Muitos autores denominam essas comunidades de pré-históricas. Preferimos chamá-las de comunidades primitivas porque, se a história é história do Homem, a História existe desde o momento que o Homem existe. Além do mais, ainda hoje existem muitas dessas sociedades, apesar dos verdadeiros massacres feitos pelos europeus desde que chegaram à América.
[...] Comunidade primitiva é uma forma de organização social onde a não-existência da propriedade privada dos meios de produção resulta em uma economia comunitária, na qual não há desigualdades sociais.
[...]
No caso das comunidades primitivas, os meios de produção eram constituídos pelos campos, águas, terras, florestas.
Cada comunidade buscava sua auto-suficiência econômica, produzindo suas armas, seus utensílios e objetos diversos, assegurando os alimentos necessários a todos - através da caça, da pesca e da coleta de frutos e de raízes silvestres. O trabalho era estabelecido em função da idade e do sexo dos componentes da comunidade, sendo obrigatório para todos. Aos homens atribuíam-se a caça e a pesca, a construção das habitações cobertas com folhas de palmeiras ou sapés, a confecção de arcos, flechas, tacapes e canoas, e nas comunidades que praticavam uma agricultura rudimentar, a limpeza do terreno através da coivara, que era a queimada de área desmatada.
"É claro que a proteção das mulheres, crianças e velhos era atividade masculina, bem como a realização de expedições guerreiras e o sacrifício de inimigos [...] As mulheres ocupavam-se com os trabalhos agrícolas [...] e com as atividades de coleta (de frutos silvestres, mariscos etc.), colaboravam nas pescarias [...], transportavam produtos das caçadas, aprisionavam as formigas voadoras, produziam as farinhas, preparavam as raízes e o milho para a produção do cauim [...], fiavam o algodão e teciam as redes, trançavam os cestos, cuidavam da cerâmica [...] e dos animais domésticos, realizavam todos os serviços domésticos relacionados com a manutenção da casa ou com a alimentação, e dedicavam-se a outras tarefas como a depilação e a tatuagem dos homens [...], o catamento dos piolhos [...]."
A educação das crianças, ou curumins, era tarefa dos próprios pais: os meninos aprendiam com o pai, as meninas, com a mãe. A menina aprendia a tecer, a cozinhar, a amassar o milho, a carregar água. O menino aprendia a caçar, a pescar, a manejar o arco e a flecha, a caminhar na floresta, a conduzir o barco no rio ou na lagoa... Essencialmente prática, a educação também incluía conselhos e ensinamentos sobre as crenças e as práticas religiosas do grupo.
Grupo de Camacãs na floresta, Maximilian zu Wied-Neuwied
Cada comunidade tinha seu chefe, escolhido segundo critérios diversos. O mais valente, o mais sábio ou o descendente mais próximo do fundador lendário do grupo podia ser eleito ou se sucediam hereditariamente. Mas o chefe - chamado de curaca ou cacique - também trabalhava com os demais componentes da comunidade.
Uma característica importante das comunidades primitivas é que os laços de parentesco se baseavam no clã.
[...] Clã é o grupo social cujos integrantes se julgam parentes por acreditarem descender de um mesmo ancestral. Este ancestral era o totem, que podia ser uma planta, um animal, um objeto, um ser real ou imaginário. O clã podia ser entendido como uma família ampla, embora os laços de parentesco não sejam basicamente consanguíneos.
"Como era proibido o casamento entre membros de um mesmo clã (a não ser nos agrupamentos muito primitivos), os casamentos entre indivíduos de clãs diferentes terminavam por reuni-los em tribos."
Aldeia de índios, ca. 1834-1839. Jean-Baptiste Debret
A reunião de tribos resultava nas federações ou nações, ligadas por vínculos linguísticos, sem constituírem o que se entende politicamente por Estado, poder organizador e repressor. As numerosas comunidades primitivas espalhadas pelo Brasil pertenciam a quatro grandes nações linguísticas:
* os Tupis ou Tupis-Guaranis, localizados ao longo da faixa litorânea (do Rio Grande do Sul ao Pará), além de regiões do Baixo Amazonas, Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia. Alguns autores acham que tupi significa filho de Tupã, o deus do Trovão. Entre outros, os Tupi-Guaranis incluíam os Tupinambás, Potiguaras, Tupiniquins, Tamoios, Tabajaras, Caetés, Carijós, Maués, Jurunas etc.;
* os Nuaruaques, também chamados Aruaques ou Maipurés, que se espalhavam da Flórida (nos EUA) até as Guianas e Antilhas, Bacia Amazônica, Planalto de Mato Grosso, além do Chaco, Peru, Bolívia e Norte da Argentina. Para alguns estudiosos, Nuaruaque significa comedor de farinha. A este grupo linguístico pertenciam os Parecis, os Manaus e Ticunas.
* os Jês, por muitos chamados de Tapuias, embora diversos autores afirmem que a palavra tapuia era usada pelos Tupis para denominar qualquer um dos deus inimigos ou adversários. Habitavam o Planalto Central do Brasil e incluíram os Botocudos, Aimorés, Xavantes, Caiapós, Apinajés, Coroados, Maracás, Timbiras, Bororós...;
* Os Caribas, palavra que é uma corruptela de calinas e significa companheiros. Conhecidos ainda pelos nomes de Caraíbas ou Caribes, habitavam as Antilhas e o Alto Xingu. Entre outros, os Caraíbas compreendiam os Apiacás, Bacairis, Palmelas, Vanás...
"Os índios andavam geralmente nus e costumavam raspar todos os pêlos do corpo. Gostavam de usar enfeites e de se tatuar. Praticavam a poligamia, e alguns chefes de tribos chegavam a ter até dez esposas. As relações sociais norteavam-se por normas de convivência rígidas, e a educação baseava-se no exemplo que os mais velhos davam aos mais moços. Algumas tribos tinham ritos para definir a passagem de uma idade para outra. Por exemplo, adolescentes do sexo masculino ficavam confinados na "casa dos homens", durante meses, para se prepararem para a vida adulta". REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 181-2.
A religião desses grupos indígenas era politeísta, sendo cultuados os astros e as forças da Natureza, como o raio, a chuva, o trovão. O Sol e a Lua constituíam divindades superiores. A prática da antropofagia ritual era realizada em meio a grandes festas e danças, sendo devorados os adversários valentes e apaixonados em combate. Acreditavam em uma vida extraterrena - daí enterrarem os mortos. Em geral, os Tupis sepultavam seus mortos em redes ou em urnas em covas abertas. Os Coroados, do grupo Jê, antes do sepultamento, quebravam os ossos das pernas e dos braços dos mortos. [...]
"Os índios andavam geralmente nus e costumavam raspar todos os pêlos do corpo. Gostavam de usar enfeites e de se tatuar. Praticavam a poligamia, e alguns chefes de tribos chegavam a ter até dez esposas. As relações sociais norteavam-se por normas de convivência rígidas, e a educação baseava-se no exemplo que os mais velhos davam aos mais moços. Algumas tribos tinham ritos para definir a passagem de uma idade para outra. Por exemplo, adolescentes do sexo masculino ficavam confinados na "casa dos homens", durante meses, para se prepararem para a vida adulta". REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 181-2.
Adereços tribais, 1818.
AQUINO, Rubim Santos Leão de [et alli]. Fazendo a História: as Sociedades Americanas e a Europa na Época Moderna. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990.
DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
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