Os druidas trazendo o azevinho, G. Henry E. Horned
Os druidas eram os sacerdotes entre as antigas nações célticas da Gália, Bretanha e Germânia. O que sabemos a respeito deles é tirado dos escritores gregos e romanos, comparado com o que ainda resta da poesia gaélica.
Os druidas combinavam suas funções
de sacerdotes com as de magistrados, sábios e médicos. Colocavam-se, em relação
ao povo das tribos célticas, de maneira bem semelhante à que os brâmanes da Índia,
os magos da Pérsia e os sacerdotes do Egito se colocavam diante de seus
respectivos povos.
Os druidas ensinavam a existência
de um deus, a quem davam o nome de “Be’al”, que segundo os entendidos,
significa “a vida de tudo” ou “a fonte de todos os seres” e que parece ter
afinidade com o Baal dos fenícios. O que torna essa afinidade mais notável é o
fato de os druidas, do mesmo modo que os fenícios, identificarem aquela sua
divindade suprema com o sol. O fogo era considerado como símbolo da divindade.
Os escritores latinos afirmam que os druidas também cultuavam numerosos deuses
inferiores.
Não usavam imagens para
representar o objeto de seu culto, não se reuniam em templo ou construções de
qualquer espécie para a realização de seus rituais sagrados. Seus santuários
consistiam em um círculo de pedras (cada uma das quais, em geral, de tamanho
muito grande), cercando uma área de vinte pés a trinta jardas de diâmetro. O
mais célebre deles é o de Stoneheng, na planície de Salisbury, Inglaterra.
Esses círculos sagrados ficavam,
em geral, perto de um rio, ou à sombra de um bosque ou de um frondoso carvalho.
No centro do círculo, havia o Cronlech,
ou altar, que era uma grande pedra colocada à maneira de uma mesa, sobre outras
pedras. Os druidas tinham, também, seus santuários em lugares elevados, com
grandes pedras ou montões de pedras no alto dos morros. Eram chamados Cairns e usados para cultuar a divindade
simbolizada pelo sol.
Não pode haver dúvida de que os
druidas ofereciam sacrifícios à sua divindade. Há, contudo, certa dúvida a
respeito da espécie de sacrifício que ofereciam, e quase nada sabemos sobre as
cerimônias relacionadas com seus serviços religiosos. Os escritores clássicos
(romanos) afirmam que eles ofereciam sacrifícios humanos nas grandes ocasiões,
como, por exemplo, para obterem a vitória na guerra ou livrarem-se de moléstias
perigosas. César descreve minuciosamente a maneira como isso era feito: “Têm
imagens imensas, cujos membros são feitos de madeira trançada e se enchem com
pessoas vivas. Essas imagens são queimadas e os que dentro dela se encontram
vitimados pelas chamas.” Muitas tentativas têm sido feitas pelos escritores
simpáticos aos celtas para desmentir o testemunho dos historiadores romanos a
esse respeito, mas sem sucesso.
Os druidas realizavam dois
festivais por ano. O primeiro tinha lugar no princípio de maio e era chamado Beltane ou “fogo de Deus”. Nessa ocasião,
acendia-se uma grande fogueira em algum lugar elevado, em honra ao sol, cujo
benéfico regresso era saudado, depois da sombria desolação do inverno. Reminiscência
desse costume perdura até hoje em algumas partes da Escócia, sob o nome de Whitsunday.
O outro grande festival dos
druidas era chamado Samh’in, ou “fogo
da paz”, e se realizava no princípio de novembro, costume que ainda permanece
na região montanhosa da Escócia, sob o nome de Hallow-eve. Por essa ocasião, os druidas reuniam-se em assembléia
solene, na parte mais central da região, para desempenhar as funções judiciais
de sua classe. Todas as questões, fossem públicas ou privadas, e todos os
crimes contra pessoas ou propriedade eram-lhes, então, apresentados, para
apreciação e julgamento. Esses atos judiciais estavam ligados a certas práticas
supersticiosas, especialmente o ato de acender o fogo sagrado, o qual serviria,
por sua vez, para acender todos os fogos da região, que tinham sido, antes,
escrupulosamente apagados. Esse uso de acender fogueiras no dia primeiro de
novembro foi conservado nas Ilhas Britânicas, até muito depois do advento do
cristianismo.
