"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

O impacto das invasões dos “Povos do mar” no Oriente Antigo



Por motivos ainda desconhecidos dos historiadores, na segunda metade do século XIII a.C., povos  provenientes do litoral mediterrâneo da África e Europa - denominados “Povos do mar” -, modificaram profundamente a vida no Oriente Próximo. De acordo com as fontes egípcias, as ilhas "extravasavam os seus povos", "nenhuma terra os impedia de avançar".

Foi um movimento migratório de proporções gigantescas. A penetração na Anatólia se deu de forma violenta. O Império Hitita foi varrido. Alguns se instalaram nessa região; outros prosseguiram para o Leste. Toda a bacia do Mar Mediterrâneo estava em ebulição. As invasões dos dórios na Grécia haviam empurrado as populações do Egeu.

Esses povos guerreiros desceram pela costa do Mar Mediterrâneo até o Nordeste da África. Entraram em contato com os impérios egípcio e hitita. Os “Povos do mar”, guerreiros munidos de armas de ferro, atacaram e saquearam.  Sua cultura era diferente daquela das civilizações imperiais.

É atribuído aos “Povos do mar” a destruição de Chipre e de Ugarit (Fenícia); a Síria foi devastada; Troia foi cercada. Foram detidos no Egito, em 1208 a.C., pelo faraó Merneptah - que fez muitos prisioneiros - e, em 1117 a.C., pelo faraó Ramsés III, que os enfrentou em três frentes no Delta (dois oriundos da Líbia e um do Leste, por terra e por mar).

Uma vez rompido o impacto inicial das invasões, alguns “Povos do mar”, como os filisteus, instalaram-se na região da Palestina; chocaram-se com os hebreus pela disputa das terras; outros retornaram ao mar em direção oeste. Os egípcios viam neles povos oriundos da Ásia e citam diversos nomes.

Ocorreram migrações maciças para a Mesopotâmia; surgiram reinos arameus. Os antigos reinos mesopotâmicos se transformaram em civilizações imperiais.

No fim do século XIII a.C., novas invasões ocorrem: os dórios submetem a Grécia, Creta e a Ásia Menor. A civilização creto-micênica sucumbe: desaparece a realeza, a escrita, os palácios... Os dórios trazem novos costumes (deuses masculinos, cremação dos mortos). Ocorre um êxodo em todo o Mediterrâneo. O Egito sofre com a suspensão do comércio internacional. As populações do Delta revoltam-se e são expulsas: é o Êxodo dos hebreus. 

Na Líbia ocorre outra "invasão" – pacífica - de tribos nômades. Tornam-se mercenários do exército egípcio. A região do Delta prosperou. O Alto Egito declinou. A Núbia torna-se independente.

O contato entre os “Povos do mar” e as sociedades do Oriente Próximo, teve como marcas distintivas a guerra e a conquista. Entretanto, isso significou também trocas de conhecimentos.

MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 27-28.

Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História e Sociedade •●ϟ

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