Aquarela Quilombo, Adrien Taunay
"A imaginação mais rica, mais feliz e perfeita nem de longe pode dar conta dos tesouros desta natureza. Quem quer que anseie por motivos poéticos, que vá ao Brasil, pois ali a natureza responde aos seus pendores. Qualquer pessoa, inclusive a menos sentimental, se deseja descrever as coisas como são, ali se transforma num poeta."
O barão Georg Heinrich von Langsdorff era um apaixonado pelo Brasil e pela sua natureza exuberante. Ao descrevê-la fervorosamente, em diários e cartas, tornou-se um poeta, mas enlouqueceu. A expedição que ele convencera o czar de todas as Rússias, Alexandre I, a financiar, em 1825, estava destinada a ser uma das mais ambiciosas que já percorrera o desconhecido interior do Brasil. Três anos e meio mais tarde, ao retornar ao Rio de Janeiro, de onde partira, com apenas doze dos seus 34 integrantes, ela se tornara a mais trágica de muitas missões científicas a penetrar nas florestas e rios brasileiros. Ainda assim, embora o barão nunca mais recuperasse as faculdades mentais, o legado etnológico, botânico e iconográfico da expedição Langsdorff é um dos maiores tesouros científicos do Brasil.
Alemão de nascimento, Langsdorff era cônsul da Rússia no Brasil, onde esteve pela primeira vez em 1803, apaixonando-se pela ilha de Santa Catarina. Voltou ao país em 1820, para fixar residência no Rio, onde adquiriu a Fazenda da Mandioca, que logo se tornou reduto de altas pesquisas agrícolas. Em pleno regime escravocrata, o barão contratou colonos alemães - e os pagava bem. Em setembro de 1825, Langsdorff partiu para sua grande expedição científica pelo interior do Brasil: a aventura custaria 350 mil rublos ao czar e estava fadada ao fracasso. Ao longo de dois anos e dezesseis mil quilômetros, os 34 homens de Langsdorff - entre os quais os pintores Hercule Florence e Adrien Taunay - percorreram a rota das monções, coletando cem mil amostras de plantas. A marcha foi marcada por doenças, febres, suicídios, paixões e lutas ardentes, delírios e descaminhos. Em abril de 1828, o barão enlouqueceu e, em outubro, doze debilitados expedicionários retornavam ao Rio. Por anos a fio, o esplendoroso legado científico da missão ficaria jogado nos porões do museu de São Petersburgo, na Rússia.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2005. p. 152-153.
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