"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Os Toltecas. Os Maias



* Os Toltecas. Por volta do séc. IX, surgiram no México novas culturas, mais militarizadas e bem situadas para se aproveitarem da persistente situação de guerra da região. Entre eles estavam os chichimecas, nômades invasores vindos do norte, e uma outra cultura, mais avançada, conhecida como tolteca, da qual os astecas se diziam descendentes.

Os toltecas entraram no México no início do séc. X e, liderados por Topiltzin Quetzalcoatl, construíram  sua capital em Tollan (atual Tula). De lá, entre 950 e 1150, eles controlaram uma parte do vale do México, Puebla e Morelos. Os locais de imolação adornados com os crânios dos inimigos e os temas de sacrifício humano predominantes em seus baixos-relevos indicam uma cultura de povo guerreiro. Por volta de 1180, tribos inimigas invadiram Tollan, incendiando a cidade e pondo fim ao domínio tolteca no México central. PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 204.


Ruínas de Tollan. Arquitetura tolteca. 

* Os Maias. O conhecimento que se tem da cultura maia baseia-se em pesquisar arqueológicas e no estudo das estelas e dos códigos manuscritos elaborados por esse povo. Os documentos mais antigos são as estelas, monólitos que apresentam um grande número de inscrições e sinais de calendário. Um outro documento de suma importância pela sua antiguidade é a chamada "tabuinha de Leyda", que remonta aos primórdios do período clássico, por volta de 320 d.C. Com relação aos códigos, apenas três salvaram-se da destruição por parte dos conquistadores espanhóis: o de Dresden, o Trocortesiano e o Peresiano. Esses documentos são feitos de cortiça revestida com uma camada fina de cal, onde estão gravadas inscrições e figuras coloridas alusivas ao calendário, a práticas de adivinhação e a rituais religiosos dos maias.

Apenas a terça parte dos textos inscritos nos monólitos já foi decifrada; e no que diz respeito aos códigos, estes carecem de dados especificamente históricos, deficiência em parte compensada pelos relatos que funcionários e sacerdotes europeus redigiram, com base em informações prestadas pelos nativos. Além disso, existem documentos manuscritos em idioma nativo mas com caracteres latinos que datam do período imediatamente posterior à conquista espanhola. Segundo especialistas, tais registros poderiam ser a transcrição de antigos documentos maias que teriam sido destruídos. HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 10-11. Volume 3.

* Os centros cerimoniais. A civilização maia formou-se por volta do século IV, numa região próxima ao oceano Pacífico, na atual fronteira entre o México e a Guatemala. Espalhou-se depois por toda a Guatemala, sul do México, península do Iucatán, Belize e parte ocidental de Honduras. Era constituída por centenas de centros cerimoniais autônomos, que se ligavam por rotas terrestres e fluviais, permitindo uma intensa troca de produtos: obsidiana, jade, plumas de quetzal, cacau, tecidos de algodão, punhais de sílex, peles de jaguar, cerâmica, centre outros. 

Os centros cerimoniais maias não eram exatamente cidades. Eles reuniam os templos, as residências dos governantes, os monumentos políticos e as praças destinadas às celebrações. Neles moravam somente os sacerdotes, os governantes e os servidores dos templos.  Não tinham muralhas nem fortificações. A população vivia em pequenos casebres dispersos pelos arredores e ia ao centro apenas para as cerimônias religiosas e para o mercado.

As construções maias traziam numerosas inscrições com nomes de governantes e datas.  Marcar o tempo era uma grande preocupação de seus sacerdotes, que usavam dois calendários: um religioso, com 260 dias, e um de uso civil, com 360 dias mais 5 dias considerados nefastos. A cada 52 anos, quando os dois calendários coincidiam, começava uma nova era, comemorada com a construção de novos templos sobre os antigos.  RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. p. 118.

Dignitário maia, Campeche, Ilha de Jaina, ca. 600-800. Artista desconhecido

* Economia. Os maias, cuja economia baseava-se na agricultura, dedicavam-se ao plantio do milho. O cultivo desse cereal absorvia apenas 48 dias de trabalho nos campos, permitindo que o tempo restante fosse empregado na construção de centros religiosos, templos monumentais, observatórios astronômicos, plataformas destinadas a danças e jogos e a rituais religiosos sob a direção de uma poderosa classe sacerdotal.  HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 190.

O trabalho na terra era feito coletivamente. As vastas plantações eram irrigadas com o auxílio de sistemas que aproveitavam as águas do rio San Juan e das chuvas. Os maias também praticavam a caça e a pesca com frequência.