Além dessas duas grandes
festividades anuais, os druidas tinham o hábito de comemorar a lua cheia e,
especialmente, o sexto dia da lua. Nesse dia procuravam o visco que crescia em
seus carvalhos favoritos e ao qual, assim como ao próprio carvalho, atribuíam
peculiar virtude e santidade. Sua descoberta era uma ocasião de regozijo e
culto solene. “Eles o chamam – diz Plínio – por uma palavra que, em sua língua,
significa “cura-tudo” e, tendo feito solenes preparativos para as festividades
e sacrifício embaixo da árvore, para ali levam dois touros inteiramente
brancos, cujos chifres são, então, amarrados pela primeira vez. O sacerdote,
vestido de branco, sobe à árvore e corta, com uma foice de ouro, o visco, que é
recolhido em um pano branco, depois do que se processa a matança das vítimas. Ao
mesmo tempo, dirigem preces a Deus, para que lhes conceda prosperidade.” Era bebida
a água em que o visco fora colocado, tida como remédio para todas as
enfermidades. O visco é uma planta parasita e, como não é frequentemente
encontrada nos carvalhos, o seu encontro se tornava mais precioso.
A druidesa, Odilon Redon
Os druidas eram mestres de
moralidade como de religião. Um valioso exemplo de seus ensinamentos éticos foi
conservado nas Tríades dos bardos gaélicos, e dele podemos deduzir que a ideia
que faziam da inteira moral era justa em seu conjunto, e que eles adotavam e
ensinavam muitas regras de conduta nobres e valiosas. Também eram os cientistas
e sábios da sua época e de seu povo. É discutível se estavam ou não
familiarizados com o alfabeto, embora haja grande probabilidade de que
estivessem, de certo modo. É certo, contudo, que não passaram para a escrita
coisa alguma de suas doutrinas, de sua história ou de sua poesia. Seus
ensinamentos eram orais e sua literatura (se a expressão pode ser usada em tal
caso) preservada apenas pela tradição. Os escritores romanos, todavia, admitem
que “eles prestavam muita atenção à ordem e às leis da natureza, e investigavam
e ensinavam aos jovens entregues aos seus cuidados muitas coisas referentes às
estrelas e seus movimentos, ao tamanho do mundo e das terras e concernente à
força e ao poder dos deuses imortais”.
Sua história consistia em
narrativas tradicionais, em que eram celebrados os feitos heróicos de seus
antepassados. Segundo parece, essas narrativas eram em versos e constituíam,
pois, parte da poesia, assim como da história dos druidas. Nos poemas de
Ossian, temos, senão verdadeiras produções dos tempos dos druidas, pelo menos o
que se pode considerar como fiel representação das canções dos bardos.
Os bardos constituíam parte
essencial da hierarquia druídica. A propósito, observa um autor, Pennant: “Supunha-se
que os bardos eram dotados de poder igual à inspiração. Eram os historiadores
orais de todos os acontecimentos passados, públicos e particulares. Também eram
perfeitos genealogistas” etc.
Pennant apresenta uma descrição
minuciosa dos Eisteddfods, ou reuniões
de bardos e menestréis, que se realizavam no País de Gales durante muitos séculos,
muito depois de já terem desaparecido todos os outros setores do sacerdócio druídico.
Nessas reuniões somente os bardos de valor podiam apresentar suas peças e
somente podiam executá-las os menestréis realmente à altura. Eram nomeados juízes
para decidir o valor dos concorrentes e conferir-lhes os graus adequados. Primitivamente
os juízes eram nomeados pelos príncipes de Gales e, depois da conquista do país,
por designação dos reis da Inglaterra. Conta a tradição, porém, que Eduardo I,
em represália à influência exercida pelos bardos para estimular a resistência
do povo ao seu jugo, perseguiu-os, com grande crueldade. Essa tradição ofereceu
ao poeta Gray o assunto para a sua conhecida ode, “O Bardo”.
Ainda se realizam,
ocasionalmente, reuniões dos amantes da poesia e da música gaélicas,
conservando essas reuniões o seu antigo nome.
O sistema druídico estava em seu
apogeu por ocasião da invasão romana comandada por Júlio César. Aqueles
conquistadores do mundo dirigiram toda a sua fúria contra os druidas,
considerando-os seus principais inimigos. Os druidas, perseguidos em toda parte
do continente, refugiaram-se em Anglesey e Iona, onde encontraram abrigo e
continuaram a prática de seus ritos, agora proibidos.
Mantiveram seu predomínio em
Iona, no litoral e nas ilhas adjacentes, até que foram suplantados e suas
superstições vencidas pela chegada de São Columbano, apóstolo da Escócia que
converteu os habitantes ao cristianismo.
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: histórias de
deuses e heróis. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. p. 333-336.
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