Os dois últimos séculos trouxeram
para a alimentação os efeitos combinados da Revolução Industrial, agrícola e
dos transportes, provocando a maior globalização da história alimentar com o
intercâmbio de produtos e a difusão de tecnologias de refrigeração, conservação,
cozimento a gás e elétrico.
Consolidou-se também o intercâmbio
que fez os produtos americanos como o milho, a batata, o tomate, o pimentão e
muitos outros incorporarem-se à agricultura e à culinária europeia, africana e
asiática, de onde, da mesma forma, vieram produtos como o trigo, o centeio, o
arroz e tantos outros que se espalharam pelo mundo, integrando-se às tradições
culinárias locais.
Esse processo dividiu a economia
global em países produtores de matérias-primas, que foram submetidos a regimes
de exploração colonial para sua especialização em monoculturas de exportação
para os países centrais. Assim o açúcar, o café, o chá, o cacau, a carne e
outros alimentos foram concentrados em regiões produtoras periféricas, embora o
consumo maior se realizasse nas metrópoles europeias.
A invenção da lata, em 1804, também
foi uma conseqüência imediata das guerras napoleônicas e da necessidade militar
de garantir abastecimento. Depois disso, a invenção da indústria de refrigeração
permitiu, a partir do final do século XIX, o transporte internacional de carne
em navios frigoríficos. Isso fez países como a Argentina e a Nova Zelândia
passarem a economias de intensa especialização pecuária, começando uma criação
de animais em grande escala. Mais tarde, a pasteurização e as técnicas de
higiene e assepsia também aumentaram a qualidade e a integridade dos alimentos.
Campbells.
Imagem: Balougador
No século XX, a expansão da
eletricidade e do gás na vida doméstica fez com que a cozinha das casas se
tornasse o local de maior influência da Revolução Industrial na vida cotidiana
do lar. Primeiro fogões e geladeiras e, depois, especialmente no segundo pós-guerra,
eletrodomésticos se tornaram bens de consumo de massa.
A descoberta dos fertilizantes
artificiais, no início do século XX, após o uso de insumos como o guano e o
nitrato, e a utilização maciça de agrotóxicos ampliaram enormemente o volume de
grãos produzidos, mas não conseguiram acabar com a fome no mundo, pois as
estruturas de renda desiguais entre os países e em seu interior não permitiam o
acesso dos famintos aos alimentos.
As conseqüências socioambientais
do modelo agroindustrial baseado em grandes unidades de produção extensiva de
monocultura com uso intensivo de insumos técnicos são cada vez mais
preocupantes. A eutrofização (causada pelos fertilizantes nitrogenados) das águas,
a expansão de doenças devido à criação animal intensiva em confinamento (como a
vaca louca e, mais recentemente, as gripes aviária e suína) e o uso de terras
para a produção maciça de forragem animal como a soja, por exemplo, trazem
graves problemas sociais e ambientais. A expansão de um modelo de alimentação
excessivamente rico em gorduras animais, açúcares e carboidratos, com o aumento
exponencial da obesidade, também é uma característica marcante de um modelo
agroindustrial e cultural cujos efeitos são catastróficos para o equilíbrio
ambiental do planeta, devido à busca da produtividade máxima a qualquer custo. O
consumismo voraz e perdulário nos países centrais é associado a pólos crescentes
de miséria e fome nas grandes cidades e nos países periféricos. A alimentação contemporânea
faz parte, assim, de um modelo insustentável que compromete os recursos
naturais e humanos em contradição com as grandes conquistas tecnológicas que
ampliaram a capacidade produtiva.
Henrique Carneiro. Alimentação.
In: BETING, Graziella. Coleção história
de A a Z: [volume] 4: Idade Contemporânea. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p.
8-9.
NOTA: O texto "Alimentação nas sociedades contemporâneas" não representa, necessariamente, o pensamento deste
blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do
conhecimento histórico.
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