Texto 1: Mesopotâmia. O rico corpus de poesia erótica da Suméria remonta ao fim do terceiro
milênio a.C. O amor entre o pastor Dumuzi e a deusa Inanna é um dos temas
predominantes nesses textos nos quais o tom parece o da poesia cortesã, embora
alguns deles pudessem ter uso litúrgico, durante cerimônias da união simbólica
do rei, reencarnando Dumuzi com a deusa.
Nesses textos, a mulher expressa
seu desejo e excitação, frequentemente com metáforas bastante claras. A
sexualidade falocêntrica dos deuses masculinos, tal como representada no mito
de Enki e Ninhursafa, ou em Enlil e Ninlil, respondia a uma série de textos nos
quais transparecia o ponto de vista feminino.
Placa de argila da antiga Babilônia. Artista desconhecido. Ca. 1800 a.C. A
placa mostra uma mulher bebendo em um canudo numa jarra enquanto está sendo
penetrada por trás por um homem nu.
Outra categoria de textos, muito
mais concretos, era usada nos rituais médico-exorcistas para problemas de
impotência. Eram os textos mágicos, conhecidos como Shaziga (“interior ereto”).
Um dos rituais para recuperar a potência consistia em fazer três nós em uma
corda de harpa e recitar sete vezes: “Que o vento sopre, que o jardim sacuda”
que as nuvens se reúnam, que a chuva despenque! Que minha ereção seja um rio
transbordante, que meu pênis, estendido como uma harpa, dela não saia!”
Os acádios também tinham uma
poesia erótica. Era mais adoçada, embora às vezes extremamente direta. Assim
como a poesia cortesã suméria, da qual derivava, podia ser associada ao rei.
Em matéria de sexo, os
mesopotâmicos parecem ter praticado de tudo. Mulheres como as naditu (“abandonadas”), devotadas a um
deus, não tinham o direito de procriar, mas sua vida sexual – que, segundo
diziam, era bem ativa – não seguia regras.
A sexualidade era onipresente, e
sua relação com a moral e a religião não causava problemas. Assim, os cultos a
Inanna/Ishtar continham diversas práticas sexuais, até com inversão dos sexos.
Provavelmente os babilônios se divertiriam
bastante ao nos ver hoje, debruçados doutamente sobre sua sexualidade. Assim
como o historiador grego Heródoto, que acreditou que todas as mulheres
babilônicas deviam se prostituir pelo menos uma vez na vida.(Antoine Cavigneaux, professor de
língua e civilização mesopotâmica na Universidade de Genebra)
In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 1:
antiguidade. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 17-19.
Texto 2: Egito. A representação freqüente da nudez, o uso de
sinais diretos na escrita hieroglífica, de amuletos expressivos nos rituais ou
a descrição das relações amorosas nos mitos mostram que a civilização egípcia
teve, em relação ao sexo, uma atitude dissimuladora ou reprovadora. Excessos de
vitalidade e desvios de todos os tipos eram condenados, com os limites impostos
pelos códigos da mora e as proibições religiosas. Os cantos de amor do Novo Império,
por mais íntimos que fossem, descreviam primeiro a troca de olhares, a ardente
espera de um encontro e a perda da razão à medida que o desejo aumentava, sem
deixar espaço para a realização do ato, a não ser por alusão.
Amuleto de masturbação de deus hermafrodita. Artista desconhecido. Bronze.
Período ptolomaico (332-30 a .C.).
As ostraca [cerâmicas] e os papiros, de uso privado, representavam a
obscenidade com poses e refinamentos dos mais diversos, na intimidade do lar ou
em prostíbulos. Documentos da época nos permitem definir alguns elementos de
linguagem e condutas eróticas, a designação do amante intangível, a excitação
causada pelos cabelos femininos soltos.
Como o apetite sexual era
considerado um elemento-chave da sobrevivência da espécie, os egípcios não
deixariam de admitir, em suas concepções religiosos e funerárias, um erotismo
não dissimulado e uma sexualidade às vezes desenfreada. O homem podia
satisfazer seu desejo quanto quisesse, pela multiplicação de parcerias. Nos
mitos cosmogônicos, deuses demiurgos como Atum, Rê, Amon ou Min, apesar de
condenados à autossexualidade em sua solidão primordial, eram deuses itifálicos
por excelência, com vigor permanente. Se eles fraquejassem, as deusas ou
sacerdotisas, com a qualidade de “mão de deus”, tinham o dever de remediá-los
estimulando a virilidade divina.
Objetos cultuais fálicos,
concubinas funerárias e amuletos diversos visavam decorar, no contexto das
práticas religiosas, as incertezas da reprodução humana, para favorecer a
fertilidade. (Michel Baud, pesquisador
associado ao Collège de France)
Texto 3: Grécia. O corpo humano era um dos temas de predileção
da arte grega. O corpo masculino era geralmente representado nu. Já o corpo
feminino, que conheceu algumas figurações nuas de influência oriental (como os
marfins do século VIII a.C.), só foi retratado nu no século IV a.C. e na época
helenística. Antes disso, já tinha sido representado com sugestivas vestes
molhadas (como Calímaco, monumento das Nereidas) ou semiencoberta.
O nu, geralmente um corpo jovem,
apareceu na época arcaica e no começo da época clássica. Durante a época
clássica, nota-se uma tendência ao rejuvenescimento de alguns deuses (Apolo,
Dioniso, Hermes) e a tendência a uma sutileza nas formas, certa androginia nas
estátuas de hermafroditas. Inversamente, os nus femininos representados nos
vasos tinham, no século V a.C., uma morfologia principalmente masculina, talvez
pelo desconhecimento do corpo feminino, que não se mostrava em público, ao
contrário do masculino.
Cena erótica entre um homem jovem e uma hetaira. Artista desconhecido. Cerâmica. Ca. 430 a.C.
A pintura de vasos também era uma
fonte importante para a representação do corpo. Alguns dos vasos usados nos
banquetes eram decorados com cenas de relações sexuais diversas, que podiam ser
divididas em dois grupos: cenas elegantes, com trocas de olhares, e cenas
cruas, nas quais se expressava uma relação de dominação entre um homem
pertencente ao mundo dos senhores e um ser de estatuto servil, apresentado como
simples objeto funcional. (Anne
Jacquemin, professora da Universidade Marc Bloch, Estrasburgo)
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