"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guerra e tributo na Confederação Asteca

Os Astecas faziam a guerra não para destruir o inimigo e suas riquezas, mas para submetê-lo e desfrutar de parte delas. Uma cidade era conquistada quando, após o cerco, conseguiam capturar o templo dos deuses locais, incendiando imediatamente o santuário do deus tribal. Derrotada a divindade local, o triunfo era atribuído a Huitzilopochtli, supremo deus guerreiro dos Mexicas. A guerra era feita em nome de um deus, mas o desfrute dos tributos – dos quais uma parte era destinada ao deus triunfante – era consumido por seres humanos mesmo, fossem eles sacerdotes, dignatários leigos ou o soberano e sua corte.

Guerreiros astecas, Codex Florentine

Antes de se decidir pela guerra, os Astecas procuravam negociar a submissão da cidade e da região que pretendiam. Somente quando essas negociações fracassavam, é que empunhavam as armas. Obtida a vitória, exigiam o reconhecimento da supremacia de Huitzilopochtli, o pagamento de um tributo e que os derrotados não fizessem pactos com estrangeiros. A cidade derrotada – voltamos a dizer – conservava seus deuses, autoridades locais, idioma, costumes, etc.

A guerra tem, para os Astecas, um caráter sagrado. Mas seu resultado – quando vitorioso – é obter tributos e o começo de uma certa hegemonia política.

* Os tributos a Tenochtitlan. As cifras, que são aproximadas e provavelmente não estejam longe da verdade, estimam que nos últimos anos do Império Asteca chegavam a sua capital e vindos de diversos lugares do vasto território, os seguintes tributos:

Milho
aproximadamente 7.000 toneladas
Feijão
mais de 4.000 toneladas
Chian¹
mais de 4.000 toneladas
Huauthli²
mais de 4.000 toneladas
Cacau
mais de 21 toneladas
Pimenta seca
mais de 36 toneladas
Mel de abelha
1.500 cântaros pequenos
Mel de maguey (planta)
2.512 cântaros
Mantas de algodão
2.079.200 unidades
Henequém³
296.000
Anáguas
240.000
Saias
240.000
Algodão ao natural
4.400 fardos

A esses tributos, deve-se acrescentar outros, cujas cifras não são precisas: armas e pequenos escudos, plumas de diversas aves, lenha, papel, vasilhas feitas de cabaças pequenas, madeira para fabricar flechas, cal, esteiras, cochinilla (inseto do qual se extrai o carmim), acazetl (um tipo de perfume para a boca), copal (goma de uma planta), âmbar, conchas do mar, etc. Isto tudo nos dá uma ideia dos produtos tributados. Não existe o tributo em dinheiro, simplesmente porque ele não era empregado na complexa sociedade dominada pelos Astecas, tal como o conhecemos e usamos.

¹ ² ³ As palavras Chian e Huauthli são indígenas e, ao que tudo indica, foram incorporadas pelo espanhol em sua própria origem, sem ter portanto um correspondente em castelhano. O que se sabe é que elas se referem a plantas. O mesmo acontece com Henequém e a tradução mais aproximada seria feno.


POMER, León. História da América hispano-indígena. São Paulo: Global, 1983. p. 11.

NOTA: O texto "Guerra e tributo na Confederação Asteca" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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