Mais do que evocar uma união
homossexual, as relações entre homens estavam relacionadas ao que os gregos da
época arcaica e clássica chamavam de paiderastia
[amor para jovens]. A paiderastia,
praticamente uma instituição nos meios abastados da sociedade ateniense, tinha
suas particularidades:
1) A paiderastia implicava uma relação entre um adulto e um país, ou jovem do sexo masculino
suscetível de se tornar objeto do desejo sexual de um homem adulto. O termo país designava uma faixa etária que ia
da puberdade até a primeira barba, entre 12 e 18 anos, aproximadamente.
2) A aparição de uma penugem nas
bochechas de um garoto representava o auge de sua atração sexual, que durava
até a chegada da primeira barba. Um jovem podia ser passivo ou ativo na
relação, mas com parceiros distintos. Um homem feito que continuasse a ter um
papel passivo em uma relação homossexual era zombado pelos outros.
3) A paiderastia era limitada a um período de vida e não estava
associada a uma inclinação por um indivíduo em particular. Esperava-se que o
homem adulto, depois de uma relação homossexual, se casasse.
4) Mesmo quando as relações
pederásticas eram caracterizadas por amor e afeto mútuos, uma assimetria
emocional e erótica subsistia. Os gregos a distinguiam falando do Eros [amor,
desejo] do amante e da philia
[amizade] do amado.
Paiderastia na Grécia antiga. Detalhe de vaso, ca. 540 a.C.
Além da satisfação do desejo
sexual e da busca da ternura, a paiderastia
também servia para garantir a transmissão do patrimônio econômico, social e
político de um homem adulto a um jovem. Supõe-se que na Atenas clássica essas
relações tenham tido um papel social. O adulto teria a incumbência de facilitar
a entrada desse adolescente na sociedade masculina que dirigia a cidade, no
plano econômico e político. Daí decorrem todas as observações sobre a utilidade
da relação homossexual que lemos em Platão, principalmente em Fedro e no Banquete.
Assim como na Grécia, a oposição
entre homossexualidade e heterossexualidade não existia em Roma, pois as
práticas sexuais não eram vistas como um domínio autônomo, desligado do campo
social. Não havia sexualidade sem relação de dominação.
Um homem com barba fazendo sexo anal com um jovem imberbe. Lado A da Taça Warren, século I d.C.
Em Roma, entretanto, um cidadão,
adulto ou adolescente, evitava ter em geral um papel passivo em uma relação.
Isso estava reservado para um não cidadão. Em Controvérsias, Sêneca conta que um escravo alforriado acusado por
ter realizado favores sexuais a seu mestre foi defendido por seu advogado da
seguinte forma: “A passividade sexual para um homem livre é um crime; para um
escravo, uma obrigação; para um alforriado, um serviço”. Vários exemplos na
literatura (como o Satiricon de
Petrônio) mostram que os mestres utilizavam frequentemente esse direito e a
consciência social aceitava isso sem problemas. (Luc Brisson, diretor de pesquisas no CNRS)
In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 1: antiguidade.
Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 22.
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