"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O Conde Maurício de Nassau e suas amantes

Retrato do Conde Maurício de Nassau, Jan de Baen

Um curioso aspecto da presença holandesa no Brasil foi revelado pelo historiador pernambucano Leonardo Dantas Silva: o tratamento que davam às mulheres. Os holandeses comportavam-se de forma mais liberal que os portugueses "no trato da vida do lar e de suas relações em sociedade".

As mulheres holandesas revelavam jovialidade pouco comum às nativas. Baseando-se em escrito do frei Manuel Calado, datado do Recife em abril de 1641, quando o Duque de Bragança, João IV, ascendeu ao trono de Portugal, é ainda Dantas quem mostra que nas festas "se achavam as mais lindas damas e as mais graves mulheres, holandesas, francesas e inglesas, que em Pernambuco havia, e bebiam alegremente melhor que os homens [...]".

Quanto ao adultério, embora punível (holandesas chegaram a ser vergastadas no pelourinho, em público), não era incomum. Dessa prática não escapou o conde João Maurício de Nassau. Segundo o historiador, ele manteve relacionamentos afetivos com várias mulheres, incluindo Dona Anna Paes, mulher de forte personalidade e proprietária do Engenho Casa Forte, que o tratava "de vossa excelência e muito obediente cativa", segundo fórmula da época.

Quando da invasão holandesa, Dona Anna Paes (1612-1678) fora casada com o capitão Pedro Correia da Silva, morto em combate defendendo o Forte São Jorge. Viúva, a jovem Anna, mulher instruída, casou-se com o capitão holandês Charles de Tourlon, oficial da guarda pessoal do Conde de Nassau, mas continuou a viver em seu engenho em Casa Forte. Ainda segundo Dantas Silva, "em 1643, acusado por Nassau de crime de traição, foi Charles de Tourlon preso e remetido de volta à Holanda, tendo falecido na Zelândia em 18 de fevereiro de 1644. Novamente viúva, Anna Paes torna a casar com o conselheiro Gisbert de Wirth, do Conselho de Justiça, em companhia de quem se transfere para a Holanda e aonde vem a falecer em 1672.

O conde de Nassau manteve relações com outras mulheres, como Margarita Soler, jovem senhora "casada com um senhor de engenho, que abandonara o marido, segundo o seu próprio pai, em razão de sua frieza [impotência] e de suas ausências com os seus compromissos matrimoniais". Ela era filha de um espanhol de Valência, o reverendo calvinista Vicente Soler, que fora frade agostiniano e, tendo migrado para a França, adotou o calvinismo.

Das aventuras amorosas de Nassau, Dantas Silva (baseado no historiador José Van den Besselaar), evoca suas ligações com Inês Gertrudes Van Byland, esposa do seu mordomo em Cleve, da qual existe um retrato pintado por Jan de Baen (o mesmo que pintou o retrato de Nassau) no museu daquela cidade da Alemanha: "A vida amorosa de Maurício está por se escrever ainda, e talvez seja impossível reconstruí-la [...]. Maurício, ao contrário de muitos outros príncipes da sua época, não deixou bastardos conhecidos como tais".

Além de mulheres, o conde apreciava também cavalos, com disciplina de colecionador. Na verdade, o conde recebia e estimulava "gentilezas" de moradores, "gentilezas" essas que hoje teriam o nome de propinas...

MOTA, Carlos Guilherme; LOPEZ, Adriana. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora 34, 2015. p. 117-8.

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