A repressão brutal de que são vítimas as bacantes de Roma traduz as tensões da política romana no início do século II a.C. O ocorrido revela também a importância dos movimentos religiosos estrangeiros que penetram em Roma de maneira clandestina.
O cônsul Postúmio Albino está realmente embaraçado. Na véspera, um jovem romano de boa família, Ebúcio, veio, sem testemunhas, fazer-lhe revelações surpreendentes. Os propósitos do adolescente são um tanto confusos, mas ele, na verdade, acusa sua mãe e seu sogro de terem querido iniciá-lo nos mistérios de Baco. Ebúcio conta que, quando pôs a par disso sua mulher, a cortesã Híspala, esta logo explodiu em imprecações e denunciou uma maquinação secreta armada contra o jovem. Ela lhe conta que, muito jovem ainda, acompanhou sua ama até o santuário de Baco. No local ela assistiu a toda espécie de infâmias, em particular ao estupro de adolescentes, que são violentados pelos sacerdotes ao som de tamborins e de címbalos. Impressionado com o relato de sua mulher, Ebúcio disse a sua mãe que recusava a iniciação, e seu sogro, exasperado, expulsou-o de casa. O jovem se refugiou na casa de sua tia paterna Ebúcia, que o aconselhou a contar tudo ao cônsul.
É impossível para Postúmio submeter Ebúcio a um interrogatório, por causa de sua qualidade de cidadão. O cônsul manda de volta o jovem para a casa de sua tia e começa uma investigação discreta junto de sua própria sogra, Sulpícia. Esta garante que Ebúcia é uma pessoa irrepreeensível e, a pedido de seu genro, convida a velha senhora à sua casa. Postúmio chega então de improviso na casa de Sulpícia, depois leva habilmente Ebúcio para a residência. Ebúcia, em lágrimas, logo revela que a mãe e o padrasto de seu sobrinho desviaram a herança deste e que, para evitar prestar contas de tutela, tramaram sua iniciação nos mistérios de Baco.
A segunda fase da investigação pode começar. Sulpícia desempenha novamente a intermediária e convida Híspala a sua casa. A cortesã fica aterrorizada ao entrar na casa de Sulpícia: o cônsul, cercado de seus colaboradores e de sua guarda de litores, a espera e a intima a informá-lo sobre tudo o que ela sabe sobre as cerimônias dionisíacas. Sabendo dos castigos infligidos aos iniciados que revelarem os ritos secretos dos mistérios, Híspala começa negando tudo. Postúmio a ameaça, trata-a brutalmente, usa de chantagem. A jovem desmorona e revela finalmente tudo o que sabe das bacantes.
Seu local de reunião é um pequeno santuário construído num bosque sagrado situado aos pés do Aventino, perto do rio Tibre. Durante vários anos, somente as mulheres participaram dos mistérios, três vezes por ano e durante o dia.
Uma nova sacerdotisa, Pacula Ânia, vinda da Campânia, modificou profundamente os ritos. Iniciando seus dois filhos, ela abre o culto aos homens. Doravante as cerimônias ocorrem à noite, cinco vezes por mês. Ela decidiu também não admitir mais iniciados que tiverem ultrapassado os 20 anos. A partir do momento em que os homens e as mulheres se encontram misturados, os mistérios degeneram em cenas de libertinagem, acobertadas pela noite que permite qualquer tipo de licenciosidade. Muitos homens violentam com toda a impunidade os jovens iniciados. Alguns, agitando-se como possessos, proferem oráculos. As mulheres, vestidas de peles de animais e com os cabelos desgrenhados, correm para o Tibre para nele mergulhar tochas ardentes que saem da água acesas. Nas profundezas do santuário estão máquinas infernais, nas quais são jogados aqueles que não querem fazer juramento ou se entregar à libertinagem.
Vários pontos da declaração da Híspala são particularmente inquietantes. Ela afirmou que "não considerar nenhum ato como sacrilégio é nesse meio o ápice da perfeição religiosa". Ora, essa atitude é oposta à religião tradicional de Roma que se baseia numa série de proibições. Híspala revelou também que as bacantes "formam um segundo povo de Roma", pelo número e pela composição social: há homens e mulheres, crianças e anciãos, nobres e escravos. Enfim, escolhendo iniciados extremamente jovens, os bacantes amolecem e pervertem os jovens, futuros soldados romanos.
