"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Brasil dos viajantes: a viagem de Spix e Martius

Lagoa das aves, gravura feita para ilustrar o livro de Spix e Martius

Quando a arquiduquesa Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo veio de Viena para o Rio, em novembro de 1817, já casada por procuração com D. Pedro I, trouxe consigo um grupo de quinze cientistas. Eram os integrantes da chamada Missão Austríaca. D. Leopoldina ouvira falar que D. Pedro era um amante das ciências naturais e imaginou que ele adoraria a ideia. Embora entre as várias paixões de D. Pedro não se incluíssem rochas, plantas e aves, a Missão Austríaca foi um marco na ciência no Brasil - especialmente porque, entre seus membros, estavam o zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Phillip von Martius. A marcha de Spix e Martius pelo interior do Brasil se tornaria não só uma das mais longas já realizadas pelo país como também uma das mais produtivas. Homens de formação humanista, herdeiros intelectuais de Humboldt, dedicados e destemidos, Spix e Martius devotaram os melhores anos de suas vidas ao Brasil. Spix e Martius chegaram ao Rio em 15 de julho de 1817. Depois de quatro meses de deslumbramentos e descobertas numa das mais belas cidades do mundo, partiram para São Paulo no dia 8 de dezembro, dando início à jornada que os levaria a percorrer mais de vinte mil quilômetros ao longo de três anos. De São Paulo, foram para Minas (Mariana, Sabará e Vila Rica, onde realizaram várias pesquisas geológicas), cruzaram o sudoeste da Bahia até Goiás e daí, pelo vale do rio São Francisco, seguiram até Salvador. Depois de uma excursão a Ilhéus, voltaram a Salvador. Então seguiram para Juazeiro, cruzando os sertões de Pernambuco e do Piauí até o Maranhão. De São Luís, seguiram por mar até Belém, de onde subiram o Amazonas até Manaus, onde se separaram: Spix então subiu pelo Solimões até o Peru, enquanto Martius seguia pelo rio Japurá até os Andes. Em março de 1820, os dois se reencontraram em Manaus. Três meses depois, partiram do Rio para a Europa com um dos maiores acervos já reunidos no Brasil. O material botânico, zoológico e etnográfico coletado por Spix e Martius daria trabalho para uma vida inteira. E a ele ambos se dedicaram até o fim de seus dias - sem poder concluí-lo.

[...]

BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2005. p. 150-151.

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