficou desolado. Teve de se contentar com uma breve excursão pela ilha Rasa, onde foi capaz de recolher 320 espécies, entre as quais orquídeas e bromélias lindíssimas, logo retratadas pelo artista Sidney Parkinson.
As viagens de Cook abriram caminho e a mente do jovem cientista Charles Darwin, cuja obra estava destinada a mudar os rumos da história natural. Em 27 de dezembro de 1830, a bordo do Beagle, Darwin partiu da Inglaterra para uma viagem de cinco anos ao redor do globo. Os estudos que realizou da fauna e da flora de diversas partes do mundo lhe permitiram elaborar a inovadora teoria da evolução das espécies. Embora as ilhas Galápagos tenham tido papel mais importante na elaboração da teoria, Darwin esteve duas vezes no Brasil - em Fernando de Noronha, em Salvador e no Rio -, na ida e na volta da viagem, e impressionou-se profundamente com sua natureza. O primeiro contato com os trópicos se deu em 28 de fevereiro de 1831, quando Darwin desembarcou na Bahia. No dia seguinte, ele anotaria no diário: "O dia passou-se deliciosamente. Mas "delícia" é termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira. A elegância da relva, a novidade dos parasitas, a beleza das flores, o verde luzidio das ramagens e, acima de tudo, a exuberância da vegetação em geral, foram para mim motivos para uma contemplação maravilhada. Jamais poderei experimentar tanto prazer".
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2005. p. 146, 148-149.
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