Durante o primeiro milênio, exerceram-se, na Espanha, influências ainda mais diversas que na Itália central. As invasões célticas, vindas dos Pirineus nos séculos XI e VI, provavelmente, e cuja segunda vaga atingiu a Andaluzia, não parecem ter sido muito fecundas, mas o mesmo não ocorreu com a colonização oriental.
Os fenícios, que aparecem no século X e são, depois de Alalia, os únicos senhores no sul e no sudeste, inundam a península com uma infinidade de objetos nos quais não se pode distinguir o que é fenício do que é cartaginês: vasos e bibelôs de terracota, metal, vidro, porcelana, marfim, joias de ouro ou de prata de uma ornamentação muito compósita... Tudo isso, porém, não passa de refugo ordinário, e é curioso que Cartago não tenha deixado mais vestígios de sua duradoura e profunda dominação. Cumpre citar, entretanto, as joias em ouro descobertas em La Aliseda, perto de Cáceres: pingentes e braceletes ornados de palmetas, diadema em filigrana, cinturão formado de placas cinzeladas, todos de uma arte requintada.
A influência grega, antes do florescimento das colônias fundadas por Marselha no curso do século V, deixou muito poucos vestígios: alguns vasos e pequenos bronzes arcaicos [...]. A colonização etrusca, ainda mal esclarecida, pôde servir de intermediária à influência grega na maioria das estatuetas de bronze, nas quais se nota um reflexo do arcaísmo jônico, sob formas um pouco maciças e em estilo rude e provinciano.
Esses diversos fermentos, agindo sobre um velho fundo indígena, despertam uma civilização original que se expande, por volta de 500, até a Ibéria e a Andaluzia. Do Oriente grego, ela recebeu a vinha e a oliveira, lições de metalurgia e de arquitetura; em Tarragona, Gerona, Sagonta e Ossuna, muralhas ciclópicas, que lembram as fortalezas micênicas, protegem cidades recortadas por ruas em ângulo reto; o templo do Cerro de los Santos está construído como um templo grego, com banquetas ao longo das paredes e capitéis de estilo jônico degenerado. A escultura animal é representada por grosseiros quadrúpedes, chamados becerros (bezerros), cerdos (porcos) ou toros, conforme as regiões, que provavelmente ornamentavam as portas ou avenidas; a Vicha de Balazote, touro de cabeça humana, o leão de Nueva Carteya e o de Bocairente são nitidamente inspirados em modelos asiáticos.
Centauro de bronze. Campo de Caravaca, Murcia, Espanha. Objeto produzido na Grécia, século VI a.C.
Entre as representações humanas, cumpre citar os guerreiros dos baixo-relevos de Ossuna, cujo ornamento muito deve à Grécia e as estátuas do Cerro de los Santos, em sua maioria mulheres segurando um vaso sagrado; maciças e de uma rigidez hierática, elas ostentam estranhos penteados, toucados em forma de cone, tiaras, turbantes ou mantilhas, vários vestidos sobrepostos, ornados de passamanarias e borlas, joias de gosto oriental e um amplo manto cujas dobras regulares evocam os panejamentos jônicos. A célebre Dama de Elche apresenta a mesma diversidade de elementos: os pesados colares de pérolas estriadas e os pingentes são fenícios; a mitra pontiaguda e as duas enormes rodas sobrecarregadas de ornamentos que cobrem as orelhas aparentam-se às obras do Cerro de los Santos, assim como as dobras do manto nos ombros; mas o rosto, de um oval um tanto pesado, com seus finos lábios carminados, é uma saborosa mistura de trabalho grego arcaico e de inspiração indígena.
A cerâmica, na Andaluzia, é adornada de linhas paralelas, retas ou curvas, mas na Ibéria, em Elche e em Azaila, empregam-se motivos vegetais ou animais curiosamente estilizados e mesmo combinados para formar pássaros e feras fantásticas. Enfim a Espanha, como a Etrúria, distingue-se particularmente pelo trabalho em metal: joias e fíbulas, ornadas com mais imaginação que gosto de animais fantásticos, braceletes de prata espiralados, diademas de ouro estampado, punhais, espadas e sobretudo os magníficos sabres de Almenidilla, cujos punhos cinzelados de volutas e palmetas terminam por uma cabeça de cavalo ou de dragão.
GABRIEL-LEROUX, J. As primeiras civilizações do Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 112-114.
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