“A humanidade é uma. As civilizações, muitas”.
(Franz Boas)
Aqui no Brasil demoniza-se as religiões de matriz afro-indígena, o movimento LGBTT, as festas e tradições culturais populares como o terno de reis, a congada, o maracatu, o bumba-meu-boi e tantas outras manifestações que fazem parte de um rico legado cultural da identidade do povo brasileiro.
Importadas dos Estados Unidos, as
igrejas evangélicas, de viés branco, anglo-saxão, acabam tendo seus dogmas “engolidos”, não
questionados, interpretados ao pé da letra e de acordo com os interesses de
grupos que se colocam como os únicos conhecedores das verdades reveladas, não
respeitando outras religiões, particularmente as de matriz afro-indígenas
americanas.
Aqui, em terras tupiniquins, nos
deparamos com que o há de mais retrógrado em termos
de fundamentalismo religioso atuante não só em numerosas igrejas de
denominações evangélicas que se multiplicam assustadoramente a cada dia, quanto
na atuação desses líderes em redes de rádio e TV como no âmbito político.
Nas últimas eleições – em todos
os níveis – vemos aumentar, paulatinamente, o número de representantes dessas
igrejas. A atual composição do Congresso Nacional é extremamente conservadora e
fundamentalista. Pautas retrógradas,
medievais, colocam nosso país fora dos eixos civilizatórios da
contemporaneidade.
Temas como a redução da
menoridade penal, o conceito de família restrito à união de um homem e uma
mulher, pena para professores que abordem temáticas de cunho "ideológico", são exemplos de retrocesso cultural. Em
primeiro lugar não há discurso sem ideologia. Não falar em ideologia é ser
ideológico. E quem propaga ser contra tem ideologia. Ideologia que quer ser
preponderante, única, verdadeira, colocada goela abaixo de toda uma sociedade.
Nosso Estado é, segundo a Constituição de 1988, laico. Portanto, laica devem ser todas
as instituições. E os professores de nossas escolas públicas brasileiras não
podem ser tolhidos de realizar seu trabalho. Como professores de História, Filosofia e Sociologia, por exemplo, abordariam temáticas relacionadas as suas áreas sem trabalhar conceitos pertinentes à sua ciência? Querer transformar o ensino
público em púlpito co-adjuvante de fundamentalismos religiosos intolerantes é
colocar o Brasil em retrocesso milenar. É retornar ao período das trevas
medievais da inquisição. É trazer de volta às praças públicas as fogueiras onde
se queimavam os chamados hereges, as bruxas, os sodomitas, os pagãos, os judeus, os muçulmanos... E é claríssimo o
discurso intolerante da chamada bancada evangélica no Parlamento.
Está mais do que na hora de toda
a sociedade brasileira instruída a dar um basta a essa intolerância. É hora de
todos os profissionais comprometidos com a educação pública de qualidade,
compactuantes da democracia e da liberdade de pensamento e expressão irem às ruas e manifestarem seu repúdio ao retrocesso
político que estamos vivendo. O Estado laico é a garantia de todas as liberdades, inclusive a religiosa.
E é somente através de uma educação pluricultural, voltada à diversidade, aos legados das civilizações, ao humanismo, ao respeito por todos os povos e suas culturas que teremos uma sociedade tolerante, pacífica, harmoniosa. O contrário é as trevas. Já temos o exemplo do atual congresso. Oxalá não se repita nas eleições de 2016 – Legislativos e Executivos municipais – a ascensão de falsos profetas fundamentalistas cristãos. Ou seja, o próprio "dragão vermelho do Apocalipse".
Orides Maurer Jr. é historiador e autor do blog ϟ●• História
e Sociedade •●ϟ
E é somente através de uma educação pluricultural, voltada à diversidade, aos legados das civilizações, ao humanismo, ao respeito por todos os povos e suas culturas que teremos uma sociedade tolerante, pacífica, harmoniosa. O contrário é as trevas. Já temos o exemplo do atual congresso. Oxalá não se repita nas eleições de 2016 – Legislativos e Executivos municipais – a ascensão de falsos profetas fundamentalistas cristãos. Ou seja, o próprio "dragão vermelho do Apocalipse".
MAURER JUNIOR, Orides. Ecos do
tempo: uma viagem pela história. Joinville: Letradágua, 2015. p. 63-64.
© 2015 by Orides Maurer Jr.
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