Índios Yalawapiti tocam flauta de bambu. Parque Nacional do Xingu.
Índio é um termo ambíguo, como muitos outros, aliás.
Os espanhóis e portugueses, no século XV, navegavam pelo Atlântico em busca de um caminho para as Índias. Do vale do rio Indo e suas adjacências, vinham produtos muito apreciados - as especiarias - que serviam tanto para temperar como para preservar as comidas em uma época em que não havia geladeiras e refrigeradores. O avanço dos turcos otomanos pelo Mediterrâneo Oriental contribuiu para a diminuição do tráfico oriental, e os ibéricos tomaram a iniciativa de buscar uma rota alternativa para a Índia. Primeiro tentaram pela África, até que Cristóvão Colombo buscou um caminho direto, navegando sempre a ocidente. Chegou ao Novo Mundo, como ficaria conhecido, sem saber que de fato era uma nova terra. Pensou ter chegado ao continente asiático: China ou Índia. Mesmo quando, algum tempo depois, os europeus perceberam que a América era outro continente, continuaram a usar o termo "índio" para se referirem aos habitantes dessas terras.
Outros nomes foram também usados: aborígene, indígena e nativo. São termos mais eruditos, que designam aquele que é nascido em determinado lugar. Termos latinos, os três nomeiam a pessoa original (ab origine) e o nascido em casa (indigena, natiuus). Porém, o nome que se popularizou foi mesmo índio.
Os índios foram, assim, designados por seus conquistadores, pois nunca se chamaram a si mesmos dessa forma antes de 1492. Como se chamavam, então? De milhares de maneiras, cada povo a seu modo, com nomes que podiam significar simplesmente "seres humanos", por oposição aos outros grupos. O caso dos tupiniquins e tupinambás dá uma ideia dessas autodenominações. "Tupi" significa "o ancestral", e então "os descendentes do ancestral" são os tupinambás ("nambá" quer dizer descendente), enquanto "tupinamki" (o nome original dos tupiniquins) quer dizer "o galho do ancestral", em que "galho" possui sentido de ligações de parentesco. Pode parecer muito banal, mas o mesmo processo de nomeação ocorre em outros povos, ainda que não tenhamos consciência do sentido das palavras. Assim como tupi é ancestral, Abraão quer dizer, em hebraico, justamente, ancestral! "Guarani" significa "guerreiro", nome apropriado para um grupo humano que se valoriza, assim como "inca", que na língua quíchua significa "senhor". Podiam ser "bons na caça aos caranguejos", como os guajajaras. Nem sempre sabemos como um povo chamava a si mesmo, mas podemos conhecer como descreviam outro povo, como no caso dos "guarulhos", "os barrigudos", ou os "nambiquaras", "orelhas furadas".
Com o passar dos séculos e com a interação de nativos e colonizadores, o termo "índio" passou a ser usado como um genérico, muitas vezes de forma pejorativa, mas também com o devido orgulho por eles próprios. Em muitos países, os movimentos pelos direitos dos nativos usam o termo índio, ou seus derivados, como o Movimento Índio Peruano (MIP). Há órgãos oficiais como a Fundação Nacional do Índio (Funai), assim como o United States Bureau of Indian Affairs, nos Estados Unidos. Isso significa que "indígena", "nativo" ou "índio" corresponde a uma designação ampla que procura englobar a diversidade de grupos humanos autóctones da América.
Em todo o continente americano, há maneiras muito variadas de definir quem seria índio. No Brasil, segundo estatísticas oficiais, a porcentagem de indígenas é muito baixa, menos de 1% da população, já que no ano 2000, 734 mil pessoas se definiram como índios (0,4%). Mas [...] uma grande parcela da população tem ascendência indígena. Já em países como o Paraguai ou a Guatemala, a maioria da população se define como indígena e fala línguas nativas, como o guarani e o maia, respectivamente. Contudo, mesmo nesses casos, os indígenas estão mesclados geneticamente com os colonizadores europeus, ainda que prevaleça a língua indígena, como ocorre no Paraguai, com 90% de falantes do guarani - idioma oficial do país.
Não existe pureza de origem em nenhum lugar do mundo nem ser índio depende apenas da genética ou mesmo da autodefinição. [...]
FUNARI, Pedro Paulo; PINÕN, Ana. A temática indígena na escola: subsídios para os professores. São Paulo: Contexto, 2011. p. 17-20.
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