A religião de Zoroastro, que nasceu no Irã talvez antes de 1000 a .C. (da qual restam,
hoje somente 130.000 praticantes, dentre os quais os mais conhecidos são os pársis
da Índia) introduziu ideias novas no mundo das religiões: a da existência de um
princípio do bem e um princípio do mal que se enfrentam (o que denomina-se,
comumente, de dualismo que, através do maniqueísmo, chegará a muitas heresias
cristãs) e a crença de que, no fim da vida, há um juízo em que são pesadas
todas as ações humanas e que, como conseqüência deste juízo, todos os que
merecem têm um céu e os que não, um inferno; ao final do mundo haverá, além do
mais, um juízo geral e uma ressurreição. Essas ideias sobre a sobrevivência
fantasmagórica dos mortos, passaram ao judaísmo e, através deste, ao
cristianismo.
A história do judaísmo é difícil de ser seguida pois os
textos em que nos baseamos, denominados pelos cristãos de Antigo Testamento,
foram compilados e corrigidos muito mais tarde, entre 600 e 100 a .C. Sua religião tinha,
inicialmente, um deus supremo, El, até que os seguidores de Moisés conquistaram
a terra de Canaã em nome de um novo deus chamado Jeová, uma divindade da
tempestade. O reino de Israel foi unificado por Davi, ao redor de 1000 a .C. e seu filho Salomão
construiu, na capital Jerusalém, um templo em honra ao deus supremo Iahvé, o
que impedia que também fossem venerados outros deuses até que, em 600 a .C., surgiu o movimento
que faria de Iahvé o deus único. A religião dos judeus incorporou as ideias de
salvação e de um apocalipse, que seria sucedido por um mundo em paz, somente
depois do exílio da Babilônia: as ideias de raiz zoroástrica que se
desenvolveram nos grupos de Qumran e entre os cristãos, passando a fazer parte
de nosso caudal de crenças. Um aspecto importante da evolução religiosa dos
judeus foi a confrontação entre o conservadorismo do clero do Templo e a atuação
crítica e renovadora dos profetas.
A derrota da resistência judaica à dominação romana iniciou
a longa etapa do judaísmo rabínico em que a religião centrada no estudo do Tora
(Bíblia hebraica e, especialmente, seus cinco primeiros livros, o Pentateuco,
atribuídos a Moisés) e na oração iria converter-se no signo de identidade e o
traço de união das comunidades judias, que reforçaram, por este motivo, a
observação dos ritos e das normas jurídicas compiladas no Talmud.
A diáspora, que dispersou os judeus e espalhou sua cultura,
dividiu a cultura rabínica em dois grandes ramos, a dos askenazies, no centro e
leste do continente e a dos sefarditas, na Península Ibérica, que contribuíram
em grande medida para o florescimento místico da cabala que, após a expulsão
dos sefarditas da Espanha em 1492, alimentou as correntes de esperança messiânica
que culminaram, no século XVII, com o aparecimento, na Turquia, de um homem
nascido em Esmirna em 1626, Sabatai Zeti, que se proclamava o Messias esperado,
abalando as comunidades judaicas europeias.
Após o fracasso do “sabatismo” – o pretenso Messias foi
obrigado, pelos turcos, a converter-se ao Islamismo – as esperanças apocalípticas
que ele alimentara conservaram-se em um substrato cabalístico – sabatista que
influiu nas duas correntes divergentes do haisidismo piedoso e puritano
(nascido na Europa do leste e que tem hoje, seus grupos mais representativos em
Nova York) e do “frankismo”, que combinava o gosto por aspectos esotéricos do cabalismo
com uma preocupação ilustrada (com personagens como Moses Dobruska, um sabatista
que militou com os jacobinos na Revolução Francesa e foi guilhotinado com Danton,
em 1794).
No transcurso dos séculos XIX e XX, as correntes modernizadoras
conduziram, em grande parte, o judaísmo europeu a uma direção secularizadora que
culminara com o sionismo, em que a velha esperança messiânica transformou-se na
vontade política da refundação de um Estado de Israel.
FONTANA, Josep. Introdução
ao estudo da história geral. Bauru: Edusp, 2000. p. 300-301.
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