Sob a influência da Igreja, o
termo “fornicação” designava, na Idade Média, toda forma de relação sexual fora
do casamento e não mais, como em Roma, o comércio com as prostitutas. Em termos
de repressão, a união consentida entre duas pessoas livres de qualquer laço
(fornicação simples) era sancionada apenas em foros internos, por penitências
privadas. As formas mais graves de fornicação tais como o estupro (relações,
mesmo que consentidas, com uma virgem, uma freira, uma viúva ou uma doméstica),
o adultério, a violação, o rapto, o bestialismo e a sodomia resultavam em penas
criminais que, dependendo do caso, poderiam ser até de morte. (Jacques Poumarède)
Em termos médicos, filosóficos e
até religiosos, a antropologia cristã se baseou nos saberes antigos, e as
principais ideias do corpus médico greco-latino
permaneciam: o esperma era considerado um sangue puro e o orgasmo, um esforço
difícil. Era importante, portanto, moderar a atividade genésica, que poderia
levar à estupidez. E também conter o desejo da mulher, insaciável, se necessário
acalmá-la por meio de uma gravidez. Havia uma relação entre o prazer feminino,
a normalidade do coito (a penetração) e a finalidade genésica. Além disso, o
prazer intenso era visto como epilético.
Casal homossexual. Relevo. Église de Maillezais.
Foto: Martial34
Médicos e filósofos acreditavam
que a saúde do espírito era inversamente proporcional ao vigor genital. O
desejo era a submissão do ser, uma fonte de desordem e um obstáculo à
sabedoria. O sexo tinha, portanto (como no judaísmo e várias religiões
antigas), uma relação perigosa com o sagrado.
Durante toda a Alta Idade Média,
o modelo conjugal romano-cristão se chocava com as restrições dos clãs, e a uma
poligenia generalizada em toda a aristocracia. A partir do século XI,
lentamente a ordem sexual sonhada por alguns clérigos foi sendo parcialmente
realizada. Mesmo se alguns “arquipélagos” de padres concubinários persistissem,
o clero secular aceitou de bom grado a continência.
Os atos sodomitas heterossexuais –
entre eles o coitus interruptus –
eram praticados, mas a contracepção era reservada a algumas minorias (sobretudo
urbanas) que desenvolveram, sem muita vergonha, a erótica do vestuário, do
corpo e dos encontros carnais. Miniaturas, poemas e romances testemunham esse
erotismo. (Jacques Rossiaud, professor da Universidade Lyon II)
In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 2: Idade
Média. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p.12 e 16.
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