No comércio usavam às vezes sementes de cacau ou contas coloridas como moedas. Não só comercializavam produtos agrícolas, mas também mantas de algodão, camisas, jóias e tintas para pintar o corpo.  REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 175.

Um senhor maia proíbe uma pessoa de tocar em um recipiente de chocolate. Artista desconhecido


* As mulheres. As mulheres encarregavam-se dos serviços culinários. Aproveitavam o milho de muitas maneiras, depois de colocá-lo de molho em água e sal e moê-lo. Com esse produto faziam pão, uma pasta muito utilizada na dieta alimentar, uma espécie de leite e até mesmo uma bebida, à qual também misturavam cacau e pimenta.


Cerâmica maia: mulher com criança, Campeche, Ilha de Jaina, ca. 600-900. Artista desconhecido

As mulheres participavam ativamente da vida social. Como assinala F. de Aparício, delas dependiam "o sustento da casa, o pagamento de tributos, a educação dos filhos, a fiação e a tecelagem, bem como o amanho da terra." REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 175-6.

Vaso: mulher maia, ca. 600-900. Artista desconhecido


* Indumentária. Os homens usavam uma faixa de algodão enrolada ao redor do tronco, passando entre as pernas, caindo uma das extremidades para a frente e outra para trás, e um quadrado de fazenda abotoa nos ombros à guisa de capa. Os cabelos eram tonsurados na frente, deixando uma longa cauda cair pelas costas. Até o casamento, o corpo e o rosto eram pintados de negro, depois de vermelho. Os guerreiros pintavam-se de negro e vermelho, os sacerdotes de azul, os prisioneiros de riscas horizontais brancas e pretas. Tatuavam-se e usavam perfumes. Os nobres e sacerdotes apresentavam um aspecto resplandecente: plumas, ornamentos de jade, pingentes de conchas, peles de jaguar, dentes de crocodilo, colares, braceletes e penachos e, para os chefes, as suntuosas plumas da cauda de quetzal, de cor verde-azul irisada.

As mulheres vestiam uma túnica de algodão, bordada com flores, pássaros, insetos; usavam um longo manto; cobriam a cabeça com um pedaço de fazenda. Seus cabelos eram longos. Tatuavam-se e perfumavam-se. MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 43-4. [História geral das civilizações, v. 10]

Pintura mural, Bonampak. Artistas desconhecidos
Foto: Inakiherrasti


* Produção artística. O alto nível de organização social atingido pelos maias revela-se na extraordinária qualidade de sua produção artística; sobretudo nas artes plásticas, em que se verifica uma acentuada preferência pelos baixos-relevos, presentes nas inúmeras estelas produzidas por esse povo. O grau de perfeição alcançado na pintura pode ser observado nos afrescos descobertos em Bonampak, que cobrem as paredes de três recintos de um edifício, dispostos em largas faixas horizontais superpostas. Estas faixas representam cenas de cerimônias religiosas, danças e batalhas, revelando particularidades a respeito das roupas, ornamentos, armas e instrumentos musicais dos maias. História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 16. Volume 3.

Vaso maia: cena de batalha, ca. 600-900, Guatemala. Artista desconhecido

* Festas e guerras. Os maias gostavam de se divertir. Promoviam então bailes que chegavam a durar o dia inteiro, nos quais dançavam e bebiam bastante. O saldo dessas festanças nem sempre era agradável, pois elas resultavam às vezes em brigas violentas e até em mortes. As mulheres apenas serviam bebidas aos homens, não chegando a dançar. Tinham, no entanto, suas festas particulares, quando também se embriagavam.

Festas à parte, os maias eram hábeis guerreiros. Usavam arco e flecha, assim como lanças e machados de metal com cabo de madeira. Protegiam-se com escudos. Quando vencedores, cortavam a mandíbula inferior do inimigo morto para usar como bracelete nas festas e cerimônias. REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 176.

Figura masculina com máscara removível, Campeche, Ilha de Jaina ca. 700-900. Artista desconhecido.


* Legado. Legaram-nos [...] belos exemplos de pintura mural, de cerâmica e de objetos de adorno executados em jade, quartzo e turquesas, os materiais mais preciosos para os maias; desenvolveram um calendário aperfeiçoadíssimo [...] e uma escrita hieroglífica com a qual documentaram acontecimentos históricos, dados de astronomia, rituais, métodos de adivinhação, conhecimentos científicos. HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 190-1.

Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. Volume 3.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974.
MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. [História geral das civilizações, v. 10]
PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002. 

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