"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Os tempos da plantação e da mina na Oceania

Vista do interior do Forte de Honolulu, 1853, Paul Emmert

Após 1850 prolongam-se as atividades de pilhagem. Por sua vez, o Estreito de Torres é cenário de um avanço sobre suas ostras perolíferas e adquire o sinistro cognome de "esgoto do Pacífico". Mas desenvolvem-se novas formas de exploração que, aliás, tem como corolário o recurso generalizado ao trabalho forçado.

A partir de 1835 as Havaí chamam a atenção pelas facilidades oferecidas à cultura da cana. Sociedades americanas compram terras, mandam vir chineses, japoneses, filipinos e, depois, portugueses. As Fidji voltam-se para a produção açucareira, após o malogro do algodoeiro, no qual se haviam fundamentado as esperanças, durante a Guerra de Secessão.

Mas a Oceania é tida, sobretudo, como fornecedora de noz de copra. Fala-se de uma civilização do coqueiro, pois esta árvore garante a subsistência dos insulares, dando-lhes não só alimentação e um licor, mas também o material para a construção da choupana e a matéria-prima para fabrico de toda espécie de objetos. Em muitos arquipélagos os indígenas ganham a vida entregando coco aos seus chefes, que tratam com os mercadores. Dada a falta de mão-de-obra nas Samoa, a firma Godeffroy, de Hamburgo, recorre sem grande êxito a melanésios e a cules chineses; nas Salomão faz-se o recrutamento para as Fidji.

Maior ainda é a falta de braços para a exploração do subsolo. Os baleeiros reconheceram a presença de guano em milhares de recifes, por vezes nus e desabitados, e companhias empreenderam a exploração do precioso excremento: é preciso acostar através dos cachopos, subsistir com víveres levados cada três ou quatro meses de Honolulu e de Ápia, arrastar até os pontos de embarque os sacos cheios de adubo; numerosíssimas são as vítimas entre os polinésios, especialmente nas Fênix. Por volta de 1900 começa-se a falar dos fosfatos de Nauru e de Ocean, onde são introduzidos japoneses. Na Nova Caledônia começa a extração do níquel, do cromo e do cobalto, prejudicada pelas más disposições dos canacas, que não admitem também as expropriações de terras feitas em favor dos colonos franceses para a cultura do cafeeiro ou para a criação; em seguida a uma grave revolta, em 1878, as casas de jogo e de ópio de Hong-Kong e Cantão recebem encomenda de cules.

SCHNERB, Robert. O século XIX: as civilizações não-europeias; o limiar do século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 164 e 167. (História geral das civilizações, v. 14)

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