Postúmio possui os elementos que permitem tornar público o escândalo. Põe em segurança seus dois informantes, depois se dirige ao Senado para revelar o perigo que ameaça Roma. Os senadores decidem pela abertura de um inquérito extraordinário em Roma e na Itália. Os dois cônsules mandam a polícia esquadrinhar a cidade, arrombando todas as portas fechadas. Os sacerdotes dionisíacos são detidos, as reuniões são proibidas. O escândalo das Bacanais, que precisamente mal inicia, vai desencadear uma campanha de repressão com uma violência desconhecida até então.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
É impossível para Postúmio submeter Ebúcio a um interrogatório, por causa de sua qualidade de cidadão. O cônsul manda de volta o jovem para a casa de sua tia e começa uma investigação discreta junto de sua própria sogra, Sulpícia. Esta garante que Ebúcia é uma pessoa irrepreeensível e, a pedido de seu genro, convida a velha senhora à sua casa. Postúmio chega então de improviso na casa de Sulpícia, depois leva habilmente Ebúcio para a residência. Ebúcia, em lágrimas, logo revela que a mãe e o padrasto de seu sobrinho desviaram a herança deste e que, para evitar prestar contas de tutela, tramaram sua iniciação nos mistérios de Baco.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
A segunda fase da investigação pode começar. Sulpícia desempenha novamente a intermediária e convida Híspala a sua casa. A cortesã fica aterrorizada ao entrar na casa de Sulpícia: o cônsul, cercado de seus colaboradores e de sua guarda de litores, a espera e a intima a informá-lo sobre tudo o que ela sabe sobre as cerimônias dionisíacas. Sabendo dos castigos infligidos aos iniciados que revelarem os ritos secretos dos mistérios, Híspala começa negando tudo. Postúmio a ameaça, trata-a brutalmente, usa de chantagem. A jovem desmorona e revela finalmente tudo o que sabe das bacantes.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
Seu local de reunião é um pequeno santuário construído num bosque sagrado situado aos pés do Aventino, perto do rio Tibre. Durante vários anos, somente as mulheres participaram dos mistérios, três vezes por ano e durante o dia.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
Uma nova sacerdotisa, Pacula Ânia, vinda da Campânia, modificou profundamente os ritos. Iniciando seus dois filhos, ela abre o culto aos homens. Doravante as cerimônias ocorrem à noite, cinco vezes por mês. Ela decidiu também não admitir mais iniciados que tiverem ultrapassado os 20 anos. A partir do momento em que os homens e as mulheres se encontram misturados, os mistérios degeneram em cenas de libertinagem, acobertadas pela noite que permite qualquer tipo de licenciosidade. Muitos homens violentam com toda a impunidade os jovens iniciados. Alguns, agitando-se como possessos, proferem oráculos. As mulheres, vestidas de peles de animais e com os cabelos desgrenhados, correm para o Tibre para nele mergulhar tochas ardentes que saem da água acesas. Nas profundezas do santuário estão máquinas infernais, nas quais são jogados aqueles que não querem fazer juramento ou se entregar à libertinagem.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
Vários pontos da declaração da Híspala são particularmente inquietantes. Ela afirmou que "não considerar nenhum ato como sacrilégio é nesse meio o ápice da perfeição religiosa". Ora, essa atitude é oposta à religião tradicional de Roma que se baseia numa série de proibições. Híspala revelou também que as bacantes "formam um segundo povo de Roma", pelo número e pela composição social: há homens e mulheres, crianças e anciãos, nobres e escravos. Enfim, escolhendo iniciados extremamente jovens, os bacantes amolecem e pervertem os jovens, futuros soldados romanos.
Pintura mural da mansão dos Mistérios em Pompeia, século I a.C.
Postúmio possui os elementos que permitem tornar público o escândalo. Põe em segurança seus dois informantes, depois se dirige ao Senado para revelar o perigo que ameaça Roma. Os senadores decidem pela abertura de um inquérito extraordinário em Roma e na Itália. Os dois cônsules mandam a polícia esquadrinhar a cidade, arrombando todas as portas fechadas. Os sacerdotes dionisíacos são detidos, as reuniões são proibidas. O escândalo das Bacanais, que precisamente mal inicia, vai desencadear uma campanha de repressão com uma violência desconhecida até então.
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SALLES, Catherine. (Dir.) Larousse das civiizações antigas 3: das Bacanais a Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 234-235.